domingo, 31 de agosto de 2014

Uma dose violenta de qualquer coisa

"Uma dose violenta de qualquer coisa"de Gustavo Galvão (2013) O recado do filme é um só: se você for ao banheiro, perde o bonde. O título é retirado do libro "Uivo", do poeta beatnick Allen Ginsberg, e como não poderia deixar de ser, é um road movie de tipos desajustados e sem rumo. Um "Easy rider" dos novos tempos, mas sem ácido. Pedro ( Vinicius Ferreira) é um rapaz que foge de casa. Ele tem distúrbios mentais e precisa tomar tarja preta, mas não tem receita. Sua irmã tenta localizá-lo, ligando insistentemente para o seu celular. Saindo de Brasília, ele acaba seguindo caminho de carro (roubado) até Minas. No caminho, em uma lanchonete, ele esbarra com Lucas (Marat Descartes), um tipo marginal desajustado que cola nele e não se separam mais. Outros tipos vão surgindo no caminho, entre putas, traficantes paraguaios (Leonardo Medeiros) e mulheres solitárias. O filme em si é curioso, mas fica apenas nisso. Em certos momentos fiquei até me remetendo ao filme "A busca", de Luciano Moura, por conta da personagem de Mariana Lima que liga insistentemente para o de Wagner Moura. O filme também era um road movie. Mas as semelhanças param aí. Aqui, o cineastas Gustavo Galvão literalmente caga pro realismo. As pessoas ficam horas no banheiro, um frentista de posto enche um tanque enquanto o motorista despeja todo o lixo do carro para fora, e por aí vai. Fiquei na dúvida se era para brincar com o surrealismo ou realismo fantástico, ate mesmo porquê depois brincam com um suposto "Fantasma" que surge. No fundo achei confuso. As personagens femininas são ridicularizadas, mostrando um perfil de um filme misógeno, onde somente os homens encontram espaço. A trama da irmã (Maria Manoela) ligando toda a hora é totalmente dispensável. O filme poderia ter focado na trama de Pedro e Lucas. Aliás, Marat Descartes está como sempre brilhante e roubando o filme. Quando em determinado momento ele sai de cena, o filme cai de ritmo e de interesse de forma gritante. Estéticamente é interessante, e a trilha sonora compõe esse barroco de bizarrices. Mas fica tudo meio que na intenção. Achei bom, mas com ressalvas. Nota: 6

Matar um homem

"Matar a un hombre", de Alejandro Fernández Almendras (2014) Drama chileno, baseado em fatos reais. Uma família, moradora em um conjunto habitacional, é molestada por um grupo de delinquentes da região. Após os filhos serem agredidos, o pai da famíilia resolve tomar partido e se vingar do chefe do grupo. A história, apesar de já banalizada pelo cinema americano ( vide "O desejo de matar"), encontra aqui nas mãos do Cineasta Alejandro Fernández Almendras um brilhante exercício de estilo, com referências ao cinema de Theo Angelopoulos e a vários cineastas latinos que buscam um cinema de arte mesmo que em historias comuns. Boa parte das cenas são realizadas em planos quase fixos, longos, alguns durando quase 10 minutos. Uma cena lembra bastante a "Paisagem na neblina", de Angelopoulos, ambas evolvendo caminhão. Amo muito essa linguagem onde não vemos, mas percebemos o que está se passando, de forma implícita. Atores excelentes, trilha sonora tensa, fotografia estilizada. Um filme para cinéfilos que gostam de drama e violência em embalagem artística. Nota: 8

sábado, 30 de agosto de 2014

O garoto que come alpiste

"To agori troei to fagito tou pouliou", de Ektoras Lygizos (2012) O cinema grego é a minha nova paixão. É o cinema de entrega, de violência, de raiva, de grito ecoando no ar. É o Cinema mais visceral da atualidade. Mais uma vez, um cineasta grego usa o cinema como uma forma de exorcizar o monstro da recessão, da crise econômica que destruiu a Grécia. Segundo pesquisas, 9 entre 10 jovens não possuem um lar, e o nível de desemprego atingiu um patamar assustador. Baseado no livro "Fome", de Knut Hamsun, o cineasta Ektoras Lygizos faz aqui uma epopéia de um jovem depressivo. Desempregado, um cantor de 22 anos (Yiannis Papadopoulos) mora sozinho em um pequeno apartamento com o seu único amigo, um canário que vive numa gaiola. Sem dinheiro, o jovem divide o alpiste com o pássaro. Ele cata lixo na rua, invade o apartamento de um vizinho idoso e doente e come o açúcar, faz de tudo para se virar para não morrer de fome. Até mesmo, numa das cenas mais impactantes do cinema, ele se masturba, goza na mão e engole o esperma, num ato desesperado de se alimentar. Indicado pela Grécia para representar o País no Oscar 2013, esse é um filme que assusta pela sua crueza e ao mesmo tempo encanta pela poesia da tragédia humana. A atuação desse jovem ator Yiannis Papadopoulos é das cosias mais impressionantes que vi. O filme todo está em cima dele, ele leva a câmera, a história. É uma entrega de ator para seu Personagem que me comove, e fico pensando que aqui no Brasil ninguém teria a coragem de interpretar esse papel. Direção segura, fotografia que não quer brigar com a imagem, deixando espaço para o personagem comandar a cena. O elenco de apoio ( a jovem recepcionista que é paixão platônica do jovem, e o idoso do apartamento) são muito bons também). Muito triste, para quem tem animais, a cena que o jovem tenta invadir o terreno abandonado para salvar o seu pássaro. Mais um presente de ouro do Cinema grego para cinéfilos de mente aberta. O filme ganhou vários prêmios em festivais de cinema europeus, e seu jovem ator, merecidamente premiado. Que vontade de trabalhar com ele. Nota: 9

