sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O primeiro que disse


" Mine vaganti/Loose cannons", de Ferzan Ozpetek (2010)

Comédia dramática, dirigida por um italiano descendente de turco.
A história gira em torno de Tommaso , jovem que decide voltar a Lecce, cidade de sua familia, para avisar a eles que é gay. Porem, no jantar, momento escolhido por ele para fazer o anúncio, perante toda a família, o seu irmão mais velho Antonio faz a revelação antes dele, dizendo que também é gay. Isso causa nessa conservadora família um rebuliço tão grande, que o pai tem um enfarto. Antes do enfarto, o pai revoltado, expulsa o filho de casa, renegando-o completamente. Assustado, Tommaso segura a onda, temendo pela saúde do pai. Tommaso é obrigado então a tomar conta da empresa da família, uma fábrica de massas. Comenta então com seu namorado, que mora em Roma, que os planos deles em conjunto deverão ter que aguardar, até a recuperação do pai.
Assim, Tommaso toma dianteira na fábrica, a contra-gosto, uma vez que seu sonho profissional é de ser escritor. Ele conhece Alba, a filha do sócio da empresa, que acaba virando sua confidente. Morando com a sua família , ele vai se inteirando da maluquice reinante. O espectador descobre que cada integrante da família possui um segredo, principalmente a avó. Em flashbacks, vemos o conflito dela, apaixonada pelo cunhado, mas obrigada a casar-se com o marido. Ela é a voz da razão, a única que sabia da homossexualidade dos netos. A sua generosidade e compreensão porém, não são suficientes para redimir o conservadorismo reinante.
As passagens mais engraçadas do filme se dão quando 4 amigos dele ( um deles é seu namorado) , todos gays, resolvem passar um dia na cada da família. Porém, precisam acobertar o fato de que são gays,e isso provoca piadas maravilhosas. Claro, tudo bem caricatural, mas mesmo assim, engraçadissimas.
Apesar do tom de comédia que reina no filme, o drama tambem se faz presente, através do dilema moral de Tommaso, sua relação com Alba, a quem se afeiçoa, e a história da avó. A parte cômica fica com os outros familiares, os amigos gays e a amante do pai.
A trilha sonora é recheada de canções italianas cultuadas pelo público gay, e tem uma piada envolvendo uma música da Barbra Streisand que é dos momentos mais engraçados do filme.
Vale como diversão, com uma pitada de entretenimento inteligente, e pelo elenco divertido, levemente inspirado em tipos Almodovarianos. Mas com a diferença de serem italianos, e aí, é confusão na certa. A cena final é bem comovente, com a junção de personagens atuais e do flashback.

Nota: 7

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Trabalho Sujo



"Sunshine Cleaning", de Christine Jeffs (2009)

Drama com toques de comédia de humor negro, realizado pelos mesmos produtores de "Pequena Miss Sunshine".
Assim, como o outro filme, essa também é uma produção independente, que inclui um elenco de primeira grandeza que aceitou participar do projeto pela sua humanidade e afeto com seus personagens inquietantes.
A história gira em torno de Rose (Amy Adams), mãe solteira, que trabalha como faxineira em casas de luxo. Ela sonha com a vida cor de rosa de suas clientes, e se frustra pelo seu fracasso profissional e pessoal. Rose tem um filho pequeno, que sofre em sua escola pelos maus tratos causados por outros colegas. Rose resolve tirá-lo da escola e botar em uma escola particular, apesar de não ter dinheiro para arcar com os custos. Rose tem um amante, um policial casado, que a ajuda em suas despesas. Ambos se encontram furtivamente em um motel.
Rose tem uma irmã caçula, Norah ( Emily Blunt), que trabalha como garçonete e odeia o seu trabalho. Ela faz um estilo maluquete, que combina com o estado de espírito de seu pai Joe (Alan Arkin), com quem ela mora. Alan Arkin aqui, repete um pouco a personalidade do avô que ele interpretava em " Pequena Miss Sunshine". É quase que uma continuação do mesmo personagem carismático.
Para aumentar a renda , Rose aceita um trabalho que seu amante lhe indica: limpar cenas de crimes. Em principio relutante, ela pede a ajuda de Noah. Ambas inseguras no início, acabam fazendo sucesso na empreitada ( o que é curioso, pois o sucesso depende da morte e da violência locais). Esse trabalho acaba trazendo à tona a lembrança da mãe das meninas, que descobrimos mais tarde ter se suicidado. Quando pequenas, elas chegaram em casa e encontraram a mãe ensanguentada, do mesmo jeito que elas encontram as cenas dos crimes que elas precisam limpar. As duas meio que escondem essa profissão dos conhecidos, por ser algo inusitado para os padrões provincianos da região onde elas moram.
Justamente essa camuflagem das meninas em esconder sua profissão é que geram a parte cômica dessa triste e melancólica história.
O filme todo tem um tom bem baixo astral, assim como " Pequena Miss Sunshine"; Aliás não sei dizer se a palavra " Sunshine" foi oportunisticamente colocada no título, fiquei com essa impressão. Os personagens são " losers" , assim como no outro filme: lutam pelo seu espaço , mas sempre enfrentam adversidades. Mas resistem bravamente, e são sonhadores.
É essa a moral do filme que me encanta: a que, apesar de toda e qualquer baixa, jamais deveremos nos esmorecer, e sempre lutar por um ideal.
O filme me remeteu ao japonês " A partida", mas claro, com devidas proporções. No filme japonês, o jovem encontra a cena da morte e prepara uma celebração para a passagem para a nova vida. Aqui, as meninas encontram a cena da morte e apenas limpam, com muita dificuldade o local, para deixà-lo apresentável. Os mortos, nem os vemos, apenas os seus rastros de morte.
A fotografia é suave, a trilha emocionante. O roteiro é bem construído, e trabalha bem a transição entre os gêneros drama, comédia e romance, com pinceladas de humor negro.
Um filme tocante, com excelente interpretação de todo o elenco, e que tem um desfecho lindo, esperançoso, em aberto. Palmas para Amy Adams e Emily Blunt, sensíveis em seus personagens.

Nota: 8

O Bom Coração


" The good heart", de Dagur Kári (2009)

Drama dirigido pelo Islandês Dagur Kári, que dirigiu o filme aclamado pela crítica mundial " Abino Noi", nunca lançado aqui no Brasil.
O filme narra a história de Lucas (Paul Dano), um jovem morador de rua, que decide se suicidar. Porém, sua tentativa não foi bem sucesida. Ele acorda em um leito do hospital, e lá, ele percebe que divide o quarto com Jacques (Brian Cox), um velho rabugento, beberrão e que amaldicoa a todos, dono de um bar (Jacques sofreu seu quinto infarto).
Jacques se afeiçoa a Lucas e o convida a trabalhar no seu bar, com a intenção de que ele o suceda na administração do comércio.
Jacques dá um banho de loja no garoto: corta cabelo, compra roupas. Logo, Lucas vai compreendendo o universo de Jacques: ele trabalha sozinho no bar, tendo como cozinheiro um chines budista. Ele não atende mulheres, e só atende clientela fixa. Tem lá suas manias. É um velho rabujento,e quer que Lucas siga estritamente as suas orientações, jamais se afeiçoando a clientes nem puxando assunto. Até que um dia, surge April, uma ex-comissária que tem medo de voar. Lucas a a comoda em segredo no bar. Jacques descobre que ordena que Lucas a expulse. Lucas se recusa. Aos poucos, a briga entre os dois vai dando lugar a uma relação de compreensão mútua e de mudança de personalidade: Lucas , que até então era ingenuo e humano, vai se transformando na personalidade de Jacques. Esse, por sua vez, por ter um coração fragilizado ( ele espera por um transplante de coração) vai se humanizando.
A cópia exibida no Espaço de cinema está em péssimo estado, a fotografia estava muito escura e sem definição. Logo, não pude fazer comentários técnicos a esse respeito.
O roteiro é interessante, criado como se fosse uma fábula, já que situações são forçadas para os personagens estruturarem o seu encaminhamento. Uma lição de moral, com um desfecho até previsível, mas não menos emocionante.
Os atores, em especial Brian Cox e Paul Dano estão excelentes. A narrativa, lá pro meio, vai perdendo ritmo, se arrastando. Mas possui bons momentos de encantamento, que fazem valer ser visto. No final, fica uma sensação de melancolia, um belo conto de personagens simples e sinceros.

Nota: 7

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O Ultraje


"Autoreiji/Outrage", de Takeshi Kitano (2010)

Retorno do cineasta japonês aos filmes de gangsters. O seu último no gênero foi " Brothers", de 2000. De 2000 a 2010, Kitano se aventurou em filmes mais artísticos, alguns consagrados, outros desprezados pela crítica, entre eles: " Dolls", " Zatoichi", " Takeshis" e " Glória de um cineasta", esse último, um dos filmes mais bizarros que já assisti.
Aqui em " O ultraje", Kitano narra a história de uma facção poderosa da yakuza, sub-dividida enttre vários pequenos clãs. O Presidente arma e instiga a morte entre essas facções, de forma que ele fique mais centralizado em seu poder. O filme discorre sobre traições, vinganças, motes típicos em um filme de gansgter.
O filme é composto de cenas fragmentadas, quase sempre revelando as verdadeiras facetas dos personagens. Coppola já ensinava em " O poderoso chefão" que nesse meio de bandidos, não se confia na própria família.
Como sempre, quando trabalha com trama policial, Kitano investe pesado em mortes e sangue. As situações bizarras de assassinatos envolvem Hashis ( pauzinho para comer), facas, estiletes, até mesmo um obturador de um dentista. Atenção, se você é sensível a sangue, saia imediatamente de perto de algum cinema que esteja exibindo o filme: é pesadíssimo, algo semelhante a " Ishi, o Assassino", de Takashi Miike, um dos filmes mais violentos sobre gangsters que já assisti.
A direção de Kitano é segura, tecnicamente impecável: fotografia, trilha incidental, som, figurino dos famosos homens de preto da Yakuza. O ritmo é lento, e vai caminhando assim, até seu final brutal. Kitano nos convida a assistir o cotidiano violento e aparentemente sem sentido dos bandidos, que quase sempre resvala para um banalismo, qualquer coisa é motivo para se bater ou matar alguém. Os personagens falam aos gritos e se xingando.
Kitano também expõe a corrupção policial. Nada inovador, mas diverte: as mortes geralmente são seguidas de alguma gag visual, o que amortece a tensão criada pelas torturas. Uma observação à parte: curioso notar como até hoje, a mulher é mostrada de forma subserviente e sem vontade própria. Elas são maltratadas o tempo todo no filme.
Exibido no Festival de Cannes em 2010, o filme teve recepção dividida entre os críticos.

