quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Sozinho contra todos

"Seul contre tous", de Gaspar Noe (1998) O argentino erradicado an França Gaspar Noe provoca calafrios em boa parte dos cinéfilos. Isso porquê em todos os seus filmes, sexo e violência chegam em doses cavalares. E não necessariamente nessa ordem. Seu filme mais famoso, "Irreversível", provocou ira e protestos de grupos feministas por retratar a mulher como objeto de misoginia. A cena do estupro chocou o mundo. Mas no mesmo filme, uma cena de espancamento explícito usando um extintor de incêndio estourando a cabeça de um homem provocou debandada de metade da sala de cinema aonde eu estava. E isso nos primeiros dez minutos de filme. Mas de onde vem toda essa fúria? "Sozinho contra todos" foi o primeiro longa de Gaspar Noe. Lançado em 98, causou polêmica aonde foi lançado. Continuação do média-metragem "Carne", o filme narra a história de um açougueiro em busca de sua filha. Contado dessa forma, o filme parece sessão da tarde. Mas junte a isso incesto, espancamento de uma grávida, tiros que estouram miolos, depravação e o mais profundo existencialismo pessimista que você já teve notícia em um filme. Esqueça Antonioni: aqui o existencialismo entra fundo na questão de via e morte. Gaspar Noe mais uma vez mostra a sua visão amarga, odiosa, brutal da vida. Seus personagens odeiam a si mesmo e aos outros. Se puder, sairiam matando todos que encontram pela frente. Uma versão hardcore de "Taxi driver". O elenco, especialmente Philippe Nahon no papel principal, embarca nessa viagem sem fim da mente doentia e desesperada do cineasta. A gente se pergunta o porquê de tanto ódio na mente e coração das pessoas. E a resposta, bom, cada um busque a sua interpretação. A direção é intensa, e a edição de som é vibrante: composto de planos fixos, os poucos movimentos de câmera são acompanhados de sons de tiro. E o mais louco de tudo: faltando 20 minutos para fim do filme, surge uma cartela que alerta o espectador de que ele tem 30 segundos para sair da sala do cinema. Curiosos para saber o que acontece: assistam ao filme. A verborragia explícita do pensamento do protagonisia me cansou bastante, mas no geral é um filme muito interessante. Nota: 7

sábado, 22 de novembro de 2014

Ouija: O jogo dos espíritos

"Ouija", de Stiles White (2014) Filme de estréia do Diretor de efeitos especiais Stiles White, que entre outros, realizou "Jurassic Park 3" e " O sexto sentido". Buscando no famoso jogo dos espíritos "Ouija", o filme recorre a narrativas manjadas de filmes de terror adolescente, como a série "Premonição". A fórmula? Garotada bonita, maldições e mortes que vão rolando uma a uma na tela. Claro que todo mundo sabe quem vai morrer, claro que todo mundo sabe como será a última cena..mas mesmo assim, o filme arrebentou na bilheteria americana, rendendo quase 1o vezes o seu orçamento. Assim como nos recentes filmes de terror "Annabelle" e "Invocação do mal", campeões de bilheteria, fica evidente que o público adolescente atual está a fim de tramas de suspense com pouca violência gráfica mas com muito susto. Alíás, os sustos aqui são bobos, todos naquela linha de sons estridentes que vêem do nada. O filme é bem light em relação a mortes gráficas, quase nem mostrando sangue. A trama narra a história de um grupo de amigos que se re;une após a morte de uma das integrantes do grupo. Eles descobrem que ela usava a tábua dos espíritos, o "Ouija". Eles manipulam a tábua a fim de contactar a amiga falecida, mas acabam libertando outras portas. Chato e corriqueiro, o filme deve agradar somente à garotada que não conviveu com grandes cults de terror dos anos 80 e 90. Elenco abaixo da média, mas será que esse público irá se importar? Nota: 5