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Magia ao luar

""Magic in the moonlight", de Woody Allen (2014) Novamente, Woody Allen faz uso da magia como elemnto principal de sua trama. Após "Neblina e sombras", "Scoop"e "Broadway Danny Rose, Allen faz a sua homenagem aos artistas da ilusão, assim como é a arte do Cinema. Em "A rosa purpura do Cairo", Allen já nos ensinava que a ilusão e a farsa eram muito mais interessantes que a vida real. "Magia ao luar" é um filme ensolarado, e isso se reflete nas belíssimas locações da Riviera francesa, na fotografia dourada de Darius Khondji ( fotógrafo de "Delicatessen", "Amor" , "Seven" e "Meia noite em Paris, entre outros filmes clássicos") e nas piadas deliciosas e ingênuas que rolam durante a trama. Stanley ( Colin Firth) é um mágico que se esconde na máscara e identidade de um chinês. Irritadiço e prepotente, ele é chamado por um amigo, Howard, também mágico, para desmascarar uma medium, Sophie (Emma Stone), que dizem ser uma charlatã e que estaria enganando uma familia rica. Chegando lá, Stanley não resiste aos encantos da jovem, e ao mesmo tempo, se vê em conflito com a mediunidade dela, que ele acredita ser tudo uma farsa. Como não poderia deixar de ser, os atores estão brilhantes: Colin Firth, magistral, e Emma Stone linda e divertida. Além de Jackie Weaver e de outros menos conhecidos, a minha surpresa fica por conta de Eileen Atkins, uma atriz inglesa que eu nunca havia prestado atenção, e que está divina como a Tia Vanessa. Os diálogos estão afiadíssimos e hilários, cheios de veneno. Toda a parte técnica, figurino, maquiagem e direção de arte está perfeita. A direção de Allen é segura e elegante, e de novo, decupando pouco as cenas, muitas delas resolvidas em apenas um plano. É uma filme requintado, e mesmo que o ritmo caia lá pro terço final, reserva uma grata surpresa na sua trama. Sempre falarei isso: sou suspeito ao comentar um filme de Allen, pois o venero como um dos maiores cineastas da história do cinema. Esse filme pode não ser antológico nem inesquecível, mas reserva um espaço especial naquela tarde deliciosa que você quer passar dentro de uma sala de cinema, saindo do cinema se sentindo bem. "A feel good movie". Nota: 8

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Eu sou uma estrela pornô

"I'm a porn star", de Charlie David (2013) Documentário que abrange a origem da pornografia gay desde o inicio do Século XX até os dias de hoje. O filme fala sobre os filmes obscuros realizados para divertir pequenas platéias nas décadas de 20 e 30, depois a aparição de revistas voltadas para o fisiculturismo mas que na verdade eram fachadas para nudez masculina. Com o advento da câmera Super 8, o VHS e as fitas para alugar, explodiu o mercado pornográfico, tornando produtores milionários da noite pro dia. Os atores em si não ganhavam muito, e precisavam ampliar a renda fazendo prostituição ou aparição em eventos. Outro boom foi na internet, que praticamente substituiu o mercado de locação de filmes. Cenas estão sendo gravadas para serem exibidas diretamente em sites pornográficos. Estimasse que mais de 300 sites pornográficos rondam a Internet com material voltado para o sexo. Segundo o filme, o Mercado do erotismo é maior que o mercado fonográfico, rendendo muito mais. O Cineasta Charlie David entrevista 4 atores pornôs que são estrelas do gênero, e através dos depoimentos deles, podemos avaliar que a pornografia entrou na vida deles como uma válvula de escape. Frustração profissional, terapia, enfim, são vários os motivos que fazem um jovem entrar no mercado do sexo. Bret Everett, Jonny Rapid, Colby Jansen e Rocco Reed falam sobre amor, trabalho, sonhos e ambições. O documentário começa bem quando faz o registro histórico. Quando começam os depoimentos dos 4 atores, o filme entra num lugar comum de respostas editadas com cenas de filmes que não sai daquilo: todos os 4 depoimentos são muito próximos com respostas evasivas e tolas. Na verdade acho o filme melancólico no sentido de entender que os atores que fazem parte tem uma vida útil profissional muito curta. O que vem depois disso? Essa é uma resposta que vale apensa seguir em uma continuação do documentário. Chato do meio pro fim, vale como curiosidade, po para os apressadinhos, ir direto locando ou baixando uma das cenas do filme que pelo menos, virá completa pela internet. Nota: 5

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Borderline- Sem limites

"Borderline", de Lyne Charlebois (2008) Baseado no livro da escritora Marie-Sissi Labrèche, co-autora do roteiro, escrito com Lyne Charlebois, também cineasta, esse filme canadense é um drama erótico que fala sobre uma mulher que chega na idade dos 30. Com a idade, Kiki, estudante de literatura, revê o seu passado tortuoso: a sua relação com sua mãe que enlouqueceu e que foi internada em uma clínica psiquiátrica; a sua formação com sua avó que só pensa na morte; o distanciamento com seu pai, que é impedido pela avó de vê-la. Adulta, ela sofre de síndrome de Borderline, um transtorno semelhante à bipolaridade, onde o doente sofre mudanças bruscas de humor. Para atenuar todas as marcas do passado, Kiki se entrega à bebida e ao sexo desenfreado. Com boas atuações do elenco, e o retorno de Jean Hughes Anglade (de "Betty Blue"), aqui no papel do professor de Kiki, o filme é um drama tortuoso e depressivo sobre a infelicidade. Com boa direção e bela fotografia, os atores se entregam aos personagens em cenas de sexo e de dramaticidade. Mas falta ao filme um frescor. A história é reciclada de vários outros filmes sobre protagonistas depressivas, vide o próprio "Betty Blue" e tantos outros filmes de Lars Von Triers. O filme , de ritmo lento, acaba cansando lá pela metade, com tantas idas e vindas de presente, passado e infância da personagem. Nota: 7

domingo, 24 de agosto de 2014

No olho do tornado

"Into the storm", de Steven Quale (2014) Versão remixada de "Twister", um clássico do cinema catástrofe dos anos 90, "De olho no furacão"foi dirigido por Steven Quale, que também realizou "Premonição 5". O filme pega emprestado o plot de "O dia depois de amanhã" mesclado a "Twister". Na cidade de Silverton, a cidade se prepara para vários eventos: graduação dos alunos em um colégio, 2 jovens entrevistam pessoas com a pergunta: "o que você espera que acontecerá em 25 anos" e a chegada de tornados. Um grupo de caçadores de tempestades espera fazer o registro dos tornados usando alta tecnologia, mas não esperavam que os efeitos dos furacões fossem tão devastadores. O filme em nada acrescenta aos filmes catástrofes que infestaram os cinemas dos anos 90 a década de 2000. Talvez a curiosidade fique por conta do elenco: Richard Armitage, que interpreta Thorin na trilogia "O Hobbit", faz o papel de um professor, e Sarah Wayne Callies, que interpretou a esposa de Rick no seriado "The walking dead", faz uma caçadora de tempestade. No mais, é um filme com roteiro praticamente inexistente, pretexto para muito CGI com carros, aviões, casas voando e sendo arrancadas pelos furacões. Sessão da tarde. Nota: 5

Em seus olhos

"In your eyes", de Brin Hill (2014) Exibido no Festival de Tribeca, essa fantasia romântica aposta no amor verdadeiro, que une fronteiras e que vai além de qualquer tipo de lógica. Filmado em locações na ensolarada New Mexico e na gélida New Hampshire, o filme conta a história de Rebecca e Dylan. Ela mora em New Hampshire, ele em New Mexico. Eles não se conhecem. Mas desde os 10 anos de idade, se mantêm conectados de alguma forma metafísica. 20 anos depois, essa conexão vem em força total. Ela , casada com um médico, e ele, ex-presidiário. Os 2 acabam se apaixonando via telepaticamente, mas precisam enfrentar barreiras para que possam se conhecer. Uma mistura de "A dupla vida de Veronique", de Kieslowski, do romantismo de "Nunca te vi sempre te amei" e do romance Cyrano de Bergerac, essa fantasia é pedida fácil pro sessão da tarde. Singela, bonitinha, e o público fica torcendo pelo amor dos 2 apaixonados que sofrem para poder se conhecer. A direção é correta, mas o ritmo é lento e o filme, longo. Se tivesse cortado uns 20 minutos do filme, teria sido mais interessante. O Casal de atores principais. Zoe Kazan e Michael Stahl-David são bem simpáticos e ganham a torcida da platéia. Bela fotografia, cheia de flaires na lente, efeito visual que gosto bastante. Nota: 6