Nota: 7

O mestre das marionetes


" Hsimeng Rensheng /The Puppetmaster" de Hou Hsiao Hsien (1993)

Filme visto na Mostra dedicada ao mestre Hou Hsiao Hsien, que acontece no CCBB.
Esse filme é um dos mais aclamados pela crítica mundial da obra do cineasta. Fui assistir com bastante expectativa.
O filme narra a história de Li Tienlu, um manipulador de marionetes, que faz narração das operetas apresentadas ( algo como Teatro de fantoches, mas mais dramático, incluindo pequena orquestra que toca em conjunto com a narração).
O filme mostra paralelamente a narração do Li Tienlu real, em formato documentário (Às vezes ele surge em cena narrando, as vezes a narração vem em off por sobre imagens).
" O mestre das marionetes" é um épico que abrange desde a infância dele, que começa em 1909, e vai até o período da dominação japonesa na Ilha de Taiwan, que durou 50 anos, terminando no pós guerra, justamente a fase apresentada no filme.
O filme é um épico, e mostra o cotidiano da família de Liu: seu pai intransigente, a morte de sua mãe, a sua madrasta aterrorizante, e muitos outros fatos que influenciam na infância do protagonista, até o momento que ele começa a trabalhar, ainda criança, num teatro de marionetes. Liu se apaixona por sua profissão, o dinheiro ganho vai todo para a sua família.
Confundindo a vida particular de Liu com a vida política da Ilha de Taiwan, sob dominação japonesa, Hou Hsiao Hsien faz um relato ambicioso da trajetória de seu país.
Aqui, ele conduz com muiuto rigor estético a sua forma de filmar: basicamente planos fixos, abertos, sem decupagem. Toda a cena acontece num mesmo plano aberto, não tem detalhes nem closes. Um olhar distanciado de um observador, como se fossemos testemunhas de tudo o que acontece. As paisagens são maravilhosas, o trabalho dos atores é ótimo.
A cópia apresentada na mostra era em dvd, e estava em péssimo estado. A fotografia muito escura.
Apesar de tantos elogios, o filme me cansou. É longo, quase 2:30 de duração. A narrativa as vezes é confusa, são muitos personagens apresentados, e tem hora que eu não sabia quem é quem.
Se eu tiver a oportunidade de rever esse filme em tela grande, cópia nova, talvez eu tenha uma outra impressão dele. Mas a que eu vi, agora na mostra, é aborrecida. Chato.

Nota: 6

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Anfetamina


"Anphetamine", de Scud (2010)

Drama com temática gay, sobre um funcionário que trabalha em um banco em Hong Kong , Daniel, e que se apaixona por um professor de educação física Kafka. O problema, e grande motivo de conflitos na cabeça de Kafka, é que Daniel é assumido sexualmente, além de bem sucedido, e Kafka é hetero e pobre, tendo que sustentar sua mãe e a si mesmo. Kafka namora uma jovem, e os dois possuem um passado negro que teimam em esconder de todos.
Daniel faz de tudo para agradar Kafka, sabendo que ele jamais aceitará uma união baseada em amor, pois não aceita relação sexual. Daniel entende então que tudo o que pode oferecer a ele é afeto, e sustentá-lo financeiramente. Porém, Kafka é viciado em anfetaminas, justamente para bloquear seu trauma, que mais tarde, descobrimos: tempos atrás, ele salvou sua namorada de ser violentada por um grupo de marginais, mas aí ele mesmo acaba sendo vítima do estupro.
O filme discorre basicamente nesse conflito moral de Kafka, em não aceitação do amor pleno que Daniel tenta fazê-lo acreditar. Daniel entra então em crise, e não sabe se mantém essa paixão por Kafka ou se volta para a Austrália, local onde ele mora. A crise financeira de 2008 chega e é mais um momento para Daniel avaliar sua vida, apesar de sua imensa paixão pelo Professor.
O drama tem uma estética anos 80, com muitas cores, neons. A trilha sonora é interessante, recheada de eletrônico. A montagem é estranhissima, mas dá para abstrair, os personagens são imaturos, agem com impulsividade. É quase uma fábula melancólica, sobre um amor bandido. Porém, me pareceu meio descontrolado esse amor de Daniel por Kafka, chega a irritar.
O filme tem também cenas de realismo fantástico, projeções da mente de Kafka em seus momentos de delírio. Mas essas cenas beiram o mau gosto e a breguice.
Os atores tentam o seu melhor, se expôem (passam boa parte do filme nús), mas é um filme irregular. Tem momentos interessantes interagindo com momentos de fragil dramaticidade, de melodrama barato.
Vale como curiosidade para conhecer filmes de temática gay de Hong Kong, que costumam ser bem ousados.

Nota: 6

domingo, 26 de dezembro de 2010

Eu sou o Amor


" I am love/Io sono L`amore", de Luca Guadagnino (2009)

Drama italiano, co-produzido pela atriz Tilda Swinton, também protagonista do filme.
Roger Ebert, famoso crítico americano, considera esse um dos 10 mais importantes filmes de 2010.
Escrito e dirigido por Luca Guadagnino, o filme tem fortes referências ao cinema de Luchino Visconti, principalmente " O leopardo".
Uma família aristocrática , da indústria textil, tem uma matriarca russa, radicada em Milão, casada com o filho do Dono da empresa. Emma (Tilda Swinton) é essa mãe, e possui três filhos adultos, dois homens e uma mulher. No longo prólogo do filme, uma cena de banquete na mansão da família, o velho dono da empresa passa a bola da fábrica para seu filho Tancredi , casado com emma, e para seu neto Edoardo. Essa divisão da sociedade da empresa causa comoção na família, uma vez que o sonho de Edoardo é montar um restaurante com o seu amigo Antonio, jovem chefe de cozinha.
Emma se interessa por Antonio, e a atração mútua entre ambos provoca um furor insustentável. Emma , apesar de matriarca da família, sente-se isolada, uma vez que as tradições a fazem se sentir fora do ambiente familiar. Sua companheira de conversa acaba sendo Ada, a empregada, que entende o passado proletario de Emma, quando morava na Russia.
O filme faz um grande discurso sobre a podridão que existe no ambiente familiar, principalmente nas tradicionais. A filha revela-se para a mãe como lésbica, e a mãe aceita imediatamente. Essa liberdade da mãe e a revelação da filha a fazem seguir adiante na coragem de investir numa relação extraconjugal com Antonio. Porém, o que ela não esperava, era a reação negativa do filho Edoardo, ao descobrir que a mãe tem um caso com o amigo.
Apesar de não ser revelado no filme, fica a impressão que Edoardo tinha um caso de paixão platônica pelo amigo cozinheiro, o que é bem pertinente.
Assim como nos filmes de Visconti e Fassbinder, as velhas tradições mostram-se fracassadas e verdadeiras farsas, uma vez que, ao descobrirmos as verdades que existem dentro da fachada trivial das relações entre as pessoas, o que vemos é desamor e frustração.
Tecnicamente, o filme é impecável: a fotografia deslumbrante, a trilha sonora épica, as locações maravilhosas em Milão e Sanremo. O filme tem uma narrativa fria, distanciada. Parece um registro documental visto por um terceiro. O filme tem cenas belísssimas: a transa de Emma e Antonio no campo é magnifica, parece pintura. A cena que ela o persegue pelas ruas de Sanremo também é belamente conduzida, sem diálogos, apenas imagens.
Um filme curioso, e com uma interpretação poderosa e minimalista de Tilda Swinton, que aprendeu italiano com sotaque russo.
Atenção, após os créditos finais, ainda existe uma cena .

Nota: 8


Terça-feira, depois do Natal


" Marti, dupa craciun/Tuesday, after Christmas", de Radu Muntean (2010)

Drama romeno sobre um triângulo amoroso que envolve um pai de família, que se encontra secretamente com a dentista de sua filha pequena.

Radu Muntean adora discutir sobre relações familiares, pirncipalmente casais em crise. Seu filme anterior, " Boogie", já tinha essa temática do ciúme.
Aqui, o protagonista Paul, bem sucedido e classe média alta, é casado com Adriana, e tem uma filha adolescente. Vivem felizes. Porém, a sua felicidade reside também nos momentos que ele passa com Raluca, a dentista de sua filha. Seus encontros acontecem no apto de Raluca.
O filme começa com um longo plano sequência, mostrando o casal Paul e Raluca em suas intimidades. A partir dái, o filme mostra essa vida dualizada de Paul, feliz nas duas vidas que leva. Porém, o Natal se aproxima, e a cobrança do vínculo familiar, tanto de uma mulher quanto a outra, lhe atormenta, e ele resolve contar a sua esposa o seu caso com a amante.
Dito asim, o filme parece simples. E é. Simples na sua forma de contar a narrativa, simples como a vida cotidiana. Radu faz um registro da rotina dos três personagens, como se documentasse tudo, com uma câmera escondida. Não há cortes nas cenas. São todos planos sequencia, longos, que duram pelo menos uns 10 minutos cada um. Planos médios, sem closes, nem detalhes. A impressão que temos é que fazemos parte de um realitty show, acompanhando a vida das pessoas , através de um olhar distanciado. Esse recurso utilizado por Radu é maravilhoso. Os atores, todos excelentes, mostram maestria ao interpretarem personagens tão complexos, e ao mesmo tempo, simples. Não há momentos de histeria, tudo é bem minimalista. Até mesmo o surto de Adriana, quando o marido conta seu caso, é discreto. A direção de atores no filme é um deslumbre, me lembrando bastante os filmes de Cassavetes, pioneiro ao mostrar as relações desgastadas dos casais, em registro de cotidiano da vida.
Curioso notar como a cinematografia romena tem se valorizado nos últimos anos, trazendo filmes
impressionantes para o mundo, de um País onde até então o regime comunista proibia temas hoje tão abertamente discutidos nos filmes de lá. Inclusive o filme apela bastante para a nudez. Interessante também perceber o quanto o capitalismo e o mundo do consumismo já invadiu a pobre Romênia, considerado um dos Países mais pobres da Europa, e que pelo filme, parece estar aprendendo bem os caminhos da superação: iphone, carros luxuosos, lonjas de departamentos.
Um filme muito interessante, mas para cinéfilos. espectadores comuns podem achar insuportável. Uma cena em si é antológica: no consultório da dentista, todos os personagens de fazem presente: paul, Adriana, Raluca e a filha pequena do casal. O casal de infiéis, e a esposa que nada sabe. Uma cena forte, de interpretação.
O filme termina de repente, forçando o ponto de vista do cineasta de querer apresentar apenas um trecho da vida de seus personagens. E a vida continua...