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Entre os vivos

"Aux yeux des vivants/Among the living", de Alexandre Bustillo e Julien Maury (2014) Alguém já imaginou uma versão de "Os Goonies" hardcore, com violência explícita, terror e suspense? Pois os cineastas franceses Alexandre Bustillo e Julien Maury, autores do cult "A invasora", fizeram o que Spielberg e Richard Donner não teve coragem de fazer. Sangue, vísceras, facadas explícitas, murros, tudo isso seria impensável fazer cm crianças. Pois os franceses não têem o menor pudor: matam crianças. Como em uma versão de "Os Goonies", 3 meninos de um vilarejo francês matam a aula e vão até um estúdio de cinema abandonado. Chegando lá, eles encontram um homem e seu filho deformado ( que nem a velha e o monstro de "Os Goonies") que sequestram e matam pessoas. Os meninos fogem, mas são vistos pelo monstro. Ele vai até a casa de cada um deles para matar os meninos e seus familiares. Suspense em alto grau, apesar dos inevitáveis clichês de "quem está debaixo da cama"?, "quem está escondido no armário"?, etc A direção é criativa, a fotografia estilosa, a atmosfera do filme assusta, mas o roteiro infelizmente não reserva surpresas e pior, o final é ridículo, repetindo descaradamente o pior dos clichês de filmes de terror. Vale a pena sim assistir, mesmo que para passatempo, e tentar adivinhar a várias referências de filmes de terror que o filme apresenta. Nota: 7

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Assim na Terra Como no Inferno

"As above, so below", de John Erick Dowdle (2014) O cineasta John Erick Dowdle se especializou no gênero terror: é dele o ótimo "Demônio", escrito por M. Night Shyamalan, sobre um grupo de pessoas que fica presa no elevador, e entre eles, está o diabo em pessoa. Ele também realizou a versão americana do espanhol "Rec", sobre zumbis. Agora com esse "Assim na terra como no inferno", ele realiza novamente o mesmo estilo narrativo de "Quarentena": a câmera subjetiva. O que ninguém ainda avisou pra essa galera, é que esse gênero de filme já está mais do que gasto. Na história, um grupo de aventureiros, liderados pela arqueóloga Scarlett, descem até as catacumbas misteriosas de Paris, onde se espera encontrar a pedra filosofal. Dizem que a pedra transforma pedra em ouro, e que traz a imortalidade para quem o possuir. Mas o grupo acaba encontrando segredos mais aterrorizantes nessas profundezas. Nada no filme é original, e mesmo a premissa de grupo que se perde no subterrâneo já teve versão muito melhor em "O abismo do medo"e "A caverna". Aqui nem a direção e nem o elenco salvam o filme do tédio absoluto. Com exceção do prólogo e do desfecho, que são mais dinâmicos, todo o restante é entediante e sem interesse. Um falatório e pouca ação. Dizem que foi filmado de verdade nas catacumbas, e que o elenco teve que se submeter à provação das locações inóspitas. O final é ridículo, com explicação pouco crível da trama.. Nota: 5

Antes de dormir

"Before I go to sleep", de Rowan Joffe (2014) Suspense baseado no livro publicado em 2011 de S.J. Watson, cujos direitos Ridley Scott comprou. Nicole Kidman interpreta Christine, uma mulher que acorda todas as manhãs sem memória. Ben ( Colin Firth), seu marido, diz a ela que ela sofreu um acidente de carro a 10 anos atrás e perdeu a memória. Christine é atendida diariamente pelo Dr Nasch, que a aconselha a dar depoimentos na câmera e guardar, para que possa no dia seguinte revisar a sua história. Mas Christine aos poucos começa a questionar as pessoas ao seu redor, e procura descobrir a verdade. Filmado quase que à moda antiga, cheia de flashbacks e com climão bem Hitchcock, e Nicole Kidman no papel da loura preferida pelo Mestre do suspense. Aliás, Kidman está ótima, mas a reviravolta da trama não surpreende, na verdade é bem óbvia. A direção é correta e a trilha sonora cria uma boa atmosfera, assim como a fotografia de Ben Davis, responsável por "Os guardiões da Galáxia". É um suspense light, focado no drama, e vale como passatempo. Colin Firth confere um status plus ao filme, dando dignidade ao roteiro que parece ser uma versão remix de "Amnésia", de Christopher Nolan. Nota: 7