Não pare na pista- A melhor história de Paulo Coelho

de Daniel Augusto (2014) "NPaulo Coelho é o escritor mais traduzido no mundo depois de Willian Shakespeare. Em 30 obras, seus livros venderam mais de 165 milhões de exemplares em 80 países. NO entanto, as suas adaptações para cinema e tv foram verdadeiros desastres de crítica e público. "Brida", novela da Rede Manchete, foi a última a ser exibida na emissora e acabou bruscamente. "Veronika decide morrer" , com Sarah Michelle Gellar, lançado em 2009, estreou e ninguém viu. Agora Paulo Coelho decidiu contar a sua história. Co-produzido pela Espanha e Brasil, a sua biografia , após ter visto o filme, é um verdadeiro novelão das oito. Tem de tudo: Pai autoritário, mãe passiva, o garoto virgem e que nunca namorou por ser feio, esquizofrenia, sonho de ser escritor rompido , golpe militar, traição, primeiro amor, mulheres e orgias, sexo, drogas e rock'n roll. Isso sem contar na inevitável virada. É um filme de auto-ajuda, que repete a todo tempo a seguinte frase: " Quando a gente sonha o universo conspira a nosso favor! " Sao dois os grandes trunfos do filme: a fotografia extraordinária de Jacob Solitrenick, e o elenco uniforme e talentoso. Os irmãos Ravel e Julio Andrade, Fabiula Nascimento, Lucci Ferreira ( no papel de Raul Seixas) e Fabiana Gugli. Mas o destaque mesmo vai para enrique Diaz, primoroso no papel de Pedro, pai de Paulo Coelho. Comedido sem cair em estereótipos, o ator brilha em várias cenas, a destacar a que ele dirige carro e ouve uma música composta pelo filho e o reencontro emotivo dos dois numa festa na casa do pai. Pontos fracos: o roteiro, que vai e volta no tempo, cansando o espectador e que fica toda hora colocando legenda cronológica( anos 60, 70, 80 2013). E para mim, o maior erro do filme: ter colocado Fabiana Gugli e Julio Andrade para interpretaram Cristina e Paulo Coelho em 2013. Deveriam ter substituido por atores condizentes com a idade dos personagens nessa fase. Fabiana não envelheceu dos anos 80 a 2013, mantendo a mesma fisionomia, enquanto Paulo Coelho sofreu uma caracterização drástica, cheio de próteses, que o impede de mexer os músculos da face. Me chamou a atenção o tempo todo pela rigidez das feições do rosto. O filme vale pela curiosidade de se conhecer a vida de Paulo Coelho, mesmo que em pílulas, e pelo trabalho estético, bonito. N!ao gostei do merchandising forçado da grife "Cavalera" que surgiu no filme. Nota: 7

Palo Alto

"Palo Alto", de Gia Coppola (2013) E a família Coppola se estende no cinema. Agora, a neta de Francis Ford Coppola estréia na direção aos 25 anos, com esse delicado "Palo Alto". Baseado no livro de contos do ator James Franco, intitulado "Contos de Palo Alto", o filme tem ecos de Sophia Coppola, obviamente ( muito semelhante a narrativa e a linguagem com "As virgens suicidas", filmes de estréia da Titia Sophia) e também de Gus Van Sant, de onde Gia empresta o frescor e a espontaneidade da adolescência retratada. Aliás, adolescentes desajustados sempre fizeram a alegria de Cineastas independentes. O Filme foi exibido em vários Festivais, entre eles Veneza e Sundance, com muito sucesso. Nada como um bom Pedigree para abrir portas. Independente do sobrenome, é um sensivel e demolidor retrato de uma juventude sem rumo, que o próprio Coppola já havia retratado tão bem em clássicos como "Rumble fish" e "Vidas sem rumo". Nessa mesa vibe, o filme narra a história de vários adolescentes, mais precisamente de 4: April ( Emma Roberts, sobrinha de Julia Roberts), a virgem da turma. Tímida, ela nutre uma paixão platônica pelo treinador de futebol, Mr B (James Franco); Teddy (Jack Kilmer, filho de Val Kilmer), um garoto que vive drogado e que não larga pé de Fred, seu melhor amigo. Teddy nutre paixão platônica por April; Fred ( Nat Wolff, filho do jazzista Michael Wolff), o porra-louca, sem limites e que leva Teddy pro mal caminho. Seu pai é pedófilo e curte os amigos de Fred. Fred tem tendências suicidas; e Emily, uma jovem ninfomaníaca que transa com todos os garotos. Discutindo temas como perda da virgindade, primeiro amor, drogas, relações familiares, o filme traz o frescor de um primeiro filme de cineasta independente. Belíssima fotografia ( em tom publicitário), excelente trilha sonora com músicas super cool e belo trabalho dos jovens atores, o filme brilha em vários momentos. Nessa reunião de jovens talentos, tanto na equipe quanto no elenco, o filme promete alçar as carreiras de várias pessoas, merecidamente. Destaque para Emma Roberts e Jack Kilmer, intensos e espontâneos. Val Kilmer faz uma ponta, e James franco brinca no papel do treinador sedutor. Nota: 8

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Zenne dancer

"Zenne dancer", de M. Caner Alper e Mehmet Binay(2012) Os cineastas turcos na vida real são casados, e se basearam na história real do assassinato de Ahmet Yildiz em 2008, por seu pai, para contar essa emocionante história. Ahmet é um jovem estudante que mora com sua familia. Sua mãe é extremamente retrógrada e homofóbica. Ahmet se recusa a se alistar no exército. Ele faz amizade com Can, um dançarino Zenne, que são os dançarinos masculinos que fazem dança do ventre. Can também se recusa a se alistar no exército, uma obrigação a todos os homens turcos. A única forma de conseguirem dispensa, é provarem que são homossexuais, e para isso, precisam levar para a banca de militares fotos ou vídeos que os mostrem em atos sexuais com outros homens. Ahmet acaba conhecendo um fotógrafo alemão que faz fotos artísticas de Can, e se apaixonam. O fotógrafo pede para que Ahmet se assuma pra família, mas ele tem medo. Belamente fotografado, essa história de amor e amizade entre 3 homens gays na sociedade repressiva turca tem uma bela direção e também excelentes atores. O filme mostra belas locações em Instambul, e mostra de forma lúdica e também realista a triste realidade dos que tem medo de se expor, vivendo de fachada. A cena no alistamente militar é antológica. O filme tem como pontos fracos a longa duração, o que o torna monótono lá ela metade do filme, e o excesso de personages, diluindo a história dos 3 amigos para outras sub-tramas menos importantes. Melodramático e por vezes cafona, o filme é o retrato de uma realidade que desconhecemos na Turquia. Vale como curiosidade. Nota: 7