Nota: 8

Alzheimer Case


" De Zaak Alzheimer/The memory of a killer", de Eri Van Looy (2005)

Drama policial produzido na Bélgica.

Em Marselha, Angelo,um assassino de aluguel quase aposentado é contratado para uma última missão. Ele não quer aceitar, devido ao seu estado de saúde ( ele é portador do mal de Alzheimer), mas o seu contratador força a barra. ele acaba indo para a Antuérpia, na Bélgica, fazer valer a sua missão.
Chegando lá, ele mata a sua primeira vítima, um funcionário do alto escalão. Ao se aproximar de sua segunda vítima, ele dá pra trás: descobre que é uma menina de 12 anos, prostituta. Quando ele vai tomar satisfações com seu cliente, diz que se recusa a matar menores de idade. O cliente se irrita, mand aum outro assassino matar a menina e ir atrás de Angelo, para matá-lo também. Angelo resolve se vingar, indo atrás de seu cliente e matando todos que estão em seu caminho. Enquanto o tempo vai passando, ele vai se esquecendo das informações, e vai anotando tudo em seu braço.
Paralelo, temos a história de 2 detetives que tentam descobrir a história por trás de todos os assassinatos, e o detsino abaca cruzando o caminho deles com o de Angelo.
O filme é interessante, tem uma boa dinâmica, bons atores. Tecnicamente é correto, boa fotografia, som, trilha sonora. Faz uma crítica a corrupção na polícia e na política. Não traz nada de novo, apenas uma história bem contada, porém longa, com 2 horas de duração. Poderia ter uns 20 minutos a menos, chega uma hora que você acha que o filme acabou e não, ele vai para um outro desfecho. Daí perde o bom ritmo que tinha até então.
Durante o filme, me lembrava o tempo todo de 2 outros filmes, com referencias bem explicitas: " Amnésia", por motivos óbivos, e " O estranho", de Soderbergh, como Terence Stamp, interpretando um assassino de aluguel aposentado que quer descobrir o paradeiro dos assassinos de sua filha.
Vale como curiosidade para ver um filme policial belga, com forte influencia do cinema de Hollywood.

Nota: 7

sábado, 25 de dezembro de 2010

O Concerto


" Le Concert", de Radu Mihaileanu (2009)

Delicioso drama francês com toques de comédia, as vezes beirando o pastelão, sobre um ex-maestro do Teatro de Bolshoi que atualmente trabalha como faxineiro no próprio teatro.
Andrei Filipov (Aleksey Guskov) foi maestro até 1980, quando foi denunciado pelo Governo Comunista de Brejnev de ser favorável a causa dos judeus. Acabou sendo rebaixado, e Andrei guarda mágoas. Um dia, ele recebe um fax endereçado ao teatro de Bolshoi, solicitando a presença da orquestra no teatro de Chatelet, em Paris, num prazo de 15 dias. Ele resolve , secretamente, assumir uma orquestra, e voltar a reger. Para isso, ele precisa arregimentar os antigos companheiros de orquestra ( a maioria em decadência), e alguns desafetos. Convida também uma famosa solista de violoncelo, Anne Marie (Melanie Laurent, a Shoshana de " Bastardos inglórios"), que mora na França, e apenas ele sabe do passado que os une.
O filme mistura vários gêneros: drama, comédia, romance. Tem momentos de puro humor, eu mesmo ri várias vezes ao longo da projeção. E risos escancarados, pois o que o filme tem de bom, é não temer cair na gaiatice. Algumas cenas beiram o pastelão ( como o ataque dos mafiosos russos numa festa de casamento), mas nem mesmo isso tira o brilho do filme.
Lá pela metade de " O concerto", o filme tende a virar um melodrama, através dos flashbacks que envolve os pais de Anne Marie. Mas os atores estão todos tão bem, que dão a volta por cima de qualquer diaáogo que beira a pieguice.
Os personagens em sua maioria são caricatos, principalmente os músicos, que envolve inclusive um velho judeu, hilário; um cigano, divertidíssimo e um velho comunista.
A trilha sonora, composta de peças de Tchaykovski, é linda.
O filme perde o ritmo em alguns momentos, algumas cenas são excessivas, mas no geral, é um belo filme que merece ser visto, tanto pelo seu caráter edificante da trama, quanto pela curiosidade de se ver uma Rússia moderna, mas com ares da época do comunismo.
Ótimo também para rever a atriz francesa Miou Miou, ícone dos anos 70 e 80, e que andava sumida das telas.
A sequência final , no teatro, é linda, e comove qualquer espectador mais carrancudo. Ficamos com a impressão de ter visto uma bela fábula musical.

Nota: 8

O túmulo dos vagalumes


" Hotaru no haka/ Grave of the fireflies", de Isao Takahata (1988)

Anime japonês, foi lançado em sessão dupla nos cinemas do Japão junto com " Meu vizinho Totoro", de Hayao Myasaki. Acabou sendo suplantado pelo filme de Myasaki, devido ao seu forte teor dramático, que espantou parte do público, que esperava algo mais de entretenimento.

" O túmulo dos vagalumes" é um dos filmes mais emocionantes que já vi, e olha que o filme é animação. A constante tragédia e melancolia que percorre o filme deixa o espectador baqueado, em constante clima de tristeza.

Seita ( 14 anos) e Setsuko ( menininha de 4 anos) são dois irmãos que moram em um vilarejo do Japão da 2a guerra mundial. Seu pai foi lutar no front, e nunca mais voltou. Durante um bombardeio dos americanos, a mãe deles é fatalmente atingida, e vem a falecer. Os dois irmãos precisam então, lutar pela sobrevivência. Vão morar com a tia deles, que de início os recebe bem, mas logo com o desenrolar da guerra e a falta de comida, passa a maltratá-los.
A maior desgraça dos irmãos não é a guerra em si, mas o descaso que os adultos têm com eles. Egoístas, cada um pensa em si. Negam assistência, carinho, abrigo. Os irmãos decidem partir, e encontrar um espaço para eles. O que encontram é apenas desgraça, tragédias e falta de humanidade. O irmão mais velho tem como meta proteger sua irmã, mas tudo parece conspirar contra. A irmãzinha vem a adoecer, e Seita se desespera, chegando a roubar para alimentar a irmã.
As cenas do filme são extremamente realistas e comoventes: a imagem da mãe, ferida, sangrando, tendo suas chagas repletas de vermes, é algo de estarrecedor. O filme não poupa imagens de mutilações, sangue, desgraça.
E tudo é visto pelo ponto de vista das crianças. A menininha carrega consigo uma latinha de balas, que ela vai devorando aos pouquinhos. É muito comovente a cena que ela faz cair as balinhas, e já não caem mais.
Apesar de tanta violência, o filme reserva cenas de pura magia e encantamento. Numa cena noturna os irmãos testemunham as luzes dos vagalumes. A menininha, encantada, pergunta para o irmão porque os vagalumes morrem tão cedo ( após se acenderem, os vagalumes morrem). O irmão nada responde, deixando suspensa a resposta.
A parte final do filme é algo muito triste, e confesso, chorei muito. Um lamento perdido pelo horror da guerra. Impossível ficar alheio ao drama dos irmãos. Um filme de pura beleza, trágico, cruel, realista.

Um filme para guardar sempre no coração.

Nota: 10

O Turista


" The Tourist", de Florian Henckel von Donnersmarck (2010)

Filme de ação misturado a comédia romântica, O Turista é uma refilmagem do francês " Anthony Zimmer, a caçada", lançado aqui apenas em dvd.

O filme lembra bastante o clima das comédias de ação sofisticadas dos anos 60, como " Charada", de Stanley Donen, com Audrey Hepburn e Cary Grant. Como o filme de Donen, O Turista aposta no glamour e no star system. Pegou 2 dos maiores astros de Hollywood, Angelina Jolie e Jonny Depp e os colocou em locações soberbas em Paris e Veneza. O elenco de apoio também é excelente, incluindo Paul Bettany e Timothy Dalton, esquecido após ter vivido o agente 007 .
A trama gira em torno do mote preferido de Hitchcock: o homem errado. Angelina Jolie é uma mulher misteriosa que precisa reencontrar seu amante procurado pela polícia. Ela marca um encontro em um trem, que vai de Paris a veneza. Lá, ela usa um turista americano *Jonny Depp" como isca para a polícia. Depp faz aquele tipo meio bobo, idiota de turista, e acaba se apaixonando pela personagem de Elise (Jolie). Ele acaba sendo procurado pela Interpol e pela máfia russa, de quem Alexander Pearce, o amante, roubou 744 milhões de euros.
O filme recebeu muitas críticas negativas mundo afora. Acho uma injustiça, a finalidade do filme aqui é homenagear aqueles filmões antigos, que tanto alegraram público de outrora. É uma tentativa de reativar esse filme de ação cômica, com atores famosos e locações deslumbrantes. Cada aparição de Jolie na tela é um desbunde, parece um desfile de moda, ela está belíssima. Ela e Depp parecem ter se divertido muito com o filme. O diretor alemão é o mesmo do excelente " A vida dos outros", que levou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2007.
" O turista" não se pretende inovar nada no ramo dos filmes de ação. É apenas um entretenimento, desses que passam as centenas no circuito por ano. A diferença é que faz com estilo, classe e muitas cenas divertidas. Depp, por ex, como turista, confunde a língua italiana com a espanhola, e vive agradecendo em castelhano. tem até uma gag envolvendo cirurgia plástica com famoso cirurgião brasileiro.
O final revela várias reviravoltas na trama, que aliás, eu já havia descoberto no meio da narrativa.

Nota: 8

Adeus, Dragon Inn


" Goodbye, Dragon Inn", de Tsai Min Liang (2003)

Quando a gente assiste a um filme do diretor Tsai Min Liang, já sabemos o que encontrar pela frente: planos estáticos e longos, que vão ao limite do suportável; pouquíssimos diálogos; ação fragmentada, sem uma linha narrativa coerente; e claro, o ator-fetiche dos filmes do cineasta, , Lee Kan Cheng.

