domingo, 31 de maio de 2015

O dinheiro

"L árgent", de Robert Bresson (1983) Último filme do Cineasta francês Robert Bresson, realizado em 1983, "O dinheiro" é baseado no conto de Lev Tolstoi, "A nota falsa". Tendo como temas principais a ganância, corrupção, destino e morte, o filme ganhou a Palma de Ouro de melhor direção em Cannes no mesmo ano. Bresson é famoso por usar não-atores, a quem ele chama de modelos. Ele é contra a dramatização, a representação. Em seus filmes, os "modelos"agem mecanicamente, frios, sem emoção. O que importa nos filmes dele é como a história e conduzida, e nada deve tirar a atenção do espectador. Música, Direção de arte, tudo é muito seco, de forma que o foco seja o interesse do espectador pelo o que está sendo narrado. Formalmente preciosista, os enquadramentos, a fotografia, a marcação em cena de objetos e os "modelos", tudo funciona a contento. Impressiona a composição dos quadros nesse filme. A fotografia é em tons neutros, fria. Aliás, fria é a palavra-chave do filme. A narrativa dura, a falta de emoção das pessoas em cena. Para os leigos em Bresson, tudo tende a chocar. O estranhamento é algo peculiar a suas obras, o espectador muitas vezes não entende a sua proposta. O minimalismo das ações, os diálogos curtos. Yvon é um funcionário de uma empresa de abastecimento de água. Um dia, ao receber um pagamento de um laboratório fotográfico, ele descobre que todas as notas são falsas. Sem ter como provar a sua inocência, Yvon é preso. Ao sair da prisão, ele entra em uma vida de crimes. Impossível não associar o roteiro a alguma parábola católica: provoque um crime e serás punido. Nesse tom, o espectador se choca com o desfecho violento e abrupto que sela o destino de vários personagens. Um clássico, sem dúvida, mas que com certeza, ainda provocará muita discussão acalorada entre defensores de seu cinema e detratores de seu conceito narrativo. Nota: 8

O Atelier

"O Atelier", de Edgar Duvivier​ (2014) Curta-metragem Dirigido e escrito pelo músico, escultor e Diretor Edgar Duvivier. O filme é uma homenagem que Edgar fez aos seus pais, o também escultor Edgar Duvivier e Ivna Duvivier. De quebra, ele homenageia os amores de sua vida: a mulher, a atriz Maria Clara Gueiros; seu filho, o Ator e escritor Gregorio Duvivier , A Arte e A Música. Lindamente embalado pela música de Bach, o filme é uma mescla de comédia e drama. Pelo forte conteúdo emotivo do filme, o drama acaba se sobressaindo, porém de uma maneira poética. A história gira em torno de um corretor de seguros ( Gregorio), que visita a exposição do escultor Castelucci, apenas com a finalidade de dar em cima das mulheres, uma vez que ele admite não gostar de Arte. Ao se deparar com a filha do Artista, ( Maria Clara Gueiros), ele é convidado a tentar alugar o ateliê dele, que está decadente. Ao passar uma noite no local, ele acaba criando uma escultura, em um ímpeto de criatividade. O que ele não poderia imaginar, é que sua obra acabaria sendo vendida por milhões, porém, com a assinatura de Castelucci. Logo no início do filme, a personagem de Maria Clara deixa evidente o propósito do filme : "Tão bom a Arte ser valorizada!". Nesse desabafo, reside o coração do filme. Através do personagem de Gregorio, acompanhamos 3 gerações de artistas de uma mesma família, sendo representadas no filme : Edgar pai e filho e o neto Gregorio. Assim como as esculturas, o filme imortaliza esse amor incontestável. Além disso, em uma cena em seu escritorio, vemos uma foto de Clarice Falcão, na época casada com Gregorio. É divertido como o filme começa em um clima totalmente à La "Um convidado bem trapalhão", com Peter Sellers, e termina em uma atmosfera mais encantatória, lúdica. Um belo presente aos espectadores pela sutileza e leveza com que conduz o seu filme. Gregorio levou o prêmio de Melhor Ator na Amazônica no Festival MICA de Cinema 2015.

sábado, 30 de maio de 2015

Permanência

"Permanência" , de Leonardo Lacca (2014) O Cinema Pernambucano para mim já virou gênero. Sinônimo de filmes inquietantes e que tenha no elenco o ator Irandhir Santos. " Permanência", que saiu do Festival de Pernambuco com vários prêmios, não poderia ser diferente. Melhor filme, direção de arte, atriz (Rita Carelli) e coadjuvante (Genesio de Barros), o filme tem como tema a dor emotiva relacionada 'a separação e ao vazio que ela deixa. Diferente de "Entre abelhas" que aposta na fantasia, no filme do cineasta Leonardo Lacca o rompimento da relação deixa feridas expostas que dificilmente vão embora. Ivo, fotografo pernambucano ( Irandhir) vem até São Paulo para expor sua obra pela primeira vez. Ele se hospeda na casa de sua ex, Rita, agora casada. Ivo deixa de se hospedar no hotel da produção da exposição é resolve enfrentar a verdade dessa relação com Rita. O que ficou? O que foi apagado? Diante de tanta dor, Ivo se envolve com uma assistente da galeria de arte. Direção segura de Leonardo, um belo roteiro que ao peça quando quer narrar o sub plot do pai de Ivo, totalmente dispensável. Linda trilha sonora, excelente elenco que trabalha as emoções com maestria e minimalismo. Pelo olhar, pelos silêncios, pelas pausas, entendemos tudo. Um filme vigoroso, de personagens, de tempos mortos, das mentiras camufladas como antídoto para o sofrimento. Muito boa a composição dos personagens paulistas, contrastando com o pernambucano. Nota:8

