quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Trabalho Sujo



"Sunshine Cleaning", de Christine Jeffs (2009)

Drama com toques de comédia de humor negro, realizado pelos mesmos produtores de "Pequena Miss Sunshine".
Assim, como o outro filme, essa também é uma produção independente, que inclui um elenco de primeira grandeza que aceitou participar do projeto pela sua humanidade e afeto com seus personagens inquietantes.
A história gira em torno de Rose (Amy Adams), mãe solteira, que trabalha como faxineira em casas de luxo. Ela sonha com a vida cor de rosa de suas clientes, e se frustra pelo seu fracasso profissional e pessoal. Rose tem um filho pequeno, que sofre em sua escola pelos maus tratos causados por outros colegas. Rose resolve tirá-lo da escola e botar em uma escola particular, apesar de não ter dinheiro para arcar com os custos. Rose tem um amante, um policial casado, que a ajuda em suas despesas. Ambos se encontram furtivamente em um motel.
Rose tem uma irmã caçula, Norah ( Emily Blunt), que trabalha como garçonete e odeia o seu trabalho. Ela faz um estilo maluquete, que combina com o estado de espírito de seu pai Joe (Alan Arkin), com quem ela mora. Alan Arkin aqui, repete um pouco a personalidade do avô que ele interpretava em " Pequena Miss Sunshine". É quase que uma continuação do mesmo personagem carismático.
Para aumentar a renda , Rose aceita um trabalho que seu amante lhe indica: limpar cenas de crimes. Em principio relutante, ela pede a ajuda de Noah. Ambas inseguras no início, acabam fazendo sucesso na empreitada ( o que é curioso, pois o sucesso depende da morte e da violência locais). Esse trabalho acaba trazendo à tona a lembrança da mãe das meninas, que descobrimos mais tarde ter se suicidado. Quando pequenas, elas chegaram em casa e encontraram a mãe ensanguentada, do mesmo jeito que elas encontram as cenas dos crimes que elas precisam limpar. As duas meio que escondem essa profissão dos conhecidos, por ser algo inusitado para os padrões provincianos da região onde elas moram.
Justamente essa camuflagem das meninas em esconder sua profissão é que geram a parte cômica dessa triste e melancólica história.
O filme todo tem um tom bem baixo astral, assim como " Pequena Miss Sunshine"; Aliás não sei dizer se a palavra " Sunshine" foi oportunisticamente colocada no título, fiquei com essa impressão. Os personagens são " losers" , assim como no outro filme: lutam pelo seu espaço , mas sempre enfrentam adversidades. Mas resistem bravamente, e são sonhadores.
É essa a moral do filme que me encanta: a que, apesar de toda e qualquer baixa, jamais deveremos nos esmorecer, e sempre lutar por um ideal.
O filme me remeteu ao japonês " A partida", mas claro, com devidas proporções. No filme japonês, o jovem encontra a cena da morte e prepara uma celebração para a passagem para a nova vida. Aqui, as meninas encontram a cena da morte e apenas limpam, com muita dificuldade o local, para deixà-lo apresentável. Os mortos, nem os vemos, apenas os seus rastros de morte.
A fotografia é suave, a trilha emocionante. O roteiro é bem construído, e trabalha bem a transição entre os gêneros drama, comédia e romance, com pinceladas de humor negro.
Um filme tocante, com excelente interpretação de todo o elenco, e que tem um desfecho lindo, esperançoso, em aberto. Palmas para Amy Adams e Emily Blunt, sensíveis em seus personagens.

Nota: 8

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