Esse filme chinês de 2003 ganhou o prêmio Fipresci em Cannes 2003, importante prêmio cedido por críticos.
É um filme muito melancólico, que narra o último dia de um cinema de rua. O prólogo do filme mostra um momento de glória do cinema, ainda lotado. Passam-se os anos, e o que vemos, é uma sala enorme completamente vazia. Os únicos frequentadores são gays e travestis em busca de sexo, tanto nas salas quanto nos corredores estreitos e longos, e nos banheiros.
Temos 3 histórias que rolam paralelas: a bilheteira aleijada, que nutre paixão platônica pelo projecionista; um turista japonês, que percorre todos os ambientes do cinema, em busca de aventuras sexuais ( suas cenas possuem gags divertidas) e 2 senhores, que descobrimos mais tarde serem os atores do filme projetado, " Dragon Inn", clássico das artes marciais dos anos 60. Esses 2 atores, ao se encontrarem no saguão do cinema, após o término da sessão, lamentam que o cinema de rua esteja definitivamente acabando, inclusive eles nem vão mais ao cinema.
O filme é um lamento, assim como " Cinema Paradiso" e o filme mais próximo dele , "Serbis", de Brillante Mendoza, que narra a decadência de um cinema em Manilla, também frequentado pro gays e michês.
Os filmes de Tsai Min Liang não são para qualquer espectador. Exigem muita paciência e dedicação, além de não ter uma narrativa linear. Quem espera um filme com início, meio e fim, passe longe. Por ex, tem uma cena na qual a bilheteira sobe as escadarias da sala do cinema, buscando lixo no chão. Ela sobe lentamente as dezenas de escadas, caminha pelo corredor superior, e desce as escadas. Ela sai de cena. E o plano ainda continua focando a sala de cinema, por mais alguns minutos.
Minimalismo é isso aí.

Nota: 8

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Ladrões


" Takers", de John Luessenhop (2010)

Filme de ação, uma espécie de " Ocean`s eleven" levado à sério. Assim como no filme de Sorderbergh, aqui os bandidos são sedutores, bonitos, vestem ternos bem cortados, são fashionistas e estão fora de qualquer suspeita.
O grupo é formado por 5 ladrões ( entre eles, Paul Walker, Hayden Cristensen, Cris Brown- o cantor), especializados em roubos milionários a bancos. Vivem uma vida de milionários,bons vivants. ATé que um dia, um ex-integrante do grupo, que foi preso em 2004, numa ação fracassada do grupo, é solto. Ele quer reaver o dinheiro do assalto no qual ele foi preso. Ante a negativa do grupo, ele propõe um último assalto a um carro-forte, no valor de 20 milhoes de dolares. O grupo aceita, sabendo dos riscos. O que eles não esperam, é que Ghost, esse ex-integrante, na verdade planeja uma vingança, e coloca um grupo de mafiosos russos na cola dos ex-amigos. Paralelo, temos também uma dupla de policiais que tenta desvendar o paradeiro dos assaltantes. Um deles ( Matt Dillon) leva o trabalho a sério demais, deixando inclusive o amor de sua filha pequena a escanteio.
O filme é bem corriqueiro, desses que já vimos centenas de vezes. Tecnicamente impecável, como se espera de um filme desses. Mas o roteiro não traz nenhuma novidade. Tudo é burocrático, assiste-se ao filme meio aborrecidamente, todos do elenco fazendo poses de bad boys. Hayden não convenve muito fazendo o papel do bandido, com a carinha de bom moço que ele tem. Outro problema é que, diferente dos personagens de " Ocean`s eleven", aqui é difícil se simpatizar por algum. A gente não torce por bandido, por policial, por quem quer que seja.
Para assistir num dia sem opção alguma. Querendo ver algum filme no tema " assalto", prefiram " Atração perigosa", do Ben Afleck, esse sim um filmaço.

Nota: 5


Cisne Negro


" Black Swan", de Darren Aronofsky (2010)

Drama denso, com toques de suspense.
O lago dos Cisnes é um balé russo clássico. A história gira em torno de uma princesa que é enfeitiçada por um mago e sua filha feiticeira, e se transforma em cisne branco. O principe se apaixona pela forma humana da princesa ( ela se tranforma após a meia-noite, voltando à forma animal ao amanhecer). De repente, surge um cisne negro, que enfeitiça o príncipe, e ele acaba se casando com ela. A princesa, atordoada, se mata, e acaba se livrando de seu feitiço, tornando-se livre.
Partindo dessa premissa, Aronofsky constrói aqui uma fábula moderna, que tem como tema central a ambição, a busca pela perfeição, a ira, a inveja.
Nina (Natalie Portman) é uma dançarina obsessiva, que sonha estrelar uma peça. Um dia, o Diretor teatral (Vincent Cassel) da companhia no qual ela dança em Nova Yorque anuncia a aposentadoria forçada de sua estrela, (Winona Ryder), e vai fazer um casting com a nova cisne branca. Sua mãe (Barbara Hershey), outrora uma bailarina , porém fracassada, cria Nina em cima de preceitos de perfecciosimo, tratando-a de forma submissa e repressivamente. O Diretor seduz Nina, forçosamente, e ela acaba ganhando o papel principal. Porém, ela tem como rival, a dançarina Lyla (Mila Kunis), que pega o papel da Cisne negro. A partir dái, disputa de poder, inveja, ódio fazem parte do cardápio de Nina. Ela descobre seu lado negro. Ela se mutila, entra em paranóia, imagina situações, cria seus pesadelos mais aterradores.
Aranofsky entra aqui num patamar de grande cineasta, criando um drama poderoso sobre a cobiça. o mal que existe no ser humano. Tenso, sombrio, depressivo, melancólico. A direção é excelente, a trilha sonora , baseada na peça de Tchasikovsky, pontua todas as cenas, maravilhosamente. A fotografia é perfeita, a montagem sublime, alternando os momentos de realismo e delírio. É tão bem montado que tem horas que a gente não sabe se é real ou não a cena.
Mas nada disso seria possível sem a atuação espetacular de Natalie Portman. Ela emagreceu muitos kilos para viver o papel da bailarina obssessiva, e sua atuação é digna de muitos prêmios. Barbara hershey (cheia de plástica, infelizmente) está ótima como a mão possessiva, e Vincent Cassel correto em seu papel de Diretor Filho da puta. Winona Ryder, em pequena participação, tem uma cena antológica, no quarto do hospital. Seu personagem é digno de piedade.
Os efeitos visuais são muito bons, auxiliando no clima fantástico e aterrador do filme. Tudo remete a um pesadelo da protagonista, e o espectador participa do enlouquecimento gradual da personagem
Uma obra-prima, que deve ser vista por todos, uma aula de cinema irretocável.

Nota: 10

Um Homem que grita


" Un Homme qui crie", de Mahamat Saleh Haroun (2010)

Drama de Chade, país africano, que concorreu em Cannes 2010, e levou o Grande Premio do Juri.
O filme fala sobre o drama de Adam, 55 anos, ex-nadador olímpico , que teve que abandonar a carreira esportista e se dedicar a trabalhar como salva-vidas em um hotel de luxo no país. Ele trabalha com o seu filho Abdel, 20 anos, e juntos, formam uma dupla feliz, adorada pelos hóspedes. O hotel é vendido para um grupo de chineses,e eles demitem parte dos funcionários. Abdel acaba assumindo o posto de seu pai, que vira porteiro do hotel. Magoado com a troca ( Adam diz que a piscina é a sua vida, e se dedicou a vida toda para o trabalho) , fica em conflito com seu filho, a ponto de não se falarem em casa, provocando a ira da mãe-esposa.
O país, ao mesmo tempo, está em guerra civil. Rebeldes querem tomar o Governo. Os governantes exigem que os populares entreguem dinheiro ou algum parente para a guerra. Adam, aproveitando a situação, entrega seu filho. Abdel é levado à força para o combate. A partir daí, Adam entra em conflito moral, e se arrepende de seus atos. Decide buscar o seu filho no front.
O filme, de nacionalidade curiosa, é um libelo contra a intolerância e a guerra civil, que dizima povos na África. Priorizando imagens em relação a palavras, o filme tem cenas longas, sem cortes, fazendo uso de um excelente casting de não atores, esbanjando naturalidade e verossimilhaça na garra de moradores em busca de dignidade e paz. Tecnicamente é correto, com ótima fotografia e trilha sonora envolvente. Uma pequena pérola.

Nota: 8

Dead Snow


"Dead Snow/Dod Sno", de Tommy Wirkola (2009)

Divertido filme de terror norueguês, com toques de comédia e trash. Interessante como o gênero terror atrai novas cinematografias de todo o mundo: Filipinas, Tailândia,Coréia do Sul , até mesmo a Suécia, com a obra-prima " Deixa ela entrar" . Esse "Dead Snow" fez enorme sucesso em 2009 no Festival de Sundance. A Noruega, de repente, virou um grande pólo produtor de filmes de terror, fato curioso.
Tommy Wirkola criou aquilo que parecia esdrúxulo, mas que virou um filme delicioso: zumbis nazistas numa região gelada da Noruega.
O filme é , como não poderia deixar de ser, um amontoado de clichês do gênero: Pânico, Noite dos mortos vivos, Arraste-me para o inferno, e principalmente, " Evil dead" e " Fome animal". A milhões de vezes copiada cena de alguem cagando num banheiro externo da cabana, e sendo atacado...enfim..as mortes são divertidas, e o filme subverte o gênero de forma inteligente e sarcástica.
Um grupo de jovens estudantes de medicina resolve passar o feriado da Páscoa (isso na Noruega) numa região montanhosa, coberta de neve. Cada um deles representa um estereótipo: o nerd, o gostosão, a gostosona, o bobão. Chegando na cabana, que pertence à namorada de um dos 7 amigos, eles desconfiam do sumiço dela ( a moça é atacada no ínício do filme). Resolvem acampar por lá mesmo, aguardando a chegada dela. Brincam, bebem, se divertem. Um velho das montanhas bate na porta e os avisa do perigo da região. A maldição dos zumbis nazistas: um pelotão inteiro que se refugiou na região durante o final da 2 guerra, e desapareceu, após serem atacados pelos populares.
Os amigos não acreditam na história, lógico, e resolvem continuar ali esperando a amiga. O que eles não esperavam é que os zumbis ressuscitariam naquela noite, e passam a atacar os amigos um a um. As cenas de morte e violência são tão esdrúxulas que chegam a ser engraçadas. Em uma cena, por ex, um dos amigos escapa de cair no precipício porque se agarra na tripa de um dos zumbis. Tudo é usado para matar os zumbis: serra elétrica, armas, facões.
A fotografia, a trilha sonora, os efeitos são perfeitos. A combinação de cores do branco da neve com o sangue é muito interessante, aumentando ainda mais a tensão proposta pelo filme.
Não é filme que vai agradar a todos os amantes do terror: por ser feito como paródia, tem seus lances de humor e trash, apesar do clima tenso de algumas cenas. Porém, quem curte sangue e tripas aos montes, vai se deliciar com o filme. O desfecho é divertido, e abre brecha para uma possível continuação.