Parasita parte 1

"Kiseijuu / Parasyte part 1", de Takashi Yamazaki. Filme de ficção cientifica na linha "invasão de corpos", é a versão com atores da famosa série de Mangá "Parasita", de Hitoshi Iwaaki. Lançado entre 88 e 89 em 10 volumes, o mangá narra a história de vermes parasitas que invadem a Terra e dominam o cérebro dos humanos. Eles entram pelos ouvidos, porém um deles, ao tentar entrar no ouvido de Shinichi, um adolescente de 17 anos que dorme com headphone, acaba fracassando. Esse parasita, Migi, tenta entrar pelas mãos de Shinichi e por conta disso ambos sofrem mutação: Migi acaba se conectando com a mão direita de Shinichi, e tem vontade própria, inclusive mudando sua personalidade. Migi explica a Shinichi que os outros parasitas querem dominar a humanidade, e para isso , precisam eliminar os outros. Os japoneses são hábeis em contar histórias fantásticas, e aqui o Diretor Takashi Yamasaki toma emprestado o visual de "Homem de preto" e faz um filme bem dinâmico e ágil, incluindo humor na primeira parte do filme. Porém na segunda parte, o filme se torna denso e violento, recheado de cenas de mutilações. É um filme muito curioso, com ótimos efeitos, e com um excelente ator protagonista, o jovem Shôta Sometani, no papel de Shimichi ( Shota também interpretou o protagonista de "Tokio tribe", o musical insano de Shion Sono). O filme foi dividido em duas partes. Nota: 7

Kung Fury

"Kung fury", de David Sandberg (2015) Puta que o pariu, esse é provavelmente o filme que eu mais ri na história do cinema. Absolutamente hilário do início ao fim, o filme, de 30 minutos, brinca com todos os clichês de filmes de ação e policial dos anos 80, se utilizando do visual, efeitos, trilha sonora de sintetizadores e aquela atuação canastrona que deliciou a multidões de espectadores. O filme não perdôa e sacaneia dezenas de filmes: "Karate kid", "Thor", "He-man", "Exterminado do futuro", "Conan", "2001", "Parque dos dinossauros" e ainda encontra tempo para exculhambar o plano-sequência de "Oldboy", onde o herói mata dezenas de bandidos no mesmo plano. O filme foi todo financiado pelo crowdfunding "Kickstarter", e arrecadou 600 mil dólares. Por incrível que pareça, é um filme 100% sueco: O diretor, roteirista, produtor e Ator David Sandberg merece ser contratado por Hollywood após esse filme. Criativo, com excelente senso de humor, e fazendo uso das gagas mais bizarras e toscas que alguém possa sequer ter imaginado. Para se ter uma idéia da maluquice do projeto: o filme narra a história de Kung Fury, um policial dos anos 80 que após receber uma rajada de relâmpago na cabeça, adquire poderes de um Mestre de Kung Fu. Ele precisa lutar contra Adolf Hitler, que vem do passado para dominar o mundo., Apelidado de Adolf Fuhrer, pelas suas habilidades nas artes marciais, ele treina um exército de assassinos de kung Fu nazistas. Kung Fury precisa viajar no tempo até a 2a guerra e evitar que isso aconteça. Ele se alia a um jovem hacker que cria uma máquina do tempo. Mas a máquina dá errado e Kung Fury surge na Era dos Vikings, lutando contra dinossauros que soltam raios laser e guerreiras gostosas. Excelente direção, Atores deliciosamente canastrões, dublados em inglês, efeitos toscos, violência gratuita, e de novo, uma trilha sonora sensacional que brinca com todos aqueles sintetizadores escrotos que infernizavam nossos ouvidos. É uma pérola, uma pequena obra prima do entretenimento que não tem medo de apenas divertir o seu público. Genial e Antológico em todos os níveis. Foi exibido no Festival de Cannes 2015. Nota: 10

A grande vitória

"A grande vitória", de Stefano Capuzzi Lapietra (2014) Produzido pela O2 filmes, o filmeé o longa de estréia do Cineasta Stefano Capuzzi Lapietra, que também escreveu o roteiro, baseado no livro "Aprendiz de Samurai", de Max Trombini. Como Cinéfilo eclético, não tenho nenhum tipo de objeção a filmes populares. Inclusive faço coro de que deve-se produzir filmes para todos os tipos de platéia, e não apenas filmes para serem vistos em Festivais e depois desaparecerem no circuito comercial. Nesse caso, "A grande vitória" tem como objetivo ser visto por apreciadores de esporte, no caso, judô, pessoas que buscam inspiração motivacional através de histórias de superação e fãs de melodramas. Para os que não se enquadram nesse perfil, o filme provavelmente não fará efeito, muito menos terá interesse. Max Trombini hoje em dia é um instrutor de judô e faz palestras motivacionais sobre como usar o esporte como exemplo para superar obstáculos na vida. Já vimos muitos filmes assim ( "À procura da felicidade, com Will Smith, é um exemplo). Em termos de roteiro, o filme não tem nada de original: essa história, já vimos muitas vezes no Cinema. Não há surpresas nem reviravoltas mirabolantes. É um filme previsível, mas acredito ter sido essa a intenção dos produtores. Felipe Falanga e Caio Castro interpretam Max criança e jovem respectivamente. Ambos seguram a onda do personagem, complexo por conta de sua instabilidade emocional. Abandonado pelo pai (Domingos Montagner) , Max se vira como pode na cidade de Ubatuba, ao lado de sua mãe ( Suzana Pires) , que trabalha como faxineira, e seus avós ( Moacyr Franco e Tuna Dwek​). Ajudado pelo instrutor Josino ( Tato Gabus Mendes), Max encontra no esporte a válvula de escape para exorcisar seus fantasmas, e passa a almejar o sonho de participar das Olimpíadas. Aonde reside o potencial do filme? Em 2 pontos: no elenco eclético e competente, que confere dignidade a um filme que poderia ter errado totalmente de tom ( Sabrina Sato e Ratinho, pasmem, são os elementos estranhos ao filme). E na parte técnica ( Fotografia excelente de Toni Gorbi​, Direção de Arte de Tulé Peak e a trilha sonora. ) O diretor teve cuidado com o apuro visual do filme, se fazendo valer de steadicam, grua e outros aparatos que conferem dinâmica ao filme. Mas a busca incessante em se espelhar em produções famosas, como "Rocky, um lutador", tira o brilho e a originalidade ao narrar uma história que tem nos personagens, a sua maior força.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Cut Bank