Por falar de amor

"Words ans pictures", de Fred Schepisi (2013) Cineasta eclético, Schepisi já realizou ótimo drama ( "Um grito no escuro), bom suspense ( A casa da Rússia) e algumas comédias românticas excelentes, como "Roxanne". Ele retorna com o gênero romântico com "Por falar de amor", reunindo 2 atores consagrados no mundo inteiro, Juliette Binoche e Clive Owen. Ambos já trabalharam em várias comédias e se dão bem no gênero. No entanto, o filme não funciona. O roteiro fala sobre um professor alcóolatra que rompeu com esposa e filho por conta de seu problemas. Ele dá aula de literatura inglesa em um colégio e passa seu tempo fazendo joguinhos com palavras com seus colegas professores. Um dia, uma professora de arte ( Binoche) surge na escola para dar aulas de pintura. Todos os dois são mau-humorados e destratam seus alunos pelo pouco envolvimento deles com a arte e a literatura. Delsanto, a professora, sofre de artrite reumatóide, o que provocou a parada em sua carreira promissora de pintora. O professor Marcus propõe então uma rivalidade entre os alunos sobre o que lhes interessa mais: as palavras ou as imagens? Personagens antipáticos, longa duração ( quase duas horas), ritmo lento e história recheada de clichês tornam o filme pouco atrativo. O amor posterior entre os dois professores não convence. O filme tem uma semelhança com a série de tv "Glee", mais por conta do estímulo que os professores dão a seus alunos loosers. Filme chatinho, uma pena. Ingenuidade para a sessão da tarde. Nota: 5

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Belém: Zona de conflito

"Bethlehem", de Yuval Adler (2013) Longa de estréia do Cineasta israelense Yuval Adler, que já trabalhou no Serviço secreto israelense. Junto do roteirista muçulmano Ivan Wakad, eles entrevistaram vários oficiais palestinos e informantes. O filme narra história de Sanfur, um jovem palestino de 17 anos, que por 2 anos, está sendo obrigado pelo serviço secreto israelense a fornecer informações sobre terroristas palestinos. No caso de Sanfur, ele precisa passar dados sobre o seu irmão Ibrahim, líder terrorista, para o agente secreto Razi. O filme fala sobre fidelidade traições, amor pela família e pela pátria. Bem dirigido e com ótimos atores, o filme é uma co-produção Israel, Alemanha e Bélgica. Foi indicado por Israel para uma vaga para o Oscar, mas não foi selecionado. Venceu porém um prêmio especial em Veneza. O filme narrado em ritmo de thriller policial, tem uma queda de ritmo lá pela metade do filme, e o conflito Palestina e Israel já fi melhor representado em outros produções do Oriente médio, como "Uma garrafa em Gaza" ou "A bolha", de formas distintas. Vale mais pela curiosidade de se conhecer um pouco sobre essa jornada infernal de jovens informantes que traem sua pátria. Nota: 7

O menino no espelho

"O menino no espelho", de Guilherme Fiúza Zenha (2014) Filme baseado no livro homônimo de Fernando Sabino, que faleceu em 2004, conta suas memórias de infância na Belo Horizonte dos anos 30. Através da história do menino Fernando, de 8 anos, o filme narra a crônica de um mundo mergulhado no entre guerras. Fernando experimenta amizades, primeiro amor e muitas aventuras, sempre ao lado de seu irmão menor e os amigos Pedro e Mariana, que nutre paixão platônica pelo menino. Sempre metido em encrencas, devido à sua alta imaginação, Fernando fica de castigo, imposto pelos pais, e acaba liberando o seu duplo que habitava no espelho. Ele faz um pacto para que o duplo viva a sua parte chata da vida (Colégio, pais) enquanto ele vai brincar com os amigos e paquerar sua prima da cidade grande ( Laura Neiva). Fernando é interpretado pelo paulista Lino Facioli, que fez a fama interpretando Robin Arryn, personagem de "Game of Thrones". Atualmente morando em Londres, Lino tem q difícil tarefa de dar vida a dois personagens. O elenco se complementa com Mateus Solano e Regiane Alves, que interpretam seus pais, Ricardo Blat, um Major ultra patriota e a professora severa da atriz Gisele Froes. Nitidamente inspirado no clássico francês "O pequeno Nicolau", "O menino no espelho" provoca simpatia do espectador pela sua pureza e ingenuidade, um olhar adulto nostálgico. Com excelente fotografia de José Roberto Eliezer, e linda direção de arte de Oswaldo Lioi, o filme carecia de uma divulgação mais voltada para o público infantil. Foi lançado no circuito e poucas pessoas foram vê-lo. Uma pena. O filme tem problemas, como edição e elenco irregular, principalmente infantil. Mas no geral, agrada. No Cinema brasileiro, está no mesmo patamar dos ótimos "Uma professora muito Maluquinha", "O menino Maluquinho" e "A dança dos bonecos", exemplo de filmes infantis que fizeram a mente de muito marmanjo nostálgico. Nota: 8

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

À procura de Mr Goodbar

"Looking for Mr Goodbar", de Richard Brooks (1977) Um grande clássico do cinema maldito de Hollywood dos anos 70/80, época onde os grandes estúdios investiam em histórias barra-pesadas e que tinham como locações o submundo underground das grandes cidades. Filmes como "Parceiros da noite", de Willian Friedkin, e "À procura de Mr Goodbar" provocaram verdadeiro furor e comoção na midia por conta de seu painel devastador da sociedade que se entrega às drogas e sexo sem qualquer tipo de moral e pudor. Em ambos os casos, a morte é a única solução para que se cure essa doença social. Baseado em história real, da professora Roseann Quinn em Nova York, que foi assassinada por um de seus parceiros sexuais., e posteriormente lançado como livro de grande sucesso. Diane Keaton interpreta Theresa, uma professora de crianças problemáticas. Theresa tem um trauma de infância: ela contraiu polio, o que deixou cicatrizes nas suas costas que a fazem sentir vergonha. Por conta disso e de toda a humilhação que ela passou, ela evita relacionamentos. Ela quer aventuras. Quando resolve sair da casa de seus pais, ela se entrega a uma vida de sexo e drogas desenfreado. sem culpa. De dia, a boa professora, e d enoite, a mulher sexualmente independente, dona de si e que escolhe com quem ela quer transar. Mas o destino irá lhe reserva uma final trágico, nas mãos de um homossexual enrustido. Acusado de moralista, o filme foi uma revolução no comportamento das mulheres da época, que estavam ganhando espaço na mídia justamente pela sua independência profissional e sexual. O filme caiu como um balde de água fria. Diane Keaton, que estava casada com Woody Allen e no mesmo ano, lançou "Noivo nervoso, noiva neurótica", um grande sucesso de crítica e público. chocou a todos, inclusive a Woody Allen, com suas cenas de sexo e uso de drogas. Ninguém esperava que Annie Hall, sua personagem no filme de Woody, pudesse fazer algo tão radicalmente oposto e perturbador como em "Mr Goodbar". Ela ganhou o Oscar por Annie Hall, mas com certeza o prêmio também veio pela sua atuação devastadora nesse filme de Richard Brooks, diretor que até então só havia feito filmes clássicos. Brooks inova na linguagem usando fotos e flashbacks na montagem de forma esquizofrênica, provocando uma narrativa de filme sujo, maldito. A fotografia é em tons escuros, a trilha sonora toda composta por clássicos da Disco Music que eram o grande must do momento. O filme também lançou as carreiras de Richard Gere e Tom Berenguer, que vieram a fazer muito sucesso depois. Diane Keaton nunca mais fez nada parecido, mas pode se orgulhar de ter feito esse filme estranho e crú. Na época, a campanha publicitária era "Diane Keaton in the rough". Um filme assustador e com um dos finais mais apavorantes da história do cinema. Nota: 8

