domingo, 26 de outubro de 2014

Separados pelo inverno

"Zemastan/It's winter", de Rafi Pitts (2006) O título do filme se deve ao fato de 2 homens surgirem e sumirem da vida da protagonista feminina Khatoun, entre um inverno e outro. Nessa estação gélida e repleta de neve, vive Khatoun com seu marido, filha e sogra. Desesperançado e sem emprego, Marhab, o marido, avisa que viajará para o exterior para procurar emprego e enviar dinheiro para casa. Meses se passam e ninguém recebe notícias dele. Paralelo, Moktar, um jovem desempregado, chega na cidade em busca de emprego. Ele arranja um bico como mecânico. Ao avistar Khaloun, ele se apaixona por ela, mas ela ainda está aguardando a chegada do marido desaparecido. Triste e trágico drama que fala sobre desemprego, falta de esperança, futuros incertos e silêncio. O filme, de poucos diálogos, é conduzido por uma narrativa extremamente cinematográfica: planos épicos, emoldurados pela neve e pelo branco das locações. Os olhares, o mundo ao redor que mais assusta do que afaga. Como se divertir nesse mundo tão frio? frio de temperatura e de alma dos personagens. A cena dos dois homens se divertindo de noite, sem dinheiro, é antológica. Outra cena brutal de poesia é o desfecho, na estação de trem. O filme, de 2006 e somente agora no final de 2014 lançado em circuito comercial, concorreu no Festival de Berlin 2006. Eu amo cinema iraniano, que conduz uma narrativa em cima de fiapo de história. Suas imagens são poéticas, embalando a rotina e a vida dura de seus personagens com alegorias e raros sorrisos. Observar os 2 protagonistas masculinos, antagônicos em ação ( um parte e o outro chega) e em espírito ( um triste e recluso, o outro alegre e vaidoso) é arrebatador. É um filme para cinéfilos: lento, arrastado, onde quase nada acontece. Mas para olhares atentos, o que acontece machuca e muito a alma. Nota: 8

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