quarta-feira, 30 de julho de 2014

Duna de Jodorowsky

"Jodorowsky's Dune", de Frank Pavich (2013) O documentarista Frank Pavich fez aqui um filme genial, só comparável em conteúdo, importância e primor com o documentário "Lost in la Mancha", de Keith Fulton e Louis Pepe. Enquanto no documentário baseado no filme de Terry Gillian que nunca aconteceu, sobre Dom Quixote, em "Duna de Jodorowsky"o cineasta Frank Pavich narra a desventuras e frustrações de Jodorowsky, que preparou o projeto de levar a obra de ficção científica 'Duna", de Frank Herbert, para as telas. Em 1974, após os sucessos estrondosos de seus filmes cults "El topo"e "A montanha sagrada", Jodorowsky ganhou o aval do produtor francês Michel Seydoux de fazer o filme que quisesse. "A montanha sagrada"foi, na Itália, o 2o filme de maior bilheteria do ano, só perdendo para James Bond. Isso contando que "A montanha sagrada" é um filme de arte, surrealista e hermético para boa parte dos espectadores. Com esse feito enorme, Jodorowsky chegou para Michel Seydouz e disse, sem pestanejar: "Quero levar "Duna" para as telas". E isso sem ter lido o livro, se baseando apenas em comentários de amigos. Assim, Michel orçou o filme em 15 milhões de dólares, um valor estrondoso para a época. Como Jodorowsky pudesse não ter o aval dos grandes estudios para comandar um projeto babilônico como esse, Jodorowsky resolveu fazer um livro-storyboard com desenhos de todas as cenas. figurinos e croquis de direção de arte para apresentar aos produtores americanos. Grande visionário, Jodorowsky foi atrás de talentos até então desconhecidos do grande público: Dan O'bannon, Chris Foss e Giger, para projetarem os cenários e visual do filme. Para o storyboard, ele convidou Moebius para fazer os desenhos. Para o elenco, Jodorowsky foi muito além do que qualquer diretor pensaria em escalar: Mick Jagger, Orson Welles, David Carradine e Salvador Dali. E todos disseram sim. Para a trilha sonora, Pink Floyd. A idéia conceitual de "Duna" era fazer com que o espectador viajasse lisergicamente em LSD, mas sem ter que tomar a droga. Era algo revolucionário e jamais feito até então por qualquer cineasta. Jodorowsky fez uma releitura da obra de Frank Herbert sem respeitá-la. Como ele diz em suas palavras, "Foi um estupro". Com um livro semelhante a uma Biblia pronto, Michel e Jodorowsky fizeram cópias e mandaram para todos os grandes estúdios. Mas Jodorowsky já começava as reuniões de forma excêntrica. Dizia que queria fazer um filme de 12 horas, que um sonho não deve ser desrespeitado. Os produtores em peso se assustaram e o filme acabou sendo arquivado. Foi uma grande frustração para todos. Mas aí é que começa a parte mais emocionante do filme: Com ressentimento, Jodorowsky diz que a filha do produtor Dino de Laurentis pegou o projeto e o entregou a David Lynch. Jodorowsky sentiu como se tivesse levado uma punhalada no coração. Mas para sua felicidade, o filme foi um desastre financeiro e de crítica. Os depoimentos de Michel e Jodorowsky, e de vários críticos de cinema a seguir, confirmam que o livro-bíblia do filme, que circulou pelos corredores dos Estúdios, acabou influenciando muitos cineastas e diretores de arte. Mesmo sem ter sido realizado, o filme, através de sua bíblia, teve suas idéias roubadas: "Caçadores da arca perdida", "Blade Runner", "Alien" ( que inclusive contratou o trio O 'Bannon, Giger e Chris Foss, além de Moebius, para o filme, "Flash Gordon", "Star wars", "Prometheus", Mestres do Universo" e outros. É um documentário maravilhoso, divertido, onde vemos um olhar de um artista visionário e apaixonado pela sua arte. Tanto Terry Gillian quanto Jodorowsky são artistas à frente de seu tempo. Talvez se tivesse sido feito em 1974, o filme poderia ter sido uma das maiores bombas do cinema. Mas com certeza, seria um marco histórico. Em 2013, Michel e Jodorowsky vieram a trabalhar juntos no filme "Dança da liberdade", exibido em Cannes 2013. Aos 84 anos, Jodorowsky confirma ser um dos maiores cineastas de todos os tempos. Nota: 10

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