sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Lixo Extraordinário


" Waste land" de Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley (2010)

Vik Muniz é um artista plástico brasileiro reconhecido mundialmente. De origem humilde, vivendo na periferia de São Paulo, Vik Muniz teve sua vida transformada por um golpe do destino ( em um acidente de trânsito, ele levou um tiro na perna. Com o dinheiro da indenização, ele viajou aos Estados Unidos em busca de um futuro melhor). Lá, ele construiu sua fama, apesar de um começo difícil trabalhando em todo tipo de serviço subalterno.
O documentário " Lixo extraordinário" fala sobre isso: superação. Esse é o mote do projeto. Em 2007, em seu ateliê em Nova York, Vik propõe junto com seu amigo Fabio, do Rio de Janeiro, montar um projeto que consistia em fazer um trabalho social no Lixão de Gramacho. A idéia era pegar um grupo de catadores de lixo e junto com eles, transformar o lixo encontrado em arte.
Vik se preocupa com a saúde dos integrantes da equipe. Chegando no Lixão ( o maior do mundo em extensão), Vik se aproxima de vários catadores de lixo, e forma um grupo com quem ele irá trabalhar por um período de 2 anos. Juntos, catam material reciclável. Vik tira fotos baseadas em quadros famosos e os reproduz, usando os catadores como modelos. Num grande galpão alugado, Vik e Fabio ampliam essas fotos, e junto com os catadores, começam a trabalhar com o material recolhido no lixão e fazer arte com essas fotos. Esses quadros, posteriormente, serão leiloados em Londres e a renda arrecadada reverterá ao grupo de catadores e para a Associaçao dos Catadores.
O que mais impressiona nesse documentário é a qualidade dos entrevistados. O grupo de catadores selecionados por Vik e Fabio são de uma humanidade comovente. Os depoimentos são profundos, apesar da pouca instrução das pessoas ( com exceção de Tião, jovem Presidente da Associação de Catadores, e de Zumbi, que recolhem livros no lixo e os leem.).
De uma forma geral, a maioria vê o trabalho de catador como um trabalho digno: melhor do que matar, roubar, se prostituir. Vik visita as casas extremamente pobres dessas pessoas, conhecemos os familiares. Mais pra frente, a equipe se preocupa com o futuro dessas pessoas, que já estão tão envolvidas com o projeto, que temem que quando termine, suas vidas não sejam as mesmas. No desfecho, nos emocionamos com o desenrolar de cada um dos integrantes. A maioria deseja mudar de vida, descobrem o valor de seus trabalhos e que eles podem mais. Apenas uma senhora, uma cozinheira que serve comida no lixão, resolve voltar para lá, com saudades dos amigos.
Eu fui assistir ao documentário com alguns amigos,e tdos foram unãnimes em gostar do filme, mas com o porém de terem odiado a figura de Muniz. Explico: o argumento é de que Muniz se super-expôs, dá declarações de mega-estrela, tipo: " Porquê Eu Vik Muniz sou o maior artista brasileiro", ou quando ele dá um show de pretensa humildade, " eu não preciso de nada na vida, já tenho de tudo". Sinceramente não vi o filme por esse ângulo, e me orgulha muito esse projeto engajado , que mudou a vida dessas pessoas para melhor, fizeram com que todos melhorassem suas auto-estima. Vik Muniz pode ser arrogante, falso, mas isso não importa. O filme não é sobre isso, não é uma auto-promoção do seu trabalho. Como falei, é um filme que fala sobre superação, e Munir usa sua história pessoal para fazer analogia com outras histórias de vida.
A cena final, com Tião dando depoimento no programa do JÕ, é antológica,
Não é só o lixo de Gramacho que é transformado em algo diferente, as pessoas também passam por um processo de mutação. A fotografia, de Dudu Miranda, é eficiente e bela. O trabalho de câmera também é incrível, revelando ângulos do lixão e do galpão impressionantes em sua dimensão imagética.
A trilha sonora de Moby contribui positivamente para a emoção do filme, sem ser evidente.
O único porém que faço é o fato de Munir e equipe de brasileiros falarem em inglês, me soou pretencioso.
O filme foi indicado para o Oscar de melhor documentário 2011.

Nota: 9

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