domingo, 17 de agosto de 2014

O ciúme

"La jalousie", de Philipppe Garrel (2013) Trabalhando pela 4a vez com o seu filho ator, Louis Garrel, o cineasta francês Philippe Garrel realiza aqui o seu melhor filme. Ele se baseou na história de seu pai, o ator Maurice Garrel, que abandonou a sua mãe para viver com uma atriz. Em "O ciúme", Garrel narra um drama acri-doce sobre a vida de atores. Louis (Louis Garrel) se separa da mãe de sua filha e vai viver com uma atriz desempregada, Chotilde. O fato de ter ficado a mais de 6 anos sem conseguir um papel faz com que Clothilde mergulhe em depressão. Louis também é ator, e se vira como pode para pagar gastos com apartamento. Vez ou outra ele passa o dia com a sua filha, e como bom galanteador, flerta com outras mulheres. Filmado num belíssimo preto e branco, assinado por Willy Kurant ( que realizou entre outros, "Masculino feminino" de Godard) e com uma excelente trilha sonora que exala melancolia, o filme foi lançado em Veneza 2013. O elenco é excelente. Além de Garrel, as atrizes Anna Mouglalis ( de "Coco Chanel e Stravnsky"), Rebecca Convenant ( que interpreta sua ex) e Olga Milshtein, que interpreta sua filha, possuem momentos solos absolutamente geniais. A cena da mãe perguntando durante o jantar para sua filha como foi o dia com o pai e a amante é antológica. Esther Garrel, irmã de Louis Garrel, interpreta sua irmã no filme. Os diálogos são primorosos. Philippe Garrel filma com o estilo e narrativo de algum filme clássico francês dos anos 60, tipo Truffaut ou Claude Chabrol, exalando romantismo e delicadeza. Nota: 8

sábado, 16 de agosto de 2014

Lucy

"Lucy", de Luc Besson (2014) Em 2001, foi lançado um filme de ação dramático chamado "Sem limites", com Bradley Cooper e Robert de Niro. A história girava em torno de um escritor fracassado que após se injetar com uma droga sintética, vai adquirindo a capacidade de expandir o cérebro, conseguindo ler livros em segundos, aprender tudo pela internet, habilidades de luta e tudo o mais que ele quiser. Em 2014, Luc Besson lança "Lucy". Lucy é uma jovem americana que mora em Taiwan e conhece um peguete numa balada que a obriga a fazer papel de mula e entregar uma pasta para mafiosos chineses. Conteúdo? Droga sintética. OS chineses a sequestram, colocam um saco da droga em seu estômago que acaba sendo misturado ao sangue quando ela leva porrada na barriga. A partir daí, ela adquire poderes de telecinese, lê livros em segundos e adquire habilidades para lutas. As duas sinopses são semelhantes. Mas para por aí. Luc Besson tem aquele estilo completamente espalhafatoso de fazer filme de ação. Mesclando ação, aventura e muito humor, seu filme é uma diversão descerebrada, onde o que menos importa é a lógica. Besson quer que as pessoas se divirtam, e é somente isso. Scarlett Johanson parece estar se divertindo bastante fazendo o filme. No papel de super heroína, seu personagem parece uma mescla da extraterrestre de "Sob a pele" e a Viúva negra de "Os vingadores". Aliás, em "Lucy", Besson investe na mesma bizarrice e estranheza do filme de Johathan Grazer, além da sensualidade de sua protagonista. O desfecho é a homenagem de Besson a "2001, uma odisséia no espaço". A homenagem é tão, mas tão louca e inesperada, que é quase impossível ficar incólume às loucuras desse diretor francês. E é isso que admiro nele, não tem medo de pagar mico. Bela fotografia de Thierry Arbogast, fiel colaborador de Besson. É um dos orçamentos mais altos do cinema francês, custando mais de 40 milhões de euros. Nota: 7

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Boyhood - da infância à juventude

"Boyhood", de Richard Linklater (2014) Puta merda, que filme incrível! Em 2012, Michael Winterbotton lançou o excelente "Todos os dias", onde acompanhamos 5 anos na vida de uma família. No filme, Winterbotton usou as mesmas crianças e filmou durante esse período. Em "Boyhood", Linklater vai mais além. Durante 11 anos, de 3 a 4 dias por ano, ele juntou o elenco e equipe para filmar cenas do longa. O filme, um épico familiar, vai de 2002 a 2013. Acompanhamos a história de Mason (Ellar Coltrane) , um menino de 6 anos, que mora com sua mãe (Patricia Arquette) e sua irmã Samantha ( Lorelei Linklater, filha do próprio diretor). Os pais são divorciados. O pai (Ethan Hawke) é um imaturo que vive pulando de galho em galho, fazendo bicos e se achando um eterno garotão. Durante esses 11 anos, Mason vai se deparar com rusgas familiares, os vários namorados de sua mãe, vai experimentar drogas, álcool, primeiro amor, se reaproximar de seu pai, religião, vai duvidar de sua sexualidade, vai se apaixonar por fotografia e finalmente, entrar na faculdade. O filme, importante dizer, faz um registro cultural do que se consumia na sociedade americana de cada ano: Britney Spears, Lady gaga, Harry Potter e por aí vai. A trilha sonora do filme é um verdadeiro compêndio do que se ouvia nesse período. Linklater, ao preparar esse projeto com o seu amigo Ethan Hawke, se arriscou bastante. O filme inteiro está nas costas do então menino Ellar Contrane, e se o garoto não tivesse se tornado um ótimo ator, tudo iria por água abaixo. O Elenco é um verdadeiro capítulo á parte: todos, absolutamente todos, estão formidáveis. Linklater ;e generoso e cada um de seus personagens, mesmo os menores, têm elo menos uma cena destacada e de grande força dramática. Os jovens Ellar Coltrane, Loralei Linklater, Patricia Arquette ( em sua melhor performance) e Ethan Hawke estão antológicos nos seus papéís. E como é grandioso poder ver um filme com os mesmos atores em idades distintas. Ver as crianças crescendo, engordando, ficando feias, emagrecendo, ficando bonitas, é algo milagroso. Linklater é um Mestre do naturalismo, vide sua trilogia "Antes do amanhecer". Seus diálogos são primorosos, escritos em conjunto com o elenco. Nenhum diálogo é desperdiçado. O filme é longo, são quase 3 horas de duração. É um tour de force , mas para quem entender a proposta do filme, será um presente que somente o CInema pode proporcionar. Muitas cenas antológicas vão surgindo, e destaco duas: Samantha pequenininha torturando Mason cantando "Ooops I did it again", de Britney Spears, e a cena da mãe se dando conta que ficou sozinha, com a partida de Mason pra faculdade. Chorei muito muito muito, tipo a cena final de "Toy story 3". É a lição do desapego, que vem com força total aqui no filme. O filme ganhou o Prêmio de melhor direção em Berlin 2014. Nota: 9