Trinta

"Trinta", de Paulo Machline (2014) Cinebiografia de um dos maiores carnavalescos da história da cidade do Rio de Janeiro, o maranhense Joaozinho Trinta. Ele chegou ao Rio nós anos 60 para trabalhar em um escritório, mas seu sonho sempre foi ser bailarino. O sonho se realiza, ele abandona o trabalho contra a vontade de sua família e vai fazer parte do corpo do ballet do Municipal. Mas pela sua baixa estatura , ele fica sem destaque. Frustrado, ele e' convidado para fazer adereços de figurinos do Municipal, e a partir, sua fama e talento o levam a ser carnavalesco da Salgueiro, sua primeira escola de samba. Mas o filme foca bastante, e acertadamente, no preconceito que Joaozinho sofria por ser gay. E esse trabalho de composição do personagem e' o grande atrativo do filme. Matheus Nachtergaele está absolutamente extraordinário. Os rompantes de Joaozinho, que o fizeram ter derrame, e' representado em uma cena antologica: a do piti contra os empregados do galpão. Que maravilha ver uma atuação assim tão verdadeira. Graças a isso, desculpamos o orçamento do filme que impediu que víssemos a evolução e elaboração dos figurinos e carros alegóricos de seu primeiro desfile. Merecia planos gerais com construção dos carros, etc. Mas a aposta em um filme menor, ficado no humano, foi uma excelente opção do diretor Machline. A conferir com louvor pelo elenco maravilhoso que compõe o filme: Paulo Thiefentaler, Paola Oliveira, Fabricio Boliveira e grande elenco, Alem do amigo Izak Dahora.

domingo, 16 de novembro de 2014

Debi e Lóide 2

"Dumb and dumber to", e Bobby Farrelly e Peter Farrelly (2014) Os anos 90 e 2000 foram fundamentais para os irmãos Farrelly. Foi ali, nesse período, que ambos se estabeleceram como panteões da comédia anárquica, copiados por muita gente mundo afora. "Quem quer ficar com Mary" é o melhor exemplo do que pode sair da mente pervertida desses roteiristas/cineastas. Não existe limite. Mas o tempo passou e essa anarquia hoje em dia talvez não funcione mais com aquele mesmo vigor. As pessoas voltaram a ficar caretas, as pessoas já não riem mais como antigamente. Culpa do politicamente correto? Resgatar 2 personagens ícones, 20 anos depois, pode ser bom ou ruim. Aqui, acaba ficando o mais do mesmo. Se não chega a ser inovador, pelo menos não constrange. Mata saudades? Sim, mata. Mas a idade chega até mesmo para os grandes comediantes, e o cansaço fica evidente. Falando em idade, a musa dos anos 80 Kathleen Turner surge aqui, irreconhecível, matrona, pesada, mais uma vez provando que a idade é cruel com algumas pessoas. Seu talento ultimamente, com exceção de "As virgens suicidas", de Sophia Copolla, tem se prestado para participações em comédias que brinquem com o seu passado glamuroso. Mas surpreendente mesmo, para mim, foi ver a a atriz Laurie Holden, a Andrea de "The walking dead", no papel da vilã do filme. eu nem sabia que ela fazia humor, e faz até bem. O filme é longo e perde muito do seu ritmo na segunda metade. O roteiro vai em busca de clichês de pai que descobre que tem um filho, e a eterna reconciliação familiar. Harry ( Jeff Daniels) busca Larry ( Jim Carrey) em um hospício, 20 anos depois. Ao voltar para casa, ele lê uma carta de 1991 dizendo que ele é pai. Harry descobre aí uma chance de receber uma doação de rins, e vai em busca da filha já crescida. O que era para ser divertido pelo nonsense acaba puxando algumas risadas, porém poucas ara tanta história. Passatempo light para quem busca algo no gênero. Nota: 6