Nota: 8

Presos no gelo 2


" Fritt Vilt 2/Cold Prey 2", de Mats Stenberg (2008)

Continuação do filme de 2006, ele retoma imediatamente após o desfecho do anterior.
Jennecke (Ingrid Berdal) é a única sobrevivente. Ele é resgatada fora de si por um policial das montanhas, e é levada para um hospital da cidade. Lá, ela comenta sobre os assassinatos. os policiais vão até a montanha e resgatam todos os mortos, incluindo o Snowman. São todos levados para a autópsia do hospital. E aí começam todos os clichês de novo: Snowman é ressuscitado via choque, e vai matando um por um as pessoas que estão no hospital: médicos, enfermeiros, policiais. Jannecke tenta desesperadamente salvar os que sobraram, contando com o apoio da médica de plantão.
O filme lembra demais " Halloween 2". Nesse, Mike Myers vai até o hospital em busca de sua irmã, obcecado em matá-la. Vai matando todos que encontra pelo caminho.
O filme irrita também pelo mesmo motivo que irrita nos outros filmes de terror? porque diabos o assassino leva tiro, machadada, e quando a gente acha que ele morreu, ele não morreu? Parece até uma paródia ao estilo " Pãnico", mas aqui tudo é levado a sério, com exceção de uma personagem que virou gag: uma velhinha, paciente, que toda hora pergunta aonde é o banheiro.
A parte final é ridícula, a personagem vai atrás do assassino no hotel abandonado, aonde ele se refugia. E aguardando por ele (ela chega antes) ela acaba dormindo!!!!!!!!!!!!!!!!! É demais, mesmo heheehe
De interessante é que a série privilegia as super -heroínas, os homens são sempre uns bobões.
Novamente, a parte técnica é o forte do filme: fotografia, som, efeitos. O clima de tensão construído também é interessante, dando valor aos silêncios.
O filme teve mais uma continuação, Cold Prey 3, só que dessa vez, é um "prequel", conta a origem do assassino nos anos 80.

Nota: 6


Presos no gelo


" Fritt Vilt/Cold Prey" , de Roar Uthaug (2006)

Terror proveniente da Noruega, que tem se especializado no cinema de gênero (vide o recente e ótimo Dead Snow)

Presos no gelo é um filme que remete aos assassinos em série, estilo " Sexta-feira 13". Um slasher (terror com violência) menos explícito que " Jogos mortais", mas mesmo assim, tenso. O diretor Roar pegou a cartilha do bom cinema de terror e usa e abusa dos clichês.
Um grupo de 5 amigos resolve praticar snowboard numa região gelada em Jotunheimer, local de veraneio para turistas. Chegando numa montanha , ao praticar o esporte, um dos amigos se desequilibra e quebra a perna. Claro, os celulares pra pedir ajuda , não funcionam. Claro, ao invés deles carregarem o amigo até o carro e irem embora, eles vão preferir passar a noite em algum local coberto. Claro, eles vão achar um hotel abandonado, e finalmente, nesse hotel, um assassino impiedoso começa a matar um por um dos amigos.
O prólogo já deixa evidente a identidade do assassino: nos anos 70, o filho do dono do hotel é acuado na neve e se acidenta. Ele desaparece, o hotel fecha a seguir.
" Snowman" (assim é chamado pelos produtores do filme) faz uso de uma picareta para matar suas vítimas, e se veste por completo, cobrindo todo o seu rosto. Jason fazendo escola.
De interessante no filme, a ótima fotografia, aproveitando ao máximo o branco da região. Os atores estão ok, principalmente a protagonista, Ingrid Berdal.
A edição, som, tudo funciona bem. E os clichês vão se amontoando ao longo do filme. Como é que os protagonistas andam de um lado pro outro no hotel, sem dar de cara com o assassino? eu, heim..hehee
Vale como curiosidade, e o belo clima de tensão que o filme gera.

Nota: 7

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Oceanos


" Oceans", de Jacques Perrin e Jacques Cluzaud (2010)

Documentário produzido por fanceses, filmado em mais de 50 lugares diferentes, e levou 4 anos para ser rodado.
Engloba os 5 continentes, e é um belíssimo registro de imagens, envolvendo a vida marinha.
Sinceramente, fiquei enebriado com tanta beleza, tem cenas que de tao belas, parecem computação gráfica, por ex, o balé das águas vivas, e os cardumes de peixes em movimento, formando desenhos desenhos inimagináveis.
Me lembrou bastante o outro doc francês, " A marcha dos pinguins", atté pela proposta. Narração em off com uma voz suave, etérea, e trilha sonora sublime, evocando espíritos.
Além de mostrar a vida marinha e a luta pela sobrevivência, o filme, claro, faz críticas ao ataque dos homens, que destroem e querem dominar essa fauna de forma predatória.
Tenho que parabenizar o excelente trabalho de fotografia e cinematografia, num apanhado de cenas dificílimas, que devem ter levado muito tempo para ser captados. A câmera chega a se aproximar dos animais como se estivesse do lado, incrível. Já na parte final, mostrando o convivio de pesquisadores com os tubarões, fiquei tenso. Tem que ter muito amor pelo trabalho para passar por tal perigo. Antológico.
Nos Eua, o filme foi distribuído pela Disney, com cerca de 20 minutos a menos, e narração de Peirce Brosnan.
Um filme para a alma e o coração.

Nota: 8

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Amor por Contrato


" The Joneses", de Derrick Borte (2010)

Drama com toques de comédia romântica, sobre uma família perfeita que se muda para um bairro de luxo e imediatamente passa a ser o centro das atenções dos moradores locais. Os vizinhos morrem de inveja do padrão de vida deles, da casa, da beleza, da felicidade, e principalmente, de tudo o que eles usufruem: produtos, carro, equipamentos. Eles passam a fazer grande sucesso, e todos desejam os produtos que eles ostentam. na verdade, a família é falsa: todos fazem parte de uma jogada de marketing. A família é montada, e de tempos em tempos, eles se mudam de bairros e cidade para promover a vida perfeita e feliz, com a intenção de vender os produtos que ostentam.
Porém, aos poucos, as coisas não se encaminham mais como era antes: ao marido (David Duchovny) já não está mais feliz em enganar as pessoas. A esposa ( Demi Moore) começa a se apaixonar por ele, mas não quer demonstrar essa afeição. O filho é gay enrustido, e vive infeliz com sua opção de vida. A Filha é meio piranha, e se envolve com clientes casados, destruindo relações. E para piorar a situação, um dos vizinhos vai á falência, após ficar ostentando e comprando os produtos que ele não tem como pagar.
Amor por contrato é um filme muito interessante, um filme que discute valores morais e éticos, na sua essência. É uma crítica ao American way of life, e o faz com muita destreza. Os atores estão ótimos: Demi Moore, lindíssima, e fazendo com muita competência o seu personagem difícil da mulher mandona e que tenta a todo custo manter as aparências. David Duchovny está bem no papel do marido insatisfeito, se livrando de vez do seu personagem do Agente Mulder do Arquivo X. Genne Headley ( que eu amo desde que a vi em " Vitor e Vitoria" e Lauren Hutton, do elenco de apoio, estão perfeitas.
O roteiro é bem desenvolvido, e a trilha sonora deliciosa. Vale uma sessão numa tarde ou noite sem compromissos, o filme não mudará em nada sua vida, mas cumpre sua função de passatempo com um pouco de inteligência, o que já é muito.

Nota: 8


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A Culpa é sua


" Por tu culpa", de Anahi Berneri (2010)

Drama argentino dirigido por Anahi Berneri, concorreu no Festival de Berlin em 2010. Narra uma noite na vida de uma mulher, que mora com seus dois filhos pequenos. O pai está ausente, trabalhando em outro estado. Ela tenta trabalhar em casa, mas seus filhos a deixam muito estressada, e ela se irrita com eles. O caos estabelecido por seus filhos acabam fazendo com que o menor se acidente, ele cai da cama após discutir com seu irmão maior. A mulher, desesperada, resolve levá-lo ao hospital para uma radiografia, mas acaba passando a noite lá, acusada de maus tratos, após vários interrogatórios médicos, que estranham a atitude da criança.
O filme tem Direção segura, e os atores estão ótimos, em especial Erica Rivas no papel da mãe. A Câmera me lembrou bastante o estilo de filmar dos Irmãos Dardenne, cineastas belgas que têm formação documental, e são perfeitos ao registrarem a vida cotidiana. Assim é " A culpa é sua". Um relato quase que em tempo real dos acontecimentos de rotina de uma mulher, o hospital e a polícia. Apesar disso, o filme tem um ritmo bem lento, e cansa lá pro meio.
Após a sessão, fica a sensação de que o filme é um aviso para todos que pensam em ter filhos. A campanha é completamente contra as crianças. Filhos, porque tê-los, se eles infernizam a sua vida???

Nota: 7

As Crônicas de Nárnia: a Viagem do Peregrino da Alvorada


" The Cronicles of Narnia: the voyage of the dawn treader", de Micahel Apted (2010)

Eu nunca fui fã dessa série no cinema. eu não li nenhum dos 7 livros de c S Lewis, mas os filmes não me enchem os olhos. Sempre acho o primo pobre de Harry Potter e Senhor dos Anéis. Mas como cinéfilo, acabo assistindo.
Esse terceiro e mais fraco filme da série peca pela direção burocrática de Michael Apted, bom diretor, mas que aqui não constroi nenhuma cena marcante em termos de ação. Outro item que me incomoda é que esse filme procura agradar apenas as crianças. O roteiro é bem infantil, as ações visam a não assustar os pequenos. Tudo bem, filme para a garotada, elas merecem. Mas os efeitos são por demais falsos, tudo cheirando a computação gráfica daquelas feitas ás pressas. E o 3D também não ajuda, para varar, existe um personagem que voa, no caso o dragão, apenas para celebrar esse efeito digital.
O fato dos personagens de Suzanne e Peter não aparecerem, deixou o filme frouxo. Mas não tinha jeito. No Universo de C S Lewis, apenas crianças podem participar. Peter e Suzanne já são maiores de idade, e passaram a bola para Edmund e Lucy. A eles se junta Eustace, um primco insuportável ( que personagem mala!!!!!!!) mas belamente defendido pelo ator mirim Will Poulter.
Os três são chamados de volta a Narnia, e juntos com o principe Caspian, lutam contra o avanço de uma força maligna que quer dominar o local.
O roteiro traz conflitos morais, relacionados ao cristianismo: a ira, a inveja, a vaidade. Temas interessantes para discutir com as crianças.
Assisti ao filme, que mais parece um arremedo de "Piratas do caribe", de forma aborrecida, e apenas, mas APENAS no final, me acendi. A última cena do filme me remeteu de imediato ao " Toy Story 3". Explico, fiquei emocionado com a questão do desapego, do amadurecimento. Pelo que consta, Lucy e Edmund não aparecerão mais no próximo filme, e aqui, a cena final sôa como uam despedida. Ficou lindo. Vida longa aos atores.