"Cut bank", de Matt Shakman (2014) John Malkovich tem na sua filmografia um filme de Spike Jonze chamado "Quero ser John Malkovich". O cineasta Matt Shakman, aqui, poderia ter se apelidado de "Quero ser Joel e Ethan Coen". explico melhor. Matt Shakman foi um dos diretores do seriado 'Fargo", adaptação para a Tv do sucesso dos irmãos cineastas. Sua paixão pelo universo dos irmãos Coen é tanta, que ele acabou dirigindo um filme que no final das contas, parece um remake de "Onde os fracos não tem vez". E como se não bastasse, convidou vários atores do universo dos Coen para trabalharem em seu filme. Isso explica a presença de John Malkovich ( "Queime antes de ler"). Oliver Platt ( Seriado "Fargo"), Billy Bob Thornton ( "O homem que não estava lá") e Michael Sthulbarg ( Üm homem sério'). Tanta devoção resulta em um bom filme, mas que tem a mesma estrutura narrativa de "Onde os fracos não tem vez". Inclusive a figura do assassino, claramente inspirado em Javier Barden. Em uma cidade chamada Cut Bank ( considerado o lugar mais frio dos Eua), um jovem mecânico de automóveis, Dwayne ( Liam Hemsworth) grava acidentalmente um assassinato. No entanto, ele descobre que se envolveu em uma enorme teia de crimes e reviravoltas no estilo "Quem é quem". Ganância, poder e assassinatos são o prato cheio dos Coen. O cineasta Matt Shakman até que realizou um bom filme, bem dirigido, com um time de ótimos atores ( Acrescidos do excelente Bruce Dern). Frio, cruel, violento, mas sem deixar de lado aquele olhar complacente sobre tipos desajustados e marginalizados. Bela fotografia que valoriza as locações floridas da região. Nota: 7

O túmulo dos vagalumes

"Hotaru no haka/ Grave of the fireflies", de Isao Takahata (1988) Baseado no livro autobiográfico de Akiyuki Nosaka, narrando a tragédia que se abateu sobe ele durante a 2a guerra mundial. Quando os Estudios Ghibli compraram os direitos do livro, o animador Isao Takahata decidiu fazê-lo em animação, surprendendo o escritor, que mais tarde concordou que o filme não deveria ser realizado com atores, dada a natureza violenta da história. O filme está na 12a posição da lista das 50 melhores animações de todos os tempos, realizada pela Revista Time Out, e em 67o lugar na Lista dos 250 melhores filmes do Site IMDB. O crítico Roger Ebert o incluiu em seu livro "Os melhores filmes de todos os tempos" e afirmou que as animações deveriam ser repensadas após a sua realização. Lançado como programa duplo em 1988 nos cinemas japoneses, junto de "Meu vizinho Totoro", de Hayao Miyazaki, o filme assustou as platéías pela sua crueza e tom de tragédia. Ambientado em Kobe, Japão, durante a 2a Guerra, narra a história do amor entre os irmãos Saito, um menino de 12 anos, e sua irmà Setsuko, 4 anos. Após a morte da mãe durante um bombardeio, os irmãos vão morar na casa da tia. Mas por conta do racionamento e da falta de comida, eles acabam sendo expulsos, indo morar em um abrigo. Fome, solidão, morte, O filme está repleto de cenas antológicas, como a da praia, quando a irmã encontra um morto estirado na praia, ou a cena noturna dos vagalumes iluminando o abrigo. ou o desfecho em flashback de Setsuko. Advertência: tenham uma caixa de Kleenex, porquê é absolutamente impossível não chorar ao longo do filme. Um melodrama clássico, que segue a cartilha de como emocionar e fazer o espectador se debulhar em lágrimas e batalhar pelos seus heróis nas telas. Obra-prima incontestável. Trilha sonora que vai fundo no coração, direção segura e inteligente, cores vibrantes, e uma edição que faz uso dos famosos "Pillow shots" eternizados por Ozu, que são planos de natureza morta que traduzem emoções. Nota: 10