Loulou e o incrível segredo

"Loulou, l'incroyable secret", de Eric Omond (2013) Sou um grande apreciador de animações francesas, pois mesmo tendo um tema aparentemente infantil, eles são bastante subversivos. Em "Loulou", personagem do livro de Grégoire Solotareff, publicado desde 1989, acompanhamos uma amizade entre um lobo e um coelho. Loulou foi encontrado quando criança por coelhos e criado por eles. Torna-se um herbívoro e acaba sem saber de sua natureza carnívora, Crescido, ele descobre que na verdade ele pertence o Reino dos lobos, e vai até lá para descobrir o paradeiro de sua mãe. Aos poucos, a sua natureza de predador vai se tornando um fato, ameaçando amizade que ele tem por seu amigo coelho Tom. Vencedor do prêmio de melhor animação no Cesar 2014, esse filme é uma mescla de "Tarzan" "Ernest e Celestine", um outro filme de animação francês que também fala da amizade improvável entre um urso e um rato. Além da mensagem óbvia do amor entre diferentes raças, o filme também prega a mensagem para evitar a matança dos animais. Infelizmente, essa bela mensagem torna-se de difícil acesso ao público juvenil, uma vez que o ritmo do filme é lento e a animação bem singela. Achei de verdade a animação bem chatinha e com personagens pouco carismáticos. Nota: 6

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Dracula, a história não contada

"Dracula untold", de Gary Shore (2014) Assistindo ao filme, foi impossível não me lembrar o tempo todo de "Jogos vorazes"e "Game of thrones". Do primeiro, ele rouba a frase título da franquia, "Let the games begin". Do famoso seriado da HBO, ele rouba o visual, a caracterização do personagens, as cenas de fantasia e batalha. Da história de Bram Stoker, o cineasta Gary Shore, famoso diretpr de comerciais, aqui estreando em longas, mescla o drama do Príncipe Vlad com a fantasia do vampiro chupador de sangue. Aqui, Dracula, ou Príncipe Vlad, é alçado a condição de herói. A história não contada do subtítulo da tradução nacional se refere a esse lado heróico, amoroso pai de família, apaixonado por sua esposa, que, por vingança, se transforma, e luta contra o exército turco que invade suas terras na Transilvânia. No elenco, o ator Luke Evans, da trilogia "O Hobbit", dá vida ao Príncipe Vlad. Na fisionomia, ele lembra um pouco o ator Orlando Bloom. Talentoso, Evans carrega o filme nas costas. O problema é que o filme tem problemas de narrativa, tem momentos de lentidão, mesmo em cenas de batalha. E olha que o filme nem é tão longo assim, são 95 minutos. Aqui no Brasil, o filme ficou mais de 3 semanas em 1o lugar de público, um grande feito, considerando que o filme não é um produto de primeiro escalão. O desfecho quer deixar um gostinho de filme romântico no público, Diverte, e só. Nota: 6

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Revanche

"Revanche", de Götz Spielmann (2008) Drama austríaco, do mesmo cineasta do excelente "Antares". "Revanche" ganhou vários prêmios internacionais, incluindo prêmio especial no Festival de Berlin 2009. O filme é um drama intenso sobre um homem que trabalha em um bordel e mantém relacionamento com uma prostituta ucraniana. O patrão ignora o relacionamento dos dois. Ela é maltratada o tempo todo, e ambos resolvem fugir dali. Porém, ele resolve assaltar um banco, para que esse dinheiro posa faze-los começar uma vida nova,. Durante o assalto, a mulher é atingida mortalmente por um tiro, disparado por um policial. O assaltante se refugia na casa de seu avô e passa uns tempo lá. Ele se evolve com uma vizinha, até descobrir que o marido dela é o policial que matou sua namorada. Drama, culpa, violência, sexo...ingredientes da maioria dos filmes produzidos no mundo inteiro. Mas em se tratando de um filme austríaco, e do diretor Götz Spielmann, é de se esperar que as doses sejam ampliadas. Nudez explícita e a frieza dos dramas europeus se encontram aqui de forma contundente. A direção de atores é excelente, e a narrativa técnica de Spielmann continua a mesma desde "Antares": planos quase sempre fixos, e para dar movimento, uma pan rápida. O filme se compromete ao se esticar mais do que o necessário, tem 2 horas e 3 minutos, talvez uns 20 minutos a menos teria feito o filme mais interessante. Mas como eu adoro filmes europeus depressivos, achei esse uma boa pedida. A cena do pós-tiro, dentro do carro, é muito triste, ainda mais que vimos a personagem rezando o tempo todo pedindo proteção. Talvez uma crítica discreta à religiosidade. Nota: 7