Nota: 6 ( para a cena final, nota 9)

domingo, 19 de dezembro de 2010

Splice, uma nova espécie


"Splice", de Vincenzo Natali (2010)

Dois cientistas trabalham num laboratório que faz pesquisas com genética e DNA. Eles unem genes para fabricar proteínas que sirvam para o bem da medicina. Porém, eles criam sem avisar a ninguém, um gene que une dna humano e animal, surgindo assim DREN, uma forma de vida feminina que cresce rapidamente, até se transformar em uma bela mulher.
Dren vai se tornando aos poucos uma ameaça ao casal de cientistas, que a levam até uma fazenda isolada para tentar identificar a sua evolução.
Essa ficção, misturada a suspense, é uma tentativa muito frustrante de se fazer um bom filme, em um tema já extremamente batido ( lembra demais " Species"). Adrien brody e Sarah Poley, bons atores, aqui se prestam a um roteiro ruim, e não conseguem salvar esse filme da ruína. Muitos furos de roteiro (como assim, em um laboratório tão avançado desses, ninguém sabe do paradeiro da criatura sendo criada ás escondidas???). Os personagens são caricaturas de tipos bons e maus, e o casal defendido por Brody e Polley tem o desmérito de não criar simpatia alguma ao espectador. As cenas de sexo da criatura com o casal são constrangedoras. A gente pouco se lixa para o destino deles, uma vez que eles foram os causadores de toda a desgraça. Fora isso, o pouco que se salva são os efeitos, muito pouco para um filme com um orçamento alto, e que trazia uma expectativa de renovação para o gênero. Recentemente, Stephen King citou esse filme como uns dos 10 melhores de 2010. Menos, Stephen, menos...

Nota: 4

O Homem Sanduíche


" The sandwich man", de Hou Hsiao Hsien, Wan jeng e Tsang Jong (1983)

Assisti esse filme na Mostra dedicada ao cineasta Hou Hsiao Hsien, aqui no CCBB do RJ.
Esse filme se consiste em três curtas, dirigidos por três cineastas. cada um tem 35 minutos, e tem como tema em comum, a luta do homem pobre para sobreviver na cidade e ter uma vida digna. Os três são baseados em contos de Huang Chun Ming sobre a Taiwan de 1960. Os filmes têm uma influência muito forte do neo-realismo italiano, principalmente os filmes de Vittorio de Sica e Rosselini. Observam com olhos distanciados o cotidiano de homens simples, desbravadores, que jamais deixam de esmorecer perante as dificuldades da vida.
O 1o episódio, " O palhaço do filhinho" , é dirigido por Hou Hsiao Hsien. É sobre um homem que se veste de palhaço e bota umas placas com anuncios do cinema local, para poder divulgar. É o famoso homem -sanduíche. Ele se inspirou num anuncio japonês e ingenuamente, acredita que fará levar espectadores ao cinema local, que sofre por falta de público, quase indo á falência. Sua esposa é dona de casa, e eles têm um bebê, que criam com dificuldade. Esse episódio talvez seja o com mais cara de neo-relaista, dada a humanidade com que os personagens são tratados. Hsiao Hsien critica também a morte do cinema de rua. os atores são maravilhosos, e a trilha, emcocionante. O desfecho é poesia pura.
O 2o episódio, " O chapéu de Vicky", dirigido por Tsang Jong, trata sobre 2 vendedores que chegam em uma vilarejo para vender panelas de pressão japonesas. Um dos vendeodres espera vender muitas panelas, para poder sustentar sua esposa, que está grávida. O outro vendedor, ex-militar, fica obcecado por uma menina do local, que sempre usa um chapéu. Unindo comédia e drama, esse episódio termina de forma melancólica e quase uma tragédia.
O 3o episódio se chama " O sabor da maçã", e é dirigido por Wan Jeng. É sobre um pobre operário que é atropelado por um militar americano. Apavorado, o militar leva o sujeito para um hospital da base americana, e convida a familia dele a visitá-lo, oferecendo também uma boa gratificação. A conclusão é a de que o homem é um sujeito de dorte por ter sido atropelado. Esse episódio é curioso, porque une comédia rasgada a gagas visuais, e mostra uma taiwan pobre, com comunidade de favelados.
Interessante notar que os três episódios fala sobre a influência de culturas diferentes que trazem surpresas e consequências nas vidas das pessoas. No caso dos 2 primeros episódios, a invasão da cultura japonesa. No 3o, a influência da cultura americana, se enraizando no domínio taiwanês.
Esse filme é considerado um divisor de águas no cinema de Taiwan, sendo chamado de " Cinema new wave", por trazer à tona temas sociais de uma sociedade que vai perdendo sua identidade cultural. O elenco de forma geral é bom, com ceretza devem ter muitos não-atores, interpretando com naturalidade e humanismo os seus personagens errantes.

Nota: 8

Reencontrando a Felicidade


" Rabbit Hole", de John Cameron Mitchell (2010)

Poderoso drama, baseado em uma peça de teatro homônima, ganhadora do prêmio Pullitzer.
Nicole Kidman é Becca, casada com Howie (Aaron Eckhart), perderam o filho de 4 anos, a 8 meses, em um atropelamento em frente a casa deles. O filme começa 8 meses depois, e mostra a destruição lenta e maciça da relação do casal, a medida que Becca vai se desfazendo dos pertences da criança, contra a vontade do marido, que ainda quer ver esses objetos perambulando pela casa. Tudo em volta lembra o filho deles: a irmã caçula de becca, desajustada, está grávida; sua mãe vive comparando a morte de Danny à morte de seu filho (irmão de becca), por overdose; o casal frequenta um grupo de auto-ajuda para pais que perderam seus filhos; o amigo do trabalho de Howie vive falando da vida failiar; e para piorar, Becca acidentalmente cruza seu caminho com Jason, o jovem que matou seu filho no acidente de transito.
Dirigido por John Cameron Mitchell, diretor dos controvertidos "Hedwig" e " Shortbus", aqui ele exercita seus dotes na direção em um drama intimista, extremamente bem interpretado, e com um clima de muita sensibilidade, sem apelar a melodrama, mas nas emoçoes contidas de seus personagens.
A trilha sonora é mágica, envolvente. A fotografia e a edição são competentes, trazendo momentos de extrema beleza no visual.
O elenco está impecável: Nicole Kidman e Aaron Eckhart têem vários momentos antológicos, daqueles de se fazer pequenos videos para mostrar na noite do Oscar. Diane Wiest, como a mãe de Becca, está perfeita, simpatica como sempre, e humana. Sandra Oh, atriz chinesa de quem sou muito fã, está correta, e o destaque vai para Miles Teller, no papel do adolescente Jason, contido no seu sofrimento de culpa.
O filme, brilhante, discute a questão da culpa e do perdão, de uma forma muito honesta e bela. Me lembrou bastante o filme dos irmaos Dardenne nesse sentido, " O filho", que tem um mote bastante semelhante.
Para quem curte dramas bem escritos e narrados, essa é a pedida certa. Produzido por Nicole Kidman, o filme concorre ao Globo de Ouro de melhor atriz em 2011.

Nota: 9

Os Hamiltons


" The Hamiltons" , de Mitchel Altiere e Phil Flores (2006)

Terror que faz parte da série " Films to die for" , que são produções independentes, feitas com pouca grana e muita imaginação.
Esse filme é de 2006, e narra a história de uma família que se muda para um bairro no subúrbio da California. São 4 irmãos : 1 casal de gêmeos incestuosos, 1 irmão mais velho ( que é homossexual não assumido) e um caçula adolescente, que usa sua filmadora para gravar tudo que encontra pela frente. os pais morreram num acidente. A Família guarda um segredo terrível, revelado ao longo da projeção. Eles sequestram e matam sua vítimas. O filme começa com o sequestro de 2 jovens garotas, seduzidas pelos irmãos. Elas ficam confinadas no porão. O caçula, que se mantém longe das atitudes dos irmãos, registra em sua câmera o sofrimento das garotas. Acaba se apaixonando por uma delas, e tenta ajudá-la a fugir. O desfecho é uma virada na personalidade de um dos irmãos, sensacional.
O elenco é muito bom, todos jovens. Os efeitos são corretos, conferindo uma produção digna, apesar da pouca grana. Geralmente filmes assim apelam para o trash, e esse aqui, inteligentemente, preferiu trabalhar o roteiro e a direção, fazendo bom uso do termo baixo orçamento.

O final pode deixar muita gente irritada. Eu achei coerente. Me lembrou bastante o filme de Kathleen Bigelow, " Quando chega a escuridão".