segunda-feira, 25 de maio de 2015

A centopéia humana 3 - Sequência final

"The human centipode 3 - Final sequence", de Tom Six (2015) Por incrível que possa parecer, o Cineasta e roteirista Tom Six, que cometeu os inacreditáveis "Centopéias humanas 1 e 2", retorna com o que ele chama de fechamento de uma trilogia. Essa terceira parte consegue reunir todo de ruim e tosco dos outros 2 filmes e elevar à décima potência o adjetivo "Grotesco". Nese terceiro filme, ele deixa a entender que os filmes 1 e 2 são filmes com atores, e aqui, de uma vez por todas, ele resolve levar seriamente a idéia dos supostos filmes. O protagonista é um Diretor de presídio psicopata ( vivido pelo cientista vilão do 1o filme), e que, auxiliado por um assistente ( o vilão do 2o filme), resolvem punir os prisioneiros do presídio de segurança máxima aonde trabalham. Eles convocam o médico do presidio e o Cineasta Tom Six ( sim, ele mesmo, o verdadeiro cineasta fazendo uma metalinguagem) para darem aval a uma experiência mais radical ainda: costurar bocas e ânus de 500 presos, de forma a baixar o orçamento de 50 milhões gastos com os prisioneiros. Enumero abaixo algumas situações do filme e tentar explicar porquê ninguém deve tentar vê-lo ( eu sei, eu vi, mas eu sou um cineasta psicopata, vejo tudo) - O diretor corta os testículos de um prisioneiro e os come - A secretária é obrigada a pagar boquete no Diretor do presídio e engulir seu esperma, sob o risco de apanhar - A mesma secretária, em coma na CTI, é estuprada pelo Diretor do presídio - Um prisioneiro faz um furo de faca em uma pessoa e o estupra por esse buraco - O Diretor do presídio fala milhares de palavrões ao longo do filme - O Ator Eric Roberts, irmão de Julia Roberts, dá a sua cartada final, rumo 'à derrocada na carreira de ator, em uma participação canastrona e fundo do poço. Será que Julia irá ver o filme? - A figura feminina é aviltada o filme inteiro, tratada como objeto sexual e sme direito à voz Se após todos esses alertas você ainda quiser ver o filme....você tem um problema mental sério, que nem eu. A pergunta que não quer calar: Quem financia esse filme? Nota: 1

Sevilla

"Sevilla", de Bram Schouw (2012) Curta alemão de 2012 que ganhou vários prêmios internacionais. O filme narra a história de 3 jovens ( 1 casal e um amigo) que resolvem viajar de férias para Sevilla, na França. Chegando lá, eles curtem tudo o que a juventude pode oferecer de melhor, inclusive se arriscando em aventuras. Uma tragédia se abate e muda as suas vidas para sempre. Em 11 minutos, o cineasta Brm Schouw dá uma aula de síntese de como narrar uma história em pouco tempo. Atores bonitos e talentosos, fotografia deslumbrante de Jasper Wolf e locações de encher os olhos. A trilha sonora dá emoção ao filme, e nesse conjunto de adjetivos elogiosos, fica a sensação de se ver um pequeno filme perfeito. O filme ainda discretamente fala sobre homossexualismo velado. Nota: 10

sábado, 23 de maio de 2015

Attenberg

"Attenberg", de Athina Rachel Tsangari (2011) A Cineasta e Atriz Athina Rachel Tsangari é um dos nomes mais influentes do Novo Cinema grego. Em 2011, ela dirigiu "Attenberg", que lhe abriu as portas para o mundo. Exibido no Festival de Veneza 2011, ele saiu com o prêmio de melhor atriz para Ariane Labed, como a protagonista Marina. Athina Rachel Tsangari inclusive é uma das produtoras da última parte da trilogia de Richard Linklater, "Antes da meia noite", filmado na Grécia. Ela ainda interpreta um papel no filme. "Attenberg" tem esse nome por conta da contração do nome do documentarista inglês David Attenmburough, especializado em reportagens sobre animais selvagens e o convívio com o ser humano. Marina não consegue falar o nome do inglês e o chama de 'Attenberg". O filme narra a história da amizade entre Marina e sua amiga Bella. Marina é frígida, nunca teve relações sexuais e mais, precisa cuidar de seu pai, que sofre de câncer. Bella é extrovertida, pegadora e vive se envolvendo com homens. Bella ensina Marina a beijar e a flertar com homens, mas Marina insiste que tem nojo de sexo. Até que conhece um engenheiro ( interpretado pelo cineasta grego Yorgos Lanthimos, diretor de "Dentes caninos", outro filme expoente da nova geração, com quem passa a ater relações sexuais. Como os outros famosos filmes gregos, o filme possui uma métrica muito formal para narrar a sua história. Planos longos, quase todos fixos, e tendo os temas morte, sexo e violência como elementos essenciais para se contar a vida das personagens e a atual situação da Grécia. A metáfora da descoberta da doença terminal do pai, é uma alusão ao País que morre a cada dia que passa, estagnado diante de um futuro sem luz, sem possibilidades de melhora para toda a população, que sofre com o desemprego e falta de dinheiro. O Sexo a ser descoberto, mesmo que mostrado de forma extremamente fria, pode ser uma linha muito tênue de esperança para a personagem. Ela vive de bico como motorista particular, não se relaciona com ninguém, é fria, insegura e porquê não, depressiva. O filme é desconexo e não segue uma linha narrativa padrão. Ele é costurado por cenas bizarras onde as amigas dançam e fazem coreografias estranhas, muitas vezes imitando os animais, pelas ruas da cidade. A fotografia tem um tom de desesperança, de frieza que potencializa a tristeza de um país lindo, mas sem brilho. O futuro? NInguém sabe o que acontecerá. Um filme hermétco, restrito para cinéfilos. Ritmo lento e atuações anti-naturalistas. Nota: 7

