terça-feira, 24 de março de 2015

Iracema, uma transa amazônica

"Iracema, uma transa amazônica", de Jorge Bodanzky e Orlando Senna (1975) No documentário intitulado "Era uma vez Iracema", realizado a partir de depoimentos de parte do elenco do filme, dos diretores, do crítico Ismael Xavier e do Cineasta Fernando Meirelles, testemunhamos fatos curiosísssimos. Detalhes de produção, da filmagem, etc. Mas entre os depoimentos, o mais contundente sem dúvida é de Fernando Meirelles. Ele diz que quando era estudante de Arquitetura, ele frequentava Cineclubes. E que quando assistiu a "Iracema", ele decidiu de vez fazer Cinema. O filme mexeu muito com ele: a forma de filmar, o esquema de produção, a vida que transcorre real nas telas. Mesclar ficção e documentário, Atores e não-atores, não é nenhuma novidade. Mas em "Iracema", essa mistura se dá de forma explosiva: revelar um Brasil do terceiro mundo, pobre, trágico, sem futuro. Realizado durante a Ditadura militar, que pregava que o Brasil era um País de Futuro, o filme mostra exatamente o contrário. Que esse futuro não existe, é uma balela, ele traz a infelicidade e a destruição tanto do ser humano, quanto da natureza e do ambiente que nos cerca. O filme foi realizado em 74, e inicialmente concebido para ser um Documentário favorável ao Governo, fazendo um registro da construção da estrada da Tranzamazônica, uma obra faraônica que tem a intenção de ligar a Amazônia à Paraíba, ou seja costurando o País de ponta a ponta. Muitos trabalhadores se enfiaram no meio da floresta, longe da civilização. Para poderem sobreviver, fora construídos pequenos vilarejos, e com eles, veio a grilagem, o trabalho escravo e a prostituição infantil. A modernidade traz a mazela, assim diz o filme. A construção da estrada também trouxe problemas para a natureza: queimas desmedidas, desmatamento criminoso de árvores e o consequente aumento de madeireiras que se apropriam dessas árvores [ara vender. Nesse cenário de fim de mundo,, ambientado em Belém do Pará, encontramos João Brasil Grande ( Paulo César pereiro), um caminhoneiro que transporta madeiras. Ele conhece Iracema ( Edna de Cássia), uma menor de idade abandonada à sorte pela família para se prostituir. Com 15 anos, Iracema segue com João pela estrada da Transamazônica, e juntos, testemunham o nascimento de uma civilização destruída, habitada por pessoas famintas e escravizadas. O filme venceu vários prêmios mundo afora, inclusive um especial em Cannes, mas aqui no Brasil venceu 3 prêmios em Brasília:em 1980 : Filme, Atriz ( Edna), atriz coadjuvante ( Conceição Senna, esposa do cineasta orlando) e de edição. Curioso constatar essa mistura de atores e não atores: como o filme é todo de diálogos improvisados, v6e-se que os não atores "atuam" espontaneamente", pois vivem a sua dura realidade. Os atores, no entanto, precisam se encaixar nesse mundo, e algumas vezes sôa falso. O filme tem várias cenas antológicas, mas a mais memorável é a do final, quando Tião reencontra Iracema bêbada, acabada, na estrada com outras putas. Realizado em 74, o filme foi proibido pelo Governo brasileiro, só tendo sua exibição liberada em 1981. Antes, ele foi exibido de forma clandestina pelo País. Nota: 8

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