Nota: 8

Entre Segredos e Mentiras


" All the good things", de Andrew Jarecki ( 2010)

Drama baseado em história real, sobre o desaparecimento em 1982 de Katie Marks (Kirsten Durnst), casada com David Marks (Ryan Gosling).
David é herdeiro de uma grande fortuna, seu pai ( Frank Langela) é dono de vários imóveis em Nova Yorque. Mark conhece Katie por um acaso da vida, se apaixonam e se casam. Ela é de família classe média, e tem planos na vida. Mark evita trabalhar com seu pai, e leva uma vida foda do ambiente familiar. Sua mãe se suicidou quando ele era criança, e isso causa em Mark uma personalidade ambígua e esquizofrênica. Durante seu casamento com Katie, ele vai surtando, tenho momentos de violência que causa aflição em Katie, amigos e familiares. Até que um dia katie desaparece. Até hoje seu caso não foi resolvido. O filme traz um ponto de vista, pendendo para incriminar Mark, mostrando sua faceta extremamente violenta.
O filme é dirigido por Andrew Jarecki, diretor do documentãrio " Na captura dos Friedman". Trabalhando com o mesmo mote de seu doc, que tambem se baseia em história real, aqui no filme ele não repete o mesmo êxito. O roteiro tem falhas, a reconstituição dos anos 70 é calcada em clichês visuais (direção de arte , figurino, maquiagem). A direção também não sustenta a narrativa, e o terço final é desastroso( após o sumiço do personagem de Katie). O personagem de Ryan travestido de mulher, é das piores coisas que já vi. A maquiagem de envelhecimento também é desastrosa, não conferindo o mínimo de realismo. deveriam ter colocado um ator mais velho pra fazer o personagem idoso. Ryan Gosling é excelente ator, e acredito que a direção é que tenha causado esse desnivel na atuação dele, que beira a caricatura em vários momentos.
Kirsten Durnst está bem, com momentos de intensa performance. Tanto que o filme cai de interesse quando ela sai de cena.
A cena de Ryan travestido me lembrou " Vestida para matar", de Brian de Palma..hehee
Frank Langella está correto.
O filme começa interessante, mas vai caindo de nível e de interesse ao longo da projeção, uma pena.

Nota: 6

sábado, 18 de dezembro de 2010

Reino Animal

"Animal Kingdon" , de David Michôd (2010)

Excelente drama de estréia do roteirista e diretor australiano David Michôd, vencedor no Festival de Sundance de melhor filme do juri.

O filme narra o drama de Joshua Cody, um adolescente de 17 anos que presencia sua mãe morrer de overdose de heroína. Sozinho e sem ter a quem recorrer, ele liga para sua avó, que o covnida para morar com ela. Chegando na casa, ele é apresnetado a seus 4 tios, que ele acaba descobrindo serem todos criminosos, tendo a avó como mentora. Um de seus tios, Pope, é um psicopata, que elimina todos que ele acredita estarem no caminho da família. A avó janine trata seus filhos carinhosamente beijando inclusive na boca deles todos, e ganhando o respeito dos garotos. Uma espécie de Ma Baker, famosa matriarca criminosa americana , dos anos 30, é interpretada fantasticamente por Jacki Weaver, que inclusive está concorrendo ao Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante em 2011. Sua performance, assim como de todo o excepcional elenco
( incluindo Guy Pierce , o único conhecido do grande público) é digno de nota.
A direção é segura e constroi uma narrativa que começa suave e vai se transformando em um inferno absoluto, criando uma tensão que envolve o espectador de forma absurda.
O filme faz uma crítica severa ao sistema policial na Austrália. O filme se ambienta nos anos 80, na cidade de Melbourne, conhecida por ser uma das mais violentas no mundo. Tanto policiais quanto criminosos se utilizam da violência para criarem seus braços perante a sociedade.
O filme é um pouco longo, mas vale ser conferido, tanto pelo seu roteiro, brilhante, quanto pelas interpretações, aliadas a uma cãmera dinãmica e a uma trilha sonora pulsativa.

Nota: 9

Tron , o Legado 3D


" Tron legacy 3d", de Joseph Kosinski (2010)

Continuação do clássico " Tron", filme que revolucionou os efeitos especiais no cinema, no ano de 82. Esse filme começa 20 anos depois do filme anetrior. Produzido pela mesma Walt Disney pictures, essa ficção científica com certeza vai deixar muita gente maravilhada com a excelência dos efeitos. Eu pelo menos, fiquei hipnotizado com o conceito visual futurista do filme. O filme pega a concepção do projeto anterior, e deu um upload nos efeitos. É realmente espetacular. O fato de ser em 3D realça incrivelmente essa sensação de espaço tridimensional, ao contrário de muitos filmes recentes no mesmo formato, que apenas trazem os efeitos em cenas de vôo.
Eu não seria capaz de afirmar que esse filme revoluciona os efeitos até então nas mãos de " Avatar". Talvez porque, apesar de tanta tecnologia, o roteiro não chegue á altura. Em vários momentos, o filme perde ritmo, em discussão familiar, uma verborragia que não combina com a proposta do filme. O público quer ver ação, efeitos. E quando o filme se propõe a dramatizar o conflito pai e filho, ele perde interesse, com exceção do desfecho, emocionante.
O filme é longo, fiquei com a sensação que poderia ter uns 20 minutos a menos ( tem 125 min).
Porém, a grande estrela do filme é a técnica de rejuvenescimento que fizeram em jeff bridges, realmente espetacular. Bridges interpreta 2 personagens: Clu, que é um programa mal intencionado, e com a cara de Bridges rejuvenescido aos 38 anos de idade; e Kevin Flynn, com a idade real, o criador do video-game TRON. Além de Bridges, Michael Sheen também brilha, no papel de Zuse, uma espécie de David Bowie no visual glitter. Sheen se diverte no personagem, e cria um tipo mezzo carlitos, Mezzo Alex, de Laranja mecânica. Antológico.
Outro prato cheio é a trilha sonora da dupla francesa Daft Punk, imponente e cativante, mixando música eletronica com trilha de filmes de ação. Aliás, o filme pega carona no visual da dupla pop: os andróides, as letras dos créditos, tudo remete aos músicos e seu visual retrô-futurista.
O filme tem também referencias a vários clássicos do cinema, o mais óbvio deles, " Star Wars". O filme se permite inclusive a uma piada com o sabre de feixe de luz, que na verdade é a motocicleta.
Para quem não conhece a história, o jovem Sam Flynn, 27 anos, filho de Kevin, consegue penerar no mundo cibernético de TRON e vai em busca de seu pai, que sumiu a 28 anos atrás. A partir daí, o filme é muita aventura, algumas cenas arrastadas de drama familiar e um desfecho empolgante. Para quem curte ficção e video-game, imperdível

Nota: 8

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Adrienn Pal


"Pal Adriénn", de Agnes Kocsis (2010)

Drama húngaro , ganhou o Premio FIPRESCI em Cannes de 2010 (premio dos criticos), uma honra para o projeto, uma vez que são os críticos que conferem esse prêmio, e não o juri.
Piroska é uma enfermeira gorda, que trabalha na ala dos doentes terminais. Sua vida é um tédio, e burocrático. Casada, mal conversa com o marido em casa, e vice-versa. O filme fala também sobre a falta de comunicação entre as pessoas. A Hungria parece um túmulo, as pessoas não se interagem, é como se o setor do UTI que Piroska trabalha se estendesse ao mundo. Piroska passa boa parte do dia sentada em frente aos monitores de batimentos cardíacos, acompanhando a saúde dos terminais. Sua rotina muda quando um monitor acusa problemas com os pacientes. Aí, ela se apressa em salvar o doente. De resto, é tudo uma vida monótona.
Um dia, surge uma paciente idosa, cujo nome, Adrienn Pal, a faz relembrar de uma amizade que ela teve na epoca do colégio, e resolve ir atras do paradeiro desssa sua amiga de nome homônimo. Não existe motivação para ela encontrar essa amiga ( elas foram muito próximas). Apenas ela quer, nem mesmo ela sabe o porquê. Em seu caminho, ela descobre o paradeiro de outros amigos de colégio, que a fazem relembrar da personalidade dela e de Adrienn Pal. Porém, esses depoimentos sao confusos e contraditórios, e o espectador fica em dúvida sobre a veracidade dos depoimentos, e se realmente Piroska procura a pessoa certa, ou se ela inventou tudo.
O filme é muito lento, longo (136 min), mas no geral, é um filme pesado, triste, e muito interessante. A fotografia escura, os varios planos sequências, tudo colabora para dar um ar de decadência na vida das pessoas. Para quem curte melancolia e depressão, é um prato cheio.
Os atores estão ótimos ( Eva Gabor, a protagonista, está bárbara, poderosa em sua performance difícil), e o roteiro é bem construído. A fotografia, escura, ajuda no clima depressivo da trama.

Nota: 7

Um Homem tanto gentil


" En ganske snill mann/ A somewhat gentle man", de Hans Petter Molland

Comédia dramática , de produção norueguesa. Você já viu comédia norueguesa? Pois é, tem um humor bem particular. Mas é um filme curioso, com toques de melodrama, misturado a um humor negro, próximo da linguagem dos filmes dos irmãos Cohen.
Um homem, preso por 12 anos por assassinato, é solto, e tenta voltar a sua vida normal, antes da prisão. Mas a sua familia (mulher e filho) não o aceitam mais, e ele contraiu uma dívida enorme com um gangster, que sustentou sua família no período que ele esteve preso. Para pagar essa dívida, ele precisa trabalhar. Arruma um emprego como mecãnico numa oficina, e acaba se envolvendo com uma funcionária traumatizada pelos maus tratos do antigo namorado, que a espancava. Ele mora numa pensão furreca, cuja dona é uma senhora horrorosa. Essa dona da pensão é um personagem maravilhoso, ela toda vez que vai entregar a comida para ele, o obriga a transar com ele. Hilário! Ulrich, o personagem, tenta uma reaproximção com a mulher e o filho, cuja esposa está grávida. Ao mesmo tempo, seu antigo chefe quer se vingar do cara que o mandou pra cadeira, e obriga Ulrich a matá-lo, em troca da grana que ele investiu na familia dele no período que ele esteve preso. Ulrich fica cheio de conflitos morais, e procura descobrir a melhor forma de reaver sua família sem ter que voltar ao mundo do crime.
O ator Stellan Skargard, que trabalhou em varios filmes de Von Triers e em " Mamma Mia", interpreta brilhantemente o protagonista, mostrando sua versatilidade para gêneros tão diferentes.
O filme peca por sua duração, o que acaba cansando um pouco. Porém, vale ser visto, várias cenas são antológicas, o elenco como um todo é delicioso, e a construção dos personagens diverte.