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Poltergeist, o fenômeno

"Poltergeist", de Gil Kenan (2015) É com imenso pesar que preciso comunicar que esse remake do clássico de Tobe Hooper/Steven Spielberg, que assustou milhões de espectadores em 1982, é uma grande frustraçao. O principal problema? A falta de sutileza, que foi um elemento essencial no original. Aqui, desde a primeira cena, a gente já sabe que algo vai acontecer. E tudo acontece muito rapido. E quando você menos perceber, o filme já acabou. Isso mesmo. Como num videogame. A primeira imagem que temos do filme é do pequeno Griffin jogando em um game no seu Ipad, recheado de zumbis. E parece que o filme inteiro faz parte desse jogo. Outro item que descaratreizou totalmente o filme: aqui se exagera no humor, na canastrice, no pastelão. Tudo por conta da equipe de paranormais, comandados pela Dra Bruke Poweel ( em uma atuação over de Jane Adams) e do charlatão paranormal de um programa de televisão, Carrigan Burke ( uma cópia descarada do personagem de Roddy Macdowell em "A hora do espanto"). A família? Bom, tenho que dizer que o excelente ator Sam Rockwell está totalmente no automático, e que o restante da família não tem carisma algum. Inclusive a pequena Maddy , uma tentativa de copiar totalmente a atriz do original ( meu Deus, porquê mudaram o nome da personagem? Carol Anne era um nome absurdamente mais icônico). A história é a mesma, porém com alguns elementos a mais: dessa vez o patriarca se muda para uma comunidade do subúrbio mais pobre por conta do desemprego. reflexo dos novos tempos> Fim do sonho americano de consumo? Não, porquê mesmo fudido e sem grana, ele continua gastando ( nem entendi como ele conseguiu comprar coisas em determinada cena). A casa fica no entanto, em cima de um cemitério indígena. e claro, os espíritos querem algo em troca. Os efeitos especiais, que poderiam ter salvo o filme, parecem ter sido feitos a toque de caixa: fracos. Aquelas cenas clássicas do original não existem mais aqui. Sam Raimi, um dos produtores, pisou feio na bola. O erro foi ter convidado o cineasta Gil Kenar, que realizou o desenho "A casa monstro", para dirigir esse filme. Ele precisava ter sido avisado que aqui não é um filme para crianças, e poderia ter caprichado no macabro e na violência. O filme é inofensívo, feito para crianças. Fiquei triste, tenho que confessar. Nota: 3

Eloi e Biel

"Eloi and Biel", de Noel Alejandro (2013) Curta-metragem espanhol, que mostra um casal de namorados gays passeando, fazendo picnic e transando. Aliás, uma transa real, explícita. O cineasta espanhol Noel Alejandro diz em sua página, que fez o filme para que mostrasse uma visão inovadora e erotizada sobre uma relação homossexual. Porém, ele deveria ter sido avisado que o que ele fez, a produtora de filmes BELAMI faz muito melhor. O seu filme é apenas um registro na vida do casal de adolescentes. Nenhuma história, apenas clima, atmosfera, paisagem bonita. Mas a fotografia interna é feia, escura, sem sedução. As cenas de sexo reais soam sem tesão, frias, falsas, realizadas para a câmera. Devo confessar que achei bem enfadonho. Nota: 3

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Ex Machina

"Ex Machina", de Alex Garland (2015) Filme de estréia do romancista e roteirista de cinema Alex Garland. Ele escreveu o livro "A praia", que deu origem ao filme de Danny Boyle com Leonardo di Caprio. Com o mesmo Danny Boyle, ele escreveu vários roteiros para filmes do cineasta inglês, entre eles, "Exterminio e 'Sunshine". "Ex Machina" é uma ficção científica dramática. Mal comparando, era como se Terrence Malick resolvesse fazer um filme fantástico. O mesmo cuidado com enquadramento, a discussão filosófica sobre vida e morte, a atmosfera etérea e sublime em cima de uma narrativa lenta e instigante. Caleb (Domhnall Gleeson, do romance "Questão de tempo") é um jovem programador da Empresa de tecnologia e informática Blue Code. CAleb ganha um concurso interno e como prêmio, vai passar uma semana na mansão isolada nas montanhas de Nathan (Oscar Isaac, de "Inside Lewis David"), o Dono da empresa onde Caleb trabalha. Chegando lá, Caleb decsobre que ele participará de uma bateria de sessões testes com uma andróide, batizada de Ava ( Alicia Vikander, atual namorada do ator Michael Fassbender). Nathan está testando a inteligência artificial e para isso, precisa que Caleb seja a cobaia certa para poder concluir se a programação da Inteligência artificial chegou ao seu nivel máximo de perfeição. A partir daí, os 3 personagens disputam um intrigante jogo de poder e de sedução. Desde "A.I., inteligência artificial", de Spielberg, eu não via um filme tão curioso sobre andróides. Isso sem contar na obra-prima de Ridley Scott "Blade Runner". Todos esses filmes dialogam com a questão: E se as maquinas pensassem e agissem como homens, tomando atitudes próprias? O mais curioso, é que todos esses filmes usam a filosofia e a elocubração sobre a mortalidade para discutir a sua relação com o ser humano, o seu Criador. Impressiona que esse filme seja a primeira experiência do cineasta Alex Garland. Tudo é bem estudado e preciso no filme: a direção segura, o roteiro cheio de reviravoltas, o elenco formidável, os efeitos muito bons para um filme de baixo orçamento e a trilha sonora e fotografia contribuindo para contar essa fábula da forma mais brilhante possível. Faltou pouco para esse filme ser um clássico. Talvez 15 minutos e menos, talvez um final mais arrebatador. No entanto, já está bem acima da média de muitas ficções científicas que surgiram ultimamente. esse definitivamente, merece ser visto e apreciado. O ritmo é lento, porém contemplativo. Nota: 8