domingo, 9 de novembro de 2014

Verão quente na cidade

"Hot summer in the city", de Gail Palmer (1976) Considerado por Tarantino o melhor filme erótico de todos os filmes, é um clássico do "Blackpoitation"de 1976. Na época, filmes como 'Shaft" e outros estrelados pela atriz Pam Grier eram o must dos filmes B, sendo exibidos em sessões duplas com muito sucesso. Filmes que mostravam o negro como herói, policial sem escrúpulos, irônicos, violento, justiceiro. E claro, com muita mulher bonita e nudez. Em "Hot summer in the city", dá para entender todo o apreço de Tarantino pelos filmes malditos e "grindhouse". É fácil entender de onde veio sua inspiração para "Jackie Brown"e "Prova de morte". Filmes com fotografia suja, granulada, muito papo e misoginia, violência, sangue e muito erotismo. Os homens se vestem sempre de terno, chiques e elegantes. Os enormes Cadillacs e Mavericks estão aí, assim como a trilha sonora recheada de canções pop da época, marca registrada de Tarantino, que sempre resgata pérolas do cancioneiro popular. The Beach Boys, The Supremes, The Shangri-las, The Doors e a faixa título de The lovin's spoonful, todas as músicas tocando no filme, e sem autorização para uso. O filme narra a história de Debby ( Lisa Baker, Playmate do ano de 1967), uma virgem que ao chegar em casa, se depara com a mãe em um menage. Assustada, ela vai pra rua, mas é sequestrada por um grupo de militantes negros que a levam até uma casa, onde a seviciam. Loucura desenfreada que culmina em um banho de sangue, bem ao gosto do autor de "Pulp fiction". Se existe alguma referência direta para a obra de Tarantino, essa obra é "Hot Summer in the city". Nota: 5

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Interestelar

"Interestellar", de Cristopher Nolan (2014) O que faz de um filme uma obra-prima? O Elenco? Aqui, temos Matthew McConaughey, Jessica Chainstain, Anne Hathaway, Michael Caine, John Lithgow, Ellen Burstyn, Matt Damon, Topher Grace, Casey Afleck. Ser comparado a dois clássicos da ficção científica, "2001" e "Solaris"? Ter um Diretor cultuado por reinventar as histórias em quadrinhos, ser um esteta, um visionário, que também produziu e roteirizou esse filme? O que separa esse filme de ser uma obra-prima? Resposta: 50 minutos excedentes. Dos seus 170 minutos, 50 minutos podiam ter ficado na sala de edição. Mas o filme se torna insuportável com essa gordura? Não, a gente assiste com o mesmo interesse, talvez boceje entre uma ou outra explicação científico/filosófica sobre conceitos de gravidade, buraco da minhoca, teoria d arelatividade, buraco negro, quinta dimensão e outras várias questões que um nerd pode babar, mas o simples mortal provavelmente se entediará. O que fica do restante do filme? Um drama emocionante, humano, tenso, dinâmico, que fala sobre relações familiares, egocentrismo, vaidade, rancor, traição, e principalmente, amor. Cristopher Nolan reduziu o que pôde da tecnologia para poder embasar seu filme na premissa de que o amor e o coração são a base para todos os problemas da humanidade. Emoldurando esse belo conto metafísico, a fotografia extraordinária de Hoyte Van Hoytema ( Deixa ela entrar", "Ela", "O espião que sabia demais") e a trilha sonora de chorar de tão linda e FODAAAAAA de Hans Zimmer. Ver as cenas com essa trilha sonora é algo de tão poderoso, que assisti com os pelos eriçados de tanta emoção. A história? Uma expedição espacial é mandada para a galáxia para que busquem um planeta que tenha as mesmas condições de vida da Terra para enviar a população, uma vez que o Planeta está morrendo. Só que o tempo no espaço tem uma dimensão diferente da do Planeta Terra. Um dos tripulantes, Cooper (McConaughey) deixa na Terra seus dois filhos, com a promessa de que voltará. O tempo passa, e a esperança da filha vai morrendo, assim como a expectativa de salvamento da população. O filme apresenta muitas cenas antológicas, mas destaco três pela emoção e pela direção estupenda de atores: quando Cooper assiste as mensagens atrasadas no monitor: o câmera fica em McConaughey, e vê-lo chorando é arrebatador. Depois, a cena da perseguição entre 2 personagens, que começa no solo, daí encaminha-se para uma corrida espacial ate chegar na nave-mãe. Essa cena deve durar uns 20 minutos, mas é de um preciosismo técnico e de direção impressionantes. E a cena final, que confesso, soltei muitas lágrimas. Um filme para ser visto em sala de cinema, não aguardem ser lançado em dvd nem no Netflix. Será um crime. Nota: 8

