sexta-feira, 3 de abril de 2015

14 estações de Maria

"Kreuzweg", de Dietrich Brüggemann (2014) Direção extraordinária + Elenco excepcional + fotografia formidável + roteiro intenso. Tantos adjetivos para qualificar esse drama porrada, cru, arrebatador. O título original, "Kreuzweg", significa "Via crucis", em alemão. Dirigido com extremo rigor formal pelo cineasta alemão Dietrich Brüggemann, o filme abocanhou os prêmios de melhor roteiro e do Juri ecumênico no Festival de Berlin 2014. Não ter saído de lá com um prêmio de melhor atriz ou para Lea van Acken ( Maria) ou Franziska Weisz ( no papel da mãe) me pareceu um erro. Utilizando as 14 estacões da Via Crucis ( deixando de fora a 15a, que é a ressurreição), o filme é dividido em capítulos, cada um correspondente a uma estação. Todo cinéfilo se lembrará de Lars Von Triers no uso dessa linguagem narrativa. Mas aqui, o diretor usou um recurso de linguagem absolutamente rigoroso: cada cena é composta por um único plano-sequência. Sao cenas longas, que exigem muito do trabalho dos atores. Não há uma única cena sem intensidade dramática. Os planos são na sua maioria fixos, durando entre 15 a 10 minutos. a Primeira cena, inclusive, me surpreendeu pelo trabalho do elenco. Na cena, temos um adulto, o padre, e 6 crianças. Durante 15 minutos, sem corte, o padre explica uma aula de catequese, e as crianças participando com extrema espontaneidade. Li depois que o cineasta sempre foi fã de planos-sequência por que ele sempre pensa no ator. Ele acha que decupar uma cena acaba com a espontaneidade do ator. Em algumas cenas do filme, ele chegou a filmar 15 a 20 takes, muitas vezes a pedido dos atores. O drama conta a história de Maria, uma adolescente de 14 anos. Ela mora com sua família ultra-conservadora e católica. Sua mãe é castradora: a impede de ouvir música pop, de falar com garotos. Maria é devota, e ouve com atenção as palavras do padre. Um dia, ela conversa com um garoto e se afeiçoa a ele. Mas sua mãe o proíbe. A partir daí, Maria resolve se sacrificar pela sua fé cristã. O filme pode ser de difícil assimilação para espectadores não afeitos a busca de novas linguagens. Mas quem estiver em busca de um filme forte, com todos os pontos altos que especifiquei acima, vá correndo. Ele tem um ritmo lento, mas nao há como ficar incólume ao trabalho excepcional dos atores, e nem à direção do cineasta Dietrich Brüggemann. Nota: 10

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