segunda-feira, 18 de maio de 2015

De gravata e unha vermelha

"De gravata e unha vermelha", de Miriam Chnaiderman. Documentário vencedor do Prêmio de melhor filme LGBTS no Festival do Rio 2014, tem como tema a libertação sexual e do corpo. Transexuais, cross dressers, gays, transgênicos masculinos e femininos, todos se misturam através de depoimentos divertidos e emocionados de pessoas que ousaram dizer "NÃO" ao corpo e ã identidade de nascença. Celebridades como Ney Matogrosso, o cartunista Laerte, o estilista Dudu Bertollini ( que conduz as entrevistas junto com Miriam Chnaiderman, cineasta e psicóloga), o modelo e Dj Jonnhy Luxo são alguns dos depoentes, além de sub-celebridades e anônimos. O filme em si é convencional, naquele padrão de depoimentos misturados, editados através de músicas da Banda pernambucana UÓ, cuja vocalista Mel é transsexual. Mas o que seduz o espectador são diálogos saborosíssimos e sem censura sobre sexo, cirurgia de mudanças de sexo, aplicação de hormônios, espetáculos ditadura, direito ao seu próprio corpo, vergonha, aceitação, estilo e bullying, seja na família ou na rua e escolas. Com 82 minutos, o filme é uma ode ao mundo de personagens marginalizados e que desejam apenas uma coisa: ter o direito ao corpo e serem felizes.

Um pombo pousou num galho refletindo sobre a existência

"En duva satt på en gren och funderade på tillvaron", de Roy Andersson (2014) Os países nórdicos sempre tentaram enveredar pela comédia, apesar da hegemonia dos filmes depressivos e melancólicos, reflexos de sua cultura. Bergman, Lars Von Triers tiveram em suas filmografias, algum filme onde se tentou fazer humor. Mas é um tipo de humor seco, frio, sem sorrisos. Roy Andersson, cineasta sueco, escreveu e dirigiu aquele que parece ser a maior das tentativas de se produzir humor em um País tão frio, de temperatura e de emoção. E de certa forma, ele conseguiu. Vencedor do Leão de Ouro em Veneza 2014, o filme resgata o tipo de humor que o grupo inglês Monthy Python celebrizou no mundo inteiro: sketches curtos, humor ácido, falando de temas como morte, preconceito, sociedade de consumo, escravidão, maus tratos aos animais, desemprego e sexo. O filme que me veio em mente o tempo todo foi 'O Sentido da vida". Esse clássico dos Monthy Python me pareceu a maior referência de Roy Andersson. O mesmo tipo de humor, porém com uma narrativa e um conceito de contar a história totalmente original e inusitado. Cada sketche é apresentado em um único plano fixo, como boca de cena de teatro. A impressão que temos é a de que estamos no teatro vendo justamente peças curtas. E mais, o teatro do absurdo é uma constante no filme. Surreal, lúdico, assustador e inquietante. Adjetivos que podem tentar explicar o filme, mas para tanto, é necessário vê-lo. É um filme único, que mescla a linguagem do Teatro ( marcações cênicas precisas, maquiagem em excesso nos atores, deixando claro que todos ali são personagens e que estão representando, o fundo chapado). Os atores atuam como se fossem bonecos vivos, porém emocionalmente mortos, inclusive a maquiagem deixando explícita essa relação entre vida X morte. Mas do que fala o filme? Não existe uma história única. 2 vendedores de bugigangas, sem sucesso nas vendas e depressivos, costuram o filme, que muda radicalmente de história e de temas de uma hora para outra. Uma das cenas mais impressionantes é um longo plano dentro de um restaurante, onde um exército gigantesco segue como pano de fundo. Devem ter ali quase mil figurantes! A fotografia, descolorida, celebra esse tom de tristeza e falta de energia dos personagens. A gente ri, a gente fica angustiado (a cena do macaco preso é extremamente cruel) e também se entedia um pouco lá pelo terceiro ato. Mas a concepção visual é um verdadeiro primor. Um filme difícil, mas quem embarcar na história, irá se deliciar. Nota: 7