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O museu

"Strictly forbidden/Le muséé, de Jack Deveau (1976) "Clássico erótico gay de 1976, ele tem uma onda experimental quase no estilo do surrealista "Pink Narcissus", um cult de 1971. Aqui, um jovem americano segue até Paris para fazer turismo cultural. Ele vista o Museu do Louvre e no caminho esbarra com um estranho, que o sugere ir até um Museu obscuro das redondezas de Paris. Chegando lá, o jovem percebe que as estátuas do local criam vida e ele acaba fazendo sexo com elas, até que no desfecho ele também vira uma delas. Com cores fortes e cenas de sexo explícito entediantes, valorizando o exotismo da história, esse filme interessará apenas aos fanáticos por pérolas cults malditas da época. Fora isso, o interesse é quase nulo. O filme mais aborrece pelo seu tédio do que entretém. Nota: 2

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Tim Maia, o Filme

"Tim Maia- O filme", de Mauro Lima (2014) Sempre tive problemas com cinebiografias. Quando se trata de biografia de músicos famosos, são poucos os que me trazem lembranças. "Cloclo", "Piaf", "Eu não estou lá", "Serge Gainsburg" são alguns ótimos exemplos de filmes que combinam o didatismo de se narrar uma história com começo, meio e fim, mais a dosagem perfeita de cinema puro. Eu j;a havia visto o musical de Joao Fonseca para o teatro, "Tim Maia", e me apaixonei pelo elenco e pela montagem. O musical era longo, quase 3 horas, e abrangia a história inteira baseada no livro de Nelson Motta. Agora com o filme, de 142 minutos, esse épico musical ganha formas cinematográficas na fotografia de Dudu Miranda e Junior Malta. Tecnicamente o filme é todo impecável: direção de arte, maquiagem, figurino, som. Mas tenho que dizer, que o que me chamou aos olhos, foram as performances irretocáveis de Robson Nunes e de Babu Santana, especialmente esse, no papel do protagonista. Babu é um grande guerreiro que tive o prazer de trabalhar a tempos atrás, e sei de sua luta. Ele está impecável, grandioso, emocionante e emocionado em cena. Que esse filme lhe abra portas até então fechadas para alguém de seu tipo físico. Talento para dar e vender. Uma energia em estado bruto que todo ator deveria aprender a usar.