Nota: 8

Corações em conflito


" Mammoth", de Lukas Moodysson (2009)

Excelente drama de Lukas Moodyssson, mesmo diretor do filme barra-pesada " Para sempre Lylia". Mais uma vez, o foco de Moodysson é na infância, e as consequências dos maus tratos e alienação dos pais na formação moral da criança.
No elenco, Gael Garcia Bernal e Michelle Willians interpretam um casal que tem uma filha pequena. O roteiro tem três histórias que correm paralelas. Pais ausentes, uma babá filipina toma conta dela. O pai, nerd e criador de jogos para videogames, é chamado para um trabalho de alguns dias na Tailândia, e a partir daí, se deflagram crises existencias e dramas entre os personagens, numa estrutura bem semelhante a "Babel". O filme passa a ser narrado em 3 paises distintos: Eua, Tailandia, e Filipinas. Enquanto o marido está na Tailândia (onde ele acaba se envolvendo com uma prostituta local), a esposa se dedica quase que integralmente ao trabalho. Ela é médica, e passa o dia quase todo no hospital. A filha é então cuidada pela babá filipina, a quem a menina se afeiçoa, e decide aprender um pouco do vocabulário filipino. A mãe passa a sentir ciúmes da babá, mas sem poder fazer algo que possa mudar a situação. Ao mesmo tempo, a babá filipina tem 2 filhos pequenos que moram nas Filipinas, e que sonham em um dia, rever a mãe. Todas essas histórias de certa forma se cruzam em seu destino.
Um filme lindo, emocionante, triste. Uma melancolia e um peso terrível na consciência de cada um, de que nos sentimos todos de mãos atadas, conformados com as nossas vidas, e incapazes de tentar fazer algo que possa transformar nossos destinos.
A trilha sonora é ótima, recheada de musicas pops: Cat Power, Ladytron....enfim, um filme que me deixou ótima impressão, e que infelizmente, não foi lançado no circuito, apenas passando em festivais. Foi lançado em dvd recentemente.

Nota: 9

Águas Turvas


" DeUsynlige", de Erik Poppe (2008)

Drama norueguês poderoso, que passou no festival do Rio em 2009, e infelizmente não encontrou espaço no circuito comercial.

Narra história de Jan Thomas, presidiário que em seu pultimo dia de pena, é espancado por seus colegas de prisão, que não o perdoaram por ter matado uma criança. Jan sempre negou a autoria do crime. Liberto, ele vai procurar emprego numa cidade pequena. Músico, avaba sendo contratado pelo padre da igreja como organista. É lá , tocando o instrumento, que jan procura exorciar seu passado, que deixou marcas em sua vida. Acaba se relacionando com a pastora e se afeiçoa pelo filho pequeno dela. Um dia, uma professora leva seus alunos para a igreja, e uma das alunas se assusta ao ver Jan, reconhecendo nele o assassino de seu filho. Começa aí os conflitos entre esses 2 personagens.

O filme é excelente, com um ótimo roteiro e poderosas atuações de todo o elenco. O roteiro é um caso a parte: ele se utiliza de um recurso já usado em outros filmes: O de dois pontos de vista
No caso, o de Jan e o da mãe da criança assassinada. E esse recurso só descobrimos na metade do filme, quando o filme passa a focar na história da mãe, tendo Jan como coadjuvante. A virada da história é sensacional. O filme tem uma bela revelação no desfecho, e fica claro que a história discute moralmente o perdão, esse ato tão difícil de ser alcançado. Um filme imperdível para quem gosta de dramas bem narrados e sofridos, inteligentes, humanos. É bem melancólico, e com as tintas dos filmes do leste Europeu.

Nota: 10

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Ajami


de Scandar Copti e Yaron Shani (2009)

Ajami é o nome de um bairro em jaffah, hoje incorporado a Tel Aviv. Um bairro pobre de periferia, onde judeus, muçulmanos e cristãos precisam conviver da melhor forma possível, apesar de todos os atritos existentes. Ajami em árabe também quer dizer " estrangeiro".
Essa é a sensação de quem mora no bairro. Um pensamento constante de não pertencer àquela realidade, crua, violenta.
Os diretores são também os roteiristas dessa pequena obra-prima, muito inspirado em filmes como " Cidade de Deus" e " Babel". Do primeiro, ele herdou a linguagem seca, cãmera na mão nervosa, a utilização de atores profisssionais misturados a amadores, para retratar da melhor forma possível a dura realidade. De "Babel", ele herdou a costura de histórias, aqui no caso, de 5 personagens que em algum momento, terão seus detsinos entrecruzados.
O fio condutor é um menino, Nasri, de 13 anos, que convive com gangues de muçulmanos, palestinos, cristaos e judeus, todos em pé de guerra. Seu tio fere um membro rival e a partir daí, os conflitos surgem de forma violenta. Ótimo roteiro, elenco de atores amadores muito bem conduzidos, o filme irradia naturalismo e violência social, de forma contundente. Apesar de longo e arrastado lá pelo meio do filme, o filme merece atenção para quem curte um drama forte e que retrata a vida de tipos marginalizados, aqui representados pelos conflitos religiosos e culturais.
O desfecho é espetacular, o entrelaçamento das histórias não sôa forçado, como boa parte dos filmes que tentam copiar essa narrativa de Guilhermo Arriaga. Contundente, obrigatório.

Nota: 9

De Pernas pro Ar


De Roberto Santucci (2011)


Divertida comédia protagonizada por Ingrid Guimarães, tem como trunfo um roteiro inteligente, que jamais apela para o chulo, mesmo tendo como mote da trama uma sex shop.

Alice (Ingrid Guimarães)é uma workhaholick, como muitas outras que existem por aí. Dá mais atenção ao trabalho do que ao seu marido e família. Até que um dia, acaba perdendo o emprego por um erro do destino. Desempregada e abandonada pelo marido (Bruno Garcia), ela acaba conhecendo Marcela (Maria Paula), dona de uma sex shop. Alice resolve incrementar a loja da nova amiga, e inventa um método diferente de atendimento: produtos eróticos a domicilio. A partir daí , elas fazem muito sucesso. Porém, Alice resolve não contar nada ao marido sobre sua nova profissão, o que causará muitas confusões.

O roteiro, ágil, esperto, inteligente, usa o potencial de Ingrid para fazer rir,. E o público acompanha em peso: o filme é hilário, com diversas cenas muito engraçadas, que provocam o riso fácil, gostoso.

O elenco de apoio é outro trunfo do filme. Além dos já citados, juntam-se Cristina Pereira, antológica como a empregada da família; Denise Weimberg, atriz dramática em seu debut cômico, mostrando versatilidade; Antonio Pedro, Flavia Alessandra e muitos outros que compõem tipos conhecidos no ambiente da comédia, mas não menos divertidos. O filme abusa de clichês, mas o usa de uma forma bem administrada. A trilha sonora é alegre e pop, a parte técnica é ok, sem grandes arroubos, mas eficaz para um produto comercial.´

Altamente recomendado para quem procura uma diversão sem compromissos, mas realizado com a intenção pura e simples da diversão, porém com alguns neurônios a amais do que o habitual.


Nota: 9


O apedrejamento de Soraya M


" The stoning of Soraya M", de Cyrus Nowrasteh (2008)


Baseado em livro de Freidoune Sahebjam , e adaptado pelo próprio diretor, esse drama não poupa esforços em deixar o espectador tenso.

Uma espécie de " A paixão de Cristo" revisitado, muito por conta de suas cenas extremamente sádicas de apredrejamento ao final da projeção, o longa conta com a participação de Jim Caviezel, obviamente escalado por ter interpretado Jesus no filme citado. Dessa vez, Caviezel está do lado oposto, observando o que levou pessoas de uma comunidade do Irã a cometer ato tão cruel. Ele é um jornalista que vai parar em uma região do Irã, e lá, é aborddao por uma senhora, que pede para ele escutar fitas onde estão gravados depoimentos sobre um caso recente de punição de morte.

Uma mulher é injustamente acusada de adultério, e por conta disso, ela é sentenciada à morte por apedrejamento. ( Sim, o filme lembra demais o caso de Sakineh, que movimentou a opinião pública em 2010 no mundo inteiro). Seu marido e um mulá da vila a acusam, muito por conta da cultura machista de seu país, e também porque outros interesses se escondem por trás da tramóia. Os ensinamentos do Corão são deturpados por essas pessoas, e a comunidade em peso os apoiam.

Inclusive os filhos de Soraya contribuem para que ela seja apedrejada, a ignorando completamente como mãe. A partir daí, o que vemos é um calvário sem fim, culminando na cena do apedrejamento, que verdade seja disso, é bem realizada, mas impossível de ser vista. Ficamos com uma dor tremenda no coração. A cena é por demais cruel, e não pouca detalhes de violência.

Decididamente, não é um filme para todos os gostos. Tem que ter sangue frio para suportar meia hora de apedrejamento (parece até que o filme foi dirigido por Mel Gibson, que adora requintes de sadismo em seus filmes.). O Diretor se utiliza até de câmera lenta, para extender ainda mais tanta barbárie.

O filme é maniqueísta, os maus são muito maus, o que fica até parecendo forçação de barra. De positivo, a interpretação da atriz principal, Mozhan Marnò , que traz dignidade à sua personagem.

O filme faz um alerta sobre a situação no Irã, correspondente ao papel da mulher na sociedade, e sua chance quase nula de defesa. Mas o Diertor poderia ter nos poupado de tanto sofrimento.


Nota: 6

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Fora da lei


" Hors la loi/Outside the law", de Rachib Buchared (2010)

Drama dirigido pelo argelino Rachid Buchared ( mesmo cineasta do denso " London River") , é uma super produção francesa, nos moldes de "O poderoso chefão": cinemão de primeira qualidade. E não digo isso como algo pejorativo, é um filmaço!
Uma familia é separada nos anos 20 na Argélia, após a dominação francesa na região. Os franceses desapropriam inúmeras famílias de suas terras legítimas, entre elas, a da família de 3 irmãos que moram numa região árida. Cada um parte para uma vida errônea: 1 vai lutar na Guerra da argélia, outro se envolve com marginais e outro empresaria um lutador de boxe. Se reencontram décadas depois: 2 irmãos se unem em forças para tentar livrar a Argélia do protecionismo francês, se tornado líderes do FLN. O 3o irmão, o empresário de boxe, evita de se envolver com a questão sócio-politica, a contra-gosto dos outros irmãos. A mãe deles representa a força da Argélia, que jamais esmorece perante o inimigo. Várias cenas magníficas, tensas, bem dirigidas. Já pro final, tem uma cena de tiroteio digna da melhor produção americana.
O filme é tecnicamente maravilhoso, direção de arte, fotografia, som, figurino. Os atores todos excelentes,e o roteiro é poderoso, fazem desse projeto um filme obrigatório para quem curte cinemão com arte.
Na exibição do filme no Festival de Cannes 2010, o clima era muito tenso na croisette, pois havia boatos de atentado contra Bouchareb, devido ao tema político que tanto desagradou os argelinos.

Nota: 9