domingo, 17 de maio de 2015

Repulsa ao sexo

"Repulsion, de Roman Polanski (1965) Há exatos 50 anos, Polanski escreveu e dirigiu esse filme de terror psicológico ( ou drama, como acharem melhor) sobre uma mulher em processo de esquizofrenia deflagrado por causa de um trauma de infância. Carol ( Catherine Deneuve) é uma jovem que trabalha como manicure em um salão de beleza. Carol mora com sua irmã em um apartamento. Helen, a irmã, namora um homem casado. Na madrugada, Carol ouve o som da transa da irmã com o namorado, e ela se lembra em flashbacks tumultuados cenas de abuso sexual ocorridos com ela. Quando Helen decide tirar férias por 2 semanas e Carol se vê sozinha no apartamento, a fobia por homens e por socialização se torna cada vez mais incontrolável. Filmado em preto e branco, e todo rodado em Londres, 'Repulsion" (o título em português, acrescido da palavra "Sexo", com ceretza teve um apelo comercial associado ao nome da estrela e sex symbol Catherine Deneuve. Além do que, procura explicar os problemas psicológicos de Carol, reduzido ao contexto sexual) é um clássico do cinema que foi infinitamente copiado por vários cineastas. O filme faz parte da trilogia do apartamento, iniciado por "Repulsion", depois vieram "O bebê de Rosemary" e "O inquilino". Todos os filmes falam de personagens que habita um apartamento e acabam deflagrando um processo tortuoso de fobia e de alucinação. ""O iluminado" e o próprio "O bebê de Rosemary" tiveram muitas situações e referências chupadas desse filme de Polanski. No caso de "O iluminado", a cena final da foto chega a impressionar pela forma explícita como Kubrick se apropriou da idéia. É um filme complexo, muito bem dirigido e com composições de quadro que primam pela estilização e modernidade do enquadramento. O filme não perdeu em nada da sua magnitude. Catherine Deneuve está no auge de sua beleza, e prova que mulher bonita também pode ser excelente atriz. Ela passa metade do filme interpretando apenas com olhares e expressões, sem falas. Muitas cenas antológicas e tensas. Uma aula de cinema e de decupagem. O filme abre possibilidade para várias interpretações simbólicas quanto `questão do feminismo, do abuso sexual, do uso dos sonhos como elemento erótico e repressor. Buñuel deve ter ficado muito feliz ao ver esse filme. Nota: 10

Musaranãs

"Musarañas", de Juanfer Andrés e Esteban Roel (2014) Terror psicológico espanhol, na melhor tradição de filmes clautrofóbicos ambientados em apartamentos. "Repulsa ao sexo", de Polanski, é um filme que vem à mente o tempo todo ao assistir ao filme: mulher que se enclausura em um apartamento, evitando assédios masculinos por conta de um trauma do passado envolvendo um familiar. Seu processo de loucura chega a tal ponto que ela começa a ver fantasmas do passado e acaba cometendo crimes. Essa sinopse poderia ser totalmente do filme de Polanski. Mas os cineastas Juanfer Andrés e Esteban Roel, e o famoso e cultuado Cineasta e Produtor Alex de La Iglesia resolveram trazer outros 2 filmes como referência, para completar essa grande festa gore: "Louca obssessão" e "O que teria acontecido a Baby Jane?". Quer mais referências: "Carrie a estranha". Do filme de Rob Reiner, o filme fala sobre uma mulher que aprisiona um homem em sua cama e o impede de sair. Do filme com Bette Davis e Joan Crawford, a relação conturbada e mortal entre 2 irmãs traumatizadas pelo passado. E do filme de Brian de Palma, vem a protagonista, uma católica fervorosa que impede a irmã de se deixar seduzir por homens. Nos anos 50, Montse é uma mulher que cuidou de sua irmã menor, quando a mãe morreu no parto e o pai desapareceu. Passados os anos, Mortse trabalha em casa fazendo costura, porém adquiriu uma doença , a agorafobia, que a impede de sai de casa. Sua irmã trabalha fora. Um dia, um homem bate à sua porta pedindo ajuda, e ela o aprisiona em uma cama, se apaixonado por ele. Esse homem, Carlos, acaba se apaixonando pela outra irmã, o que provoca a ira de Mortse. O que mais me divertiu nesse suspense totalmente exagerado, foi a atuação overacting de Macarena Gómez. Ela faz caras e bocas na composição da tresloucada Mortse. Hugo Silva, que interpreta Carlos, é uma porta. E Nadia de Santiago, no papel da irmã mais jovem, se salva por sua beleza angelical. Mesmo com as atuações caricatas, o filme diverte e provoca tensão, principalmente no ato final, que vira um verdadeiro show de barbaridades. Para quem gosta de um filme de suspense nonsense e repleto de loucuras extravagantes, vai curtir bastante esse filme espanhol que ainda aposta no melodrama. O ritmo até a metade do filme é lento, portanto, apreciem lentamente. Obs: Musaranãs significam pequenos ratos que se escondem em ninhos e atacam quando se sentem ameaçados. Nota: 7

sábado, 16 de maio de 2015

Projeto Almanaque

"Project Almanac", de Dean Israelite (2014) Michael Bay, o Cineasta e Produtor de vários filmes catástrofes ( "Armageddon", "Pearl Harbor") apostou suas fichas em um Cineasta iniciante e juntos, fizeram uma espécie de "De volta para o Futuro" em versão Nerd cibernético. Celulares são usados para fazerem o "registro" do filme e contar a sua história. Sim, é um filme "Found footage", um gênero já extremamente gasto e com certeza, o principal responsável pelo fracasso comercial desse film. Ninguém aguenta mais assistir a um filme visto pelo ponto de vista de uma câmera o tempo todo. Em primeiro lugar, porquê no filme, sôa extremamente falso. Jamais que alguém ficaria filmando situações tão sem interesse assim. Aliás, as baterias dos aparelhos nunca acabam. O filme pega carona em alguns filmes de sucesso recentes, como o filme de ação " Poder sem limites", sobre um bando de nerds que descobrem que possuem poderes de super heróis após entrarem em contato com material de outro planeta, e "Questão de tempo", romance inglês sobre viagem ao tempo. Em "Projeto Almanaque", David é um jovem cientista, cujo pai faleceu quando ele tinha 7 anos de idade. David tem um grupo de amigos, todos nerds, e vivem inventando coisas. Um dia, ao fuçarem nas cosias de seu pai, ele descobre um protótipo de maquina do tempo, que após finalizado, os faz viajarem no tempo. Claro, nerds querem ganhar em loterias, ficarem ricos e pegar as gatas da Universidade. Porém, ao mexerem no passado, eles provoca consequências no futuro, algo semelhante com o filme "Efeito borboleta". Como se vê, nada no filme é original. A garotada deve curtir porquê ele possui uma linguagem toda de youtube, ou seja, cenas curtas, frenéticas e descompassadas. O ritmo, porém, é lento, nem tem tanta ação assim e no final das contas, é um filme bem sem graça. O que é uma pena, pois com um roteiro melhor e sem essa de found footage, poderia ter sido um pequeno clássico dos adolescentes, assim como "Os Goonies". Nota: 4