sábado, 1 de novembro de 2014

Antares

"Antares", de Lisabi Fridell (2004) Eu sou aficionado por filmes Austríacos. Desde o filme de terror clássico "Angst", até as obras-primas de Ulrich Seidl, um dos diretores mais viscerais que conheço, autor da trilogia "Paraíso Fé, Esperança e Amor", além de "Import Export"e "Dias de cão". O que existe em comum em todos os filmes? O mundo cão, a realidade nua e crua e pessoas comuns que em suas rotinas , se expõe de forma brutal para os espectadores. Sexo explicito e violência são elementos comuns a todos os filmes. Os atores são muito intensos e se entregam por inteiro aos personagens. Em "Antares", acompanhamos 3 histórias que se passam em um conjunto habitacional do subúrbio da Austria, frequentado pela classe média baixa. Assim como nos filmes de Robert Altman, as historias se entrecruzam. Uma hora um personagem é protagonista de uma trama, em outro ele vira figurante. Mas talvez a melhor comparação seja com "Amores perros". A premissa é a mesma: um acidente de carro junta todos os personagens. Na 1a história, uma família feliz. Mas a aparição surpresa de um ex-amante na cidade faz com que a esposa, uma enfermeira, traia sue marido e se coloca em grande conflito quanto à sua felicidade. A 2a história é sobre uma caixa de supermercado que mente pro namorado que está grávida, somente para poder manter a relação. Extremamente ciumenta, ela bota tudo a perder. Até sua vida. Na 3a história, um corretor de imóveis tenta reatar sua relação coma esposa, mas devido à sua violência, ela o recusa. A direção de Götz Spielmann favorece o ator em relação à parte técnica. Os movimentos de câmera são raros, vez ou outra rola uma pan. Os atores são as verdadeiras estrelas do filme. Muitas cenas de sexo, nudez total e despojamento de todo o elenco para as cenas exigidas. A costura das histórias é muito bem feita, a montagem cria uma expetativa muito grande em relação às cena,s que revistas por outro ângulo, tomam um novo significado. O filme ganhou alguns prêmios em Festivais internacionais, e é uma pena que filmes assim não encontrem mercado exibidor. É um filme triste, que mostra personagem sempre no limite, um futuro pouco promissor, e as imagens dos prédios do condomínio mais parecem uma grande prisão, sufocando os personagens. Nota: 8

Alguém deve ceder

"Nånting måste gå sönder/Something must break", de Ester Martin Bergsmark (2014) De tempos em tempos, surge um filme de temática gay que vira o filme de cabeceira da garotada antenada. Foi assim com 'Delicada atração", "Brokeback mountain", "O banquete de casamento", Hoje eu quero voltar sozinho" e agora esse filme sueco "Alguém tem que ceder". O que os aproxima, além do amor entre iguais? A impossibilidade do amor, envolto por conflitos morais e sociais. Talvez a maior diferença com "Alguém deve ceder"com os outros citados, é que aqui o sexo é pra valer. Nudez total e alguns fetiches gays, tais como "golden shower", pegação em banheiro, dark room, sexo grupal e o primeiro fio terra, que o protagonista jamais esquecerá. Dito assim, parece até que o filme é pornográfico. Ele está a um passo de ser: mas a direção de Ester Martin Bergsmark suaviza aonde a situação pesa. O filme conta a história de Sebastian ( o ator transsexual Saga Becker), um empilhador de um varejão, que ao fazer pegação em um banheiro, é surrado. Ele é salvo por Andreas ( Iggy Malmborg), um jovem punk. De imediato Sebastian se apaixona por Andreas. Mas Andreas não é gay. Mas ele se apaixona pelo alter ego de Sebastian, Ellie, que é a porção feminina dele. Eles se amam, se curtem, mas Aadreas entra em um conflito. Precisa que Sebastian se torne de vez em Ellie para poder amá-lo. Um romance de temática difícil, mas defendido com garra e força pelos 2 jovens atores, deslumbrantes em seus papéis. Uma entrega fenomenal de Saga Becker, que nunca havia atuado, e de Iggy Malmborg, um rosto bonito e muito talentoso. Ficam nús, ficam excitados, se beijam, se amam. Atores corajosos e vibrantes, que merecem os prêmios que ganharam em Festivais mundo afora. O filme foi exibido com sucesso por Rotterdã, Toronto, Tribeca e outros. O que talvez possa afastar o público do filme é a sua porção "filme de arte". Com planos estilizados, planos longos, ritmo lento, o filme mostra uma marca, mesmo que às vezes, esse filme de autor sôe fake demais ( planos esteticamente publicitários, na cena da transa em grupo num dark room chega a lembrar momentos de "Ninfomaníaca" e sua velocidade de 300 frames por segundo. Ousado, é para gostos incomuns afoitos por cinema cru. E de presente, imagens estonteantes de Estocolmo. O título do filme vem de uma faixa do Joy Division, "Slow". Nota: 7