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Sacrifícios de Andrei Tarkovsky

"Jertivoprinosheniya Andreya Tarkovskovo", Denis Trofimov (2012) Excelente documentário sobre vida e obra do cineasta russo Andrei Tarkovsky, que até hoje, influencia cineastas no mundo inteiro com a sua linguagem cinematográfica completamente pessoal. Longos travellings, planos-sequências, temas relacionados à culpa, ao exorcismo de fantasmas pessoais, às ciências, ao homem desolado com sua dor espiritual, a descrença absoluta na sociedade e nas pessoas. Como diz um dos depoentes no filme, "Existe o Cinema e existe o Cinema de Tarkovsky". Ele é um Mestre dos simbolismos embutidos nas imagens. Através de seus 7 filmes realizados, ele demonstra a sua paixão pela arte de filmar. No documentário, ouvimos relatos de atores, técnicos e parentes sobre o seu processo criativo e de como sua vida pessoal guiou sua vida profissional. Namorou atrizes, casou-se com sua assistente, destratou o seu operador de câmera, e principalmente, tiranizou os seus atores. Mas mesmo extraindo do elenco o máximo do sacrifício físico e mental, esses o veneram e dizem que fariam qualquer coisa para entrarem na alma do personagem. Reza a lenda que as locações filmadas para o filme "Stalker" provocou a morte prematura de seus atores de de Tarkovsky, que morreu em 86 de câncer da garganta. Eram lugares poluídos, regiões contaminadas. A curiosidade em torno de "Stalker" e que eu desconhecia é de que o filme teve problemas técnicos e que Tarkovsky teve que refilmá-lo inteiramente, dessa vez, mudando o tom dos personagens. Venerado no Ocidente mas execrado na União Soviética, onde era considerado não patriota. Mesmo com os vários prêmios internacionais, Tarkovsky sempre viveu na pobreza. A colaboração com o roteirista italiano Tonino Guerra o trouxe até a Itália, e dali, não voltou mais para a União Soviética, deixando filho e esposa para trás fato que o deixou muito depressivo. Na Itália, filmou "Nostalgia" Um documentário essencial para os fãs de um dos maiores Cineastas de todos os tempos. Nota: 9

domingo, 10 de agosto de 2014

Começar de novo

"Reprise", de Joachim Trier (2006)

Nor'easter

"Nor'easter", de Andrew Brotzman (2012) Longa de estréia do roteirista e curta-metragista Andrew Brotzman, é uma bela surpresa. Rodado com baixíssimo orçamento, essa produção independente americana foi financiado pelo site de crowdfunding "Kickstarter". O tema lembra o clássico de Hitchcock, "A tortura do silêncio". No filme, o padre interpretado por Montgomery Clift ouve a confissão de um assassino, mas é impossibilitado de denunciá-lo por conta de seus votos para com a Igreja católica. Em "Nor'easter" ( que significa o vento forte que sopra no Nordeste dos Estados Unidos, mais precisamente na Ilha do Maine, onde o filme é estabelecido), os pais do jovem Josh sofrem com o desaparecimento do menino aos 11 anos de idade, por um período de 5 anos. Os pais acreditam que o menino está vivo, mas o jovem padre Erik faz com que eles aceitem a morte do rapaz e encomendem um funeral. Após a mídia anunciar o enterro, súbito, Josh reaparece. Calado, ele não relata nada aos pais o que aconteceu. Mas em uma noite, ele vai ao encontro do Padre Erik e faz a confissão: ele foi sequestrado por um homem e forçado a viver com o pedófilo. A partir desse momento, a vida de Padre Erik se divide em 2 grandes conflitos: pessoal e profissional. Ele não pode denunciar o pedófilo, e também precisa entender a sua própria sexualidade. Um filme complexo em suas ambições dramatúrgicas, mexendo com religião e sexualidade de forma vibrante. O filme também mexe no tema da sindrome de Estocolmo: o jovem Josh é incapaz de denunciar o pedófilo para a polícia, e pior, o ama. Os atores estão ótimos, e a atmosfera criada pela fotografia escura e pela trilha sonora angustiante provocam no espectador um constante clima de suspense. Inteligente, o filme acerta ao priorizar as imagens, deixando que elas falem por si só, Os diálogos são poucos. A cena do padre observando os meninos enquanto ele pratica o hockey como válvula de escape para a sua homossexualidade é belíssima. O filme prova que é possível fazer projeto de qualidade com pouquíssimo orçamento. O que estraga o filme são os 10 minutos finais, dispensáveis. Deveria ter acabado antes. Nota: 7

