segunda-feira, 3 de março de 2014

Encontros da meia-noite

"Les rencontres d'après minuit", de Yann Gonzalez (2013) François Ozon, Xavier Dolan, Fassbinder e Greenaway já encontraram um discípulo à altura de suas ousadias estéticas. Yann Gonzalez, cineasta francês, estreou em longa-metragem no Festival de Cannes 2013, arrancando elogios à sua fantasia erótica experimental. Usando uma forte linguagem teatral, inclusive no cenário (lembrando "Lágrimas amargas de Petra Von Kant", que se passa todo dentro da mansão da estilista). O filme se passa quase todo dentro de uma mansão, que pertence a um jovem casal. A empregada deles é um cross-dresser, e juntos formam um estranho triângulo amoroso sexual. O casal aguarda a chegada de convidados após a meia-noite: o garanhão, a puta, o adolescente e a Estrela se juntam com a intenção de promoverem uma noite de orgia. Ma chegada dos convidados, cada um vai relatando a sua história pessoal, onde sexo, desejo e morte caminham juntos. Kitsch, pomposo, afetado, o filme é um grande deslumbre visual. Um feito raro hoje em dia, foi todo rodado em 35 mm. A fotografia, estilosa, acompanha os arroubos de criatividade do Cineasta, que quiz aqui, fazer um filme de cinéfilo para cinéfilos sofisticados, com forte referência de filmes como "Querelle", "Amores imaginários" e " O sétimo selo". O filme em si está aberto a interpretações. Entre um mundo lúdico e um realista, a porteira está aberta para que ambos os mundos se colidam e se co-existam. O elenco é cult até o talo: Beatrice Dalle, em participação hilária, como uma generala masoquista. Niels Schneider repete seu papel em "Amores imaginários" e vive um triângulo bissexual. Alain-Fabien Delon, filho de Alain Delon, incorpora um tipo marginal, uma referência aos filmes de seu pai. Aliás, a semelhança é impressionante. Eric Cantona, ex-jogador do Manchester United, entrou de cara como ator, após a bem-sucedida incursão no filme de Ken Loach, "A procura de Eric". Aqui, ele bota o pau pra fora e ainda participa da orgia beijando homens e mulheres. A trilha sonora, a cargo do grupo eletrônico M83, é lindíssima. O filme e verborrágico e cansa, mas pela sua beleza e encantamento visual, merece uma nota maior. A cena final é das mais belas que vi recentemente: poética, melancólica. Nota: 8

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