domingo, 4 de maio de 2014

Ali tem olhos azuis

"Alì ha gli occhi azzurri/Ali has blue eyes", de Claudio Giovannesi (2012) Que filmaço da pôrra! O título do filme vem de um poema de Pasolini, escrito nos anos 60, onde ele fala sobre conflitos étnicos e morais através da história de um muçulmano que quer ser integrado à Europa. E esse é o mote desse filme extraordinário de estréia de Claudio Giovannesi. Nader, um descendente de egípcios nascido na Itália, está em conflito consigo mesmo. De pele morena, ele usa lente de contatos azuis para poder "parecer" europeu. Assim como seu melhor amigo Stefano, italiano, ambos têm 16 anos, namoram e estudam. Mas também assaltam, roubam para poder usufruir do que a vida tem de melhor. A família de Nader é tradicional e são contra Nader namorar uma italiana, e obrigam ele a seguir os preceitos da cultura islâmica. Mas Nader se recusa. Um dia, ao roubarem uma prostituta romena, Nader e Stefano são perseguidos por uma máfia romena. Nader não encontra ajuda na família e tenta resolver da sua forma, junto do Stefano. Denso, dramático, esse filme segue a tradição de narrativa dos irmãos Dardenne, cineastas que eu venero. Usando câmera na mão, planos longos e a câmera seguindo seus protagonistas, o filme cria um diálogo maravilhoso com a condição do imigrante na Europa, além dos conflitos por conta de desemprego, de religião e de falta de perspectiva de um futuro melhor, por parte da juventude. O filme foi rodado na região de Ostia, cidade decadente onde mora o proletariado. Giovannesi tem uma linha muito parecida com o italiano Matteo Garrone, que realizou 'Gomorra "e "Realitty". Ambos trouxeram de volta ao cinema italiano a estética e conceito do neo-realismo, implantado por Rosselini, de Sica e outros na época do entre guerras. Os atores são amadores, escalados na rua, para dar veracidade aos personagens. É impressionante a atuação de todo o elenco. Essa corrente de documentário em ficção é brutal e eu adoro muito. Belíssima fotografia, dando o tom amargo da vida que não encontra rumo. O final é desolador e foda, muito foda! Cinema! O filme ganhou um prêmio especial do juri no Festival de Roma 2013. Nota: 10

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