sábado, 9 de agosto de 2014

O homem das multidões

"O homem das multidões", de Marcelo Gomes e Cao Guimarães (2014) Adaptação livre do conto de Edgar Allan Poe, "O homem da multidão", que narra a história de um homem que se senta em um café e observa um idoso, e o segue pelas ruas. No filme de Marcelo Gomes e Cao Guimarães, essa referência ao conto só acontece no desfecho. O idoso é um espelho do personagem de Juvenal (Paulo André, do grupo Galpão), um condutor de trem do metrô em Belo Horizonte. Solitário, ele vaga pelas ruas de Belo Horizonte para se sentir "abraçado"pelas pessoas. Assim como Juvenal, Margô (Silvia Lourenço), supervisora das linhas de trem do metrô, e chefe de Juvenal, observa a solidão do amigo e se espelha na realidade dele. Prestes a se casar, ela abdica da suposta felicidade de casada para se envolver emocionalmente com a paz e independência de Juvenal. Aos poucos, ela vai entrando cada vez mais no universo dele, mas sem se tocarem ou trocarem mais do que cinco palavras. Filmado em formato 4X $, o filme dá a impressão de estarmos vendo vídeos do Instagram. Pode ser que essa seja a intençào dos autores, a de estarmos invadindo a vida de pessoas que nem conhecemos, assim como fazem milhões de pessoas que acessam virtualmente a vida de pessoas que seguem. A fotografa estonteante de Ivo Lopes Araujo, do excelente "Tatuagem", parece se utilizar de filtros do Instagram: hora fica preto e branco, ora saturado, ora no dourado e por aí vai. Ousado esteticamente, senti falta de uma dramaturgia que sustentasse a história de 90 minutos. Um filme composto de belos planos, bela fotografia e trilha sonora e atuações vibrantes do elenco merecia um roteiro que explorasse melhor a vida dos personagens, como no ótimo filme argentino "Medianeiras", que também usa a solidão como tema. Aliás, o filme me lembrou bastante meu curta "Pietro", pela ausência de palavras, o amor sem sentimentos e pelo sorriso esboçado no final. Nota: 7

The rover- A caçada

"The rover", de David Michôd (2014) Em 2010, uma produção australiana de baixo orçamento sacudiu Hollywood, sendo inclusive indicado ao Oscar de atriz coadjuvante para Jackie Weaver. Desde então, tanto Weaver quanto o cineasta David Michod chamaram atenção dos grandes estúdios. Agora, em "The rover" ( na tradução literal, "O nômade"), Michod dirige e escreve um drama apocalíptico tendo como protagonistas 2 astros de Hollywood: Guy Pearce e Robert Pattinson. Os dois inclusive são o grande motivo para se assistir a esse filme. Totalmente imersos em seus personagens, eles brilham na tela toda a vez que aparecem. Pattinson prova que mesmo um dos rostos mais belos do cinema também pode fazer a performance de um homem retardado sem cair em estereótipos. Trabalhando corpo e olhares, Pattinson em nada lembra qualquer performance que tenha feito antes, tendo sido elogiado no Festival de Cannes 2014, onde o filme concorreu na seleção oficial. Após um colapso econômico, o mundo mergulha em um universo caótico que lembra "Mad Max". Nessa terra de ninguém, cada um cuida do seu e teme o outro. Um trio de bandidos sofre um acidente de carro e acaba roubando o carro de Eric (Guy Pierce). Ele resolve ir ao encalço dos homens para reaver o carro. Em seu caminho, ele se depara com o irmão retardado do chefe dos bandidos. Rey (Pattinson), o jovem, é usado como isca para ir atrás do bando, mas tanto ele quanto Eric acabam criando um laço de amizade. Excelente direção, trilha sonora provocante e climática, fotografia brilhante e atores que compõem personagens carismáticos. Um belo exemplar de filme que mescla ação, drama e estética. Nota: 8

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O chamado

"The calling", de Jason Stone (2014) Suspense protagonizado por Susan Sarandon, interpretando uma personagem que segue os moldes de Clarice Sterlling de "O silêncio dos inocentes" mesclado ao personagem de Frances Macdormand em "Fargo". O filme inclusive parece uma versão esticada de um episódio da série "Hannibal". Sarandon interpreta a policial Hazel Micallef, que trabalha em uma cidade do interior chamada Fort Dundas, onde muito pouco acontece. Mau-humorada e intempestiva, Hazel segue sua rotina até que um dia uma idosa é encontrada morta, com seu pescoço degolado. A esse crime, se seguem vários outros. Auxiliada pelos detetives Ray e Ben (Topher Grace), Hazel acaba descobrindo que um serial killer envolvido em religião está cometendo os crimes. Um filme sem grandes surpresas, mesmo porquê tudo no filme lembra vários outros filmes. Direção correta, roteiro previsível, ritmo lento e cansativo. O que interessa nesse filme? O elenco. Afinal, colocar Susan Sarandon, Donald Sutherland e Ellen Burstyn em um mesmo filme, é um feito para poucas produções medianas independentes. Uma pena que o filme não provoque maiores desafios para prender a atenção do espectador. Nota: 5

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Guardiões da Galáxia

"Guardians of the galaxy", de James Gunn (2014) Todo filme da Marvel que os produtores ficam na d;uvida se vai funcionar ou nao, eles recheiam o casting com Atores consagrados. Foi assim em "Thor" e "Capitão América". E não poderia ser diferente com esse "Guardiões da Galáxia". Além de Chris Pratt, Zoe Saldana e as vozes de Bradley Cooper e de Vin Diesel, temos também Glenn Close, Djimon Hounsou. John C. Reilly, Michael Rooker, Benicio Del Toro e Josh Brolin. Convém também comentar que o filme pega o espectador com mais de 40 anos através de uma trilha sonora recheada de canções clássicas dos anos 70 e 80. Cinematograficamente, o filme presta homenagem a "Caçadores da arca perdida", 'Star Trek" e "Avatar". Desse último, não só pegou emprestado Zoe Saldana, como faz uso de 2 cenas famosas do filme: o ambiente escuro iluminado por pequenos fachos de luzes e um salvamento que lembra um momento tenso do filme. Confesso que eu praticamente não sabia quase nada dos personagens. Assistir ao filme foi delicioso, pois fui apresentado a eles de forma gradual. Nem fazia idéia quem eram os heróis e seus supostos poderes. O filme conquista o espectador pelo seu humor ferino, os diálogos debochados e o visual colorido bem anos 80, diferente do que se vê hoje em dia em termos de ficção científica. Fico até imaginando o quão estranho seria um crossover dos guardiões com os Vingadores. É um tipo de humor diferente, mesmo porquê aqui temos 3 integrantes que são puro CGI. A história é a mesma de sempre: heróis que se juntam apesar de suas diferenças e lutam contra um vilão que quer dominar o mundo. Mas a direção e os atores criam uma simbiose tão bacana e parecem se divertir tanto, que essa simpatia e alegria transparece durante o filme todo. O filme tem momentos bem bonitos, e a fotografia é um desbunde. Algumas cenas antológicas, como uma que um vilão mata toda uma tropa se utilizando de uma espécie de flauta zarabatana. E na boa, como é bom ver uma atriz do quilate de Glenn Close fazendo um filme tão pipocão quanto esse. Para se assistir sem medo e levar da filha pequena à avó. Sem violência, sem putaria. Apenas diversão, das boas, puro sessão da tarde. Nota: 8