Ar livre

"Aire libre", de Anahí Berneri (2014) Ou o "declíno de uma familia argentina". A cineasta argentina Anahí Berneri faz aqui um retrato cruel e intimista de um casal bonito e bem sucedido. Aos olhos dos outros, um par perfeito. Na rotina do lar, ao abrir as portas para o espectador em cenas totalmente invasivas ( banho, cortando unha de pé, etc) , acompanhamos a degradação moral dos dois , através de xingamentos, porradaria, traições, e o pior, tudo sob o olhar do pequeno Sami, o filho de 7 anos, que é quem sofre com tudo isso. Manuel e Celeste ( Leonardo Sbaraglia e Celeste Cid, bárbaros e intensos) são um engenheiro e uma arquiteta. Ao resolverem se mudar para uma casa nova, ainda me construção, eles vão morar na casa da mãe de Celeste. A partir dai, rusgas antigas surgem, dando o tom de uma união que não se sabe bem o porquê, está por um fio. Como espectador, não consigo entender o motivo ( e o filme não explica) porquê a esposa não quer mais transar com um marido perfeito como esse: bonito, corpo definido, pinta de galã como Leonardo Sbaraglia. Louca, bipolar? Dá até para entender do personagem dele querer partir para outras investidas, já que em casa não dá para se comer nada ( nem a comida da sogra). A direção de Anahí Berneri é elegante e ela investe em planos longos e elegantes. As cenas de sexo são bem intensas, e a ousadia do filme se reside na total exposição de Leonardo Sbaraglia, que fica nu em várias cenas, inclusive frontal, sem qualquer vaidade ou constrangimento. O titulo, bem apropriado, define o estado emocional do casaL; sufocados, em busca de ar livre. O filme tem um ritmo muito lento, e os 100 minutos paracem ser quase 3 horas de filme. No final das contas, um drama intimista, nada original, mas eficaz. Nota: 7

O Senhor Babadook

"The babadook", de Jennifer Kent (2014) O que acontece quando você mistura grandes obras primas do cinema de terror em um só? A junção de "O Iluminado", " exorcista", "Poltergeist", "O gabinete do Dr Caligari" e "Nosferatu" resultou em um dos filmes de terror mais assustadores dos últimos tempos. Aliás, terror com criança, que una direção, roteiro e estilização em filme de arte, acredito que o ultimo que vi foi "Deixa ela entrar". Após o grande sucesso de seu curta de suspense "Monster", a cineasta australiana resolveu estender a história e o transformou em um apavorante filme de terror psicológico. Exibido em Sundance 2014, o filme fez muito sucesso. Ele se utiliza de efeitos antigos para provocar medo: além do visual expressionista do "monstro", algo meio "Nosferatu", os efeitos sonoros e visuais são bem arcaicos (intencional) e efetivos. Amelia é uma mãe solteira. No passado, no caminho do hospital para parir, ela sofre um acidente de carro e seu marido morre. Seis anos depois, ela mora com seu filho, Robbie. Ainda sob o signo do luto, ela coloca a culpa da morte do marido em Robbie, a quem ela procura distanciamento. Um dia, um livro misterioso surge, chamado "Senhor Babadook". Ela o lê para o menino dormir, mas ele acredita que o Babadook ( uma espécie de bicho papão) irá pegá-lo durante a noite. No início, Amelia acredita ser imaginação do menino, mas aos poucos ela irá entender que os contos infantis podem se tornar reais. Original, o filme tem uma direção incrivelmente criativa e inteligente de Jennifer Kent. Planos estilizados unidos a uma fotografia escura que realça o medo em cada ambiente. Mas nada disso seria possível sem o trabalho extraordinário dos 2 atores do filme: Essie Davies (Amelia) e Daniel Henshall (Robbie) são prova de que deveria haver prêmio de interpretação para o gênero terror. Verdadeiros, dramáticos, intensos, os dois se entregam de uma forma muito bonita aos personagens. Aliás, o filme é uma aula de como se fazer filme de terror, baseado apenas em atores, roteiro e direção, sem fazer uso de violência nem nada. Nota: 9