Locke

"Locke", de Steven Knight (2013) O Cineasta e roteirista Steven Knight escreveu, entre outros filmes famosos, 'Senhores do crime", de David Cronemberg. Aqui, ele exercita sua verve de cineasta independente e autor de histórias colocando um protagonista dentro de um carro durante os 85 minutos do filme. Ivan Locke ( Tom Hardy, de longe, a melhor coisa do filme) é um engenheiro da construção civil que está com um grande dilema: ele possui uma amante, e ela dará à luz em Londres em 2 horas. Ele resolve sair do trabalho, pegar o carro e durante 2 horas, sair de Birmingham e seguir até Londres, onde ela se encontra, para poder acompanhar o nascimento do filho. Porém, Locke é casado. Ele liga para filhos e esposa, e relata para ela a sua história de traição. Também avisa ao seu chefe que não estará no grande evento do trabalho que ocorrerá no dia seguinte. Rodado em 8 noites, com 3 câmeras rodando simultâneamente enquanto o ator dirigia o carro na estrada, o filme carece de um tom de suspense que prenda o espectador e o mantenha interessado. Assim como em "Enterrado vivo", onde o personagem de Ryan Reynolds tinha que tentar sair de um caixão durante todo o filme, aqui em "Locke"o personagem precisa se livrar metaforicamente de sua vida passada e começar uma nova. Até o seu nome "Locke", quase "Locked" em inglês, tem essa conotação de duplo sentido. A fotografia do filme é muito bonita, realçando as luzes dos sinais, faróis, luminosos. Os diálogos são cansativos, pois não sai do mesmo assunto. O filme para dar certo teria que ter sido um curta-metragem. Ter realizado de forma a ser um filme em tempo real o prejudicou. É um filme cansativo. Todo o mérito vai para Tom Hardy, que está excelente no papel do homem em conflito com vida pessoal e profissional. Nota: 6

domingo, 3 de agosto de 2014

O estudante

"El estudiante" de Santiago Mitre (2011) Curioso o caminho do circuito exibidor nacional. Esse filme, vencedor de vários prêmios internacionais em 2012, incluindo prêmio especial em Locarno, somente agora, 3 anos após sua realização, conseguiu espaço na programação dos cinemas. Em tempos de manifestantes presos aqui no Rio de Janeiro, esse filme vira uma cartilha sobre a educação poíitica de um jovem alienado que acaba militando em prol do amor de uma mulher e consequentemente pelo seu País. Esse é o filme argentino mais referencial a Godard, principalmente seu clássico "A chinesa". Jovens estudantes que se envolvem com militância e que resolvem discutir o futuro da educação e de seu País.Sem quebra-quebra e se utilizando apenas do discurso, o filme fala sobre amor, paixão e frustração. Orçado em 30 mil dólares, o filme levou 7 meses para ser rodado. Não encontrou financiamento por parte do Governo, e precisou ser rodado aos poucos, em esquema documental. Pablo Trapero foi um dos que apoiaram a produção, por conta de sua amizade com Santiago Mitre, que veio a escrever vários de seus roteiros, entre eles, "Abutres". Roque é um jovem do interior da Argentina que pela terceira vez, tenta cursar uma faculdade. Dessa vez, ele escolheu ciências sociais. O que ele quer: tudo, menos estudar. Namoro, sexo, drogas e rock'roll. Mas ao se deparar com Paula, uma jovem professora, ele acaba se envolvendo nos meandros da política, no caso, a eleição para nova diretoria de professores da Faculdade de Buenos Aires. Aos poucos, ele vai descobrindo que em política, vale tudo, ate mesmo não confiar em ninguém. Fazendo uso de uma trilha sonora estranha, com instrumentos de percurssão, o filme quer provocar discussão sobre educação, ética, sociedade. Se utilizando de não-atores e alguns atores, o cineasta Santiago Mitre cria aqui um drama poderoso para quem se interessa pelo assunto da politica. Para os que não curtem, o filme pode se tornar bastante cansativo. Ele é verborrágico, tem até alguns poucos momentos de humor, principalmente na entrada do personagem do pai de Roque. O elenco todo funciona muito bem. A direção é correta e a fotografia suja, como convém a um filme de formato documental. O ritmo é bastante lento, e o filme é longo, quase 2 horas. Mas é uma ótima pedida para quem gosta de falar sobre o filme após uma sessão com amigos. Nota: 7

sábado, 2 de agosto de 2014

Sharknado 2 - A segunda onda

"Sharknado 2: The second one", de Anthony C. Ferrante (2014) A continuação do insano e clássico "Sharknado" agora se passa em Nova York. No 1o episódio, os personagens Finn ( Ian Ziering) e April (Tara Reid) seguem de avião até Nova York para o lançamento do livro escrito por April. O livro, de grande sucesso, fala sobre como sobreviver a um tornado de tubarões, no caso, o que devastou Los Angeles no filme anterior. O que eles não esperavam é que um novo tornado trouxesse de novo os tubarões, que agora, se deliciarão com a Estátua da Liberdade, Empire States, Metrô, Times Square e outras atrações turísticas da cidade. Nem os filmes mais catastróficos e blockbusters de Hollywood foram capaz de devastar tanto a cidade de Nova York quanto essa aventura bizarra de Anthony C. Ferrante, diretor das duas partes dos tubarões voadores. Na continuação, a onda dos tubarões já não traz tanta surpresa assim, pois todo o cartucho do besteirol e da sandice ja fora gastos no filme anterior, aliás, bem melhor. O que vale aqui é rever os protagonistas e se deliciar com a destruiçao em CGI vabagundo da cidade sendo detonada. No mais, rir bastante com o prólogo e o final, pois o miolo é bem sem graça e deja vu. Como era de se esperar, o amadorismo das atuações é uma atração à parte. O público se diverte. Algumas cenas são antológicas, e curioso, a censura dessa vez meteu a tesoura. Praticamente não vemos os ataques, pois já são logo cortados. Sangue que é bom, nada. Nota: 6

A história de Richard O

"L'histoire de Richard O", de Damien Odoul (2007) O ator Mathieu Amalric protagonizou nesse filme francês várias cenas de sexo explícito, que inclui masturbação, sexo oral, etc. E nem por isso ele deixou de fazer outros trabalhos. Pelo contrário, ganhou respeito da crítica européia. O cinema francês, em relação a erotismo e despojamento de seus atores, está anos luz a frente do cinema nacional. Nesse flme-ensaio, Almaric interpreta um homem em crise com sua namorada, que cobra uma gravidez. Irritado, ele a dispensa e junto de seu amigo videasta, resolve buscar sexo fácil e promíscuo com outras mulheres. Usando depoimentos de seu amigo, que entrevista mulheres aleatoriamente na rua, fazendo seus relatos sexuais e fetiches, Richard O. ( uma alusão ao erotismo fetichista de "A história de O.", clássico dos anos 70) entra em contato com cada uma deles e se oferece para objeto sexual. Descontínuo e elipsado, o filme percorre a linguagem de um filme de arte para expôr a vida sexual desse homem em conflito consigo e com a sociedade francesa. O filme tem um ritmo lento, as cenas de sexo são escuras e sem tesão, estando mais para sexo grotesco do que sensual. Vale como curiosidade para assistir a um filme onde um ator celebridade como Mathiew Almaric protagoniza cenas de sexo reais sem qualquer pudor. Tudo pela are. Nota: 5