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Mad Max: estrada da fúria

"Mad Max- Fury road", de George Miller (2015) Incrível imaginar que o Cineasta, produtor e roteirista George Miller seja a mesma pessoa que também realizou os filmes infantis "Happy Feet", "Happy Feet 2" e "Babe, o porquinho atrapalhado". Tudo bem que ele já tenha realizado a trilogia clássica e violenta de "Mad Max" nos anos 80, com Mel Gibson protagonizando Max, um policial assolado pelos fantasmas da esposa e filha assassinados por gangues motorizadas no futuro apocalíptico e sem água. Porem, em comum, apenas o desejo de descobrir novas tecnologias. Mas esse remake impressiona tanto pela DIreção, quanto pela violência. É um filme 100% anárquico, vibrante, pulsante e quando a gente pensa que George Miller está com 70 anos, impressiona mais ainda. Tanto vigor é difícil de encontrar até nos mais jovens cineastas de Hollywood dos filmes de ação. O roteiro não tem nada de inovador. Mas a forma como Miller narra visualmente essa fábula é que faz totalmente a diferença. Lidando com drama, melodrama e muita ação, Miller imprime uma nova identidade aos filmes de ação. Do in;icio ao fim, o filme não tem uma barriga, é adrenalina pura. Muito se fala que o personagem de Charlize Theron é que é a grande protagonista do filme, e os fãs do Mad Max original odiaram a "passividade" do personagem no filme. Mas quem abstrair tudo isso e se entregar apenas ao filme, como um passatempo, testemunhará um grande acontecimento cinematográfico. Em todos os níveis técnicos, ele é fabuloso. Curioso é ver que Tom Hardy, com a máscara que ele usa no inicio do filme, lembra bastante o vilão Banner de "Batman". E que Nicholas Hault, no papel de um garoto morto, com sua caracterização careca e branco, lembra o menino mutante de "X-men". Obs: Amei as idosas motoqueiras! Imperdível! Nota: 10

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Garotas

"Bande de filles", de Céline Sciamma (2014) Exibido na Mostra Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes 2014, esse premiado filme da cineasta francesa Céline Sciamma é uma espécie de versão européia de "Faça a coisa certa", de Spike Lee. O filme se utiliza quase que 100% de atores negros ( na verdade, são todos não atores, escalados através de "Street casting" pela cineasta". No Brasil, quem viu a série "Sexo e as negras" vai sentir bastante semelhança entre os projetos. O filme fala sobre o problema da raça negra na França, marginalizada e vivendo geralmente de sub-emprego. A juventude vive de bullying e de brigas de gangues, e a expectativa de um futuro esperançoso é nula. Quase todos parecem estar cientes do destino que o mundo lhes reserva: uma vida desregrada e sem ambições, passiva. Mas as meninas do filme procuram mudar esse aspecto, através da força e energia que ela emanam para mudar tudo o que as rodeia. Marienne vive com suas duas irmãs menores e com o seu irmão paternalista, que as proibem de tudo. A mãe trabalha como faxineira e esse mundo irrita Marianne. Um dia, desolada na escola, ela conhece 3 meninas que fará com que o mundo dela se transforme: juntas, as quatro toaam o terror: passeiam e shoppin e provocam alvoroço, brigam em gangues e procuram à sua maneira, serem vistas como indivíduos revoltados com o sistema. Mas a vida é muito cruel para essa tentativa de mudança. Com uma belíssima fotografia, de Crystel Fournier, e com enquadramentos e composições de quadros primorosos, é um filme muito bonito de se ver: pop, moderno, dinâmico. Esse drama pega pesado nos conflitos das meninas, e o que vemos na verdade é microcosmo de tudo o que pode acontecer na vida de fiuguras marginalizadas pela sociedade. As atrizes são ótimas, enérgicas, brutas e porquê não, sensuais e belas. O filme tem momentos muito estilizados, que conversam bem com a narrativa juvenil. Tem uma cena que é um viceo-clip, com as meninas cantando "Diamonds", da Rihanna, que é bem bonito e memorável. O filme é longo, quase 2 horas, mas no geral compensa pela vitalidade que transborda, e pala denúncia social, sem ser panfletário. Nota: 7

terça-feira, 12 de maio de 2015

A mulher de preto 2: O anjo da morte

"The woman in black 2: angel of death", de Tom Harper (2014) Continuação totalmente desnecessária do sucesso de 2012 com Daniel Redcliffe. Esse filme se passa 40 anos depois do primeiro filme, mais precisamente durante a 2a Guerra Mundial. Uma jovem, Eve, e uma professora severa viajam com crianças londrinas até a Mansão do primeiro filme, que fica no meio de um pântano, afastado de tudo. Ali, elas acreditam estarem seguras dos bombardeiros dos inimigos. No caminho, Eve conhece um piloto que serve à Aeronáutica que também segue para o memso local. Todos ali têm um trauma : Eve perdeu seu filho; Harry, o piloto, durante um combate, viu os seus companheiros morrerem e não pode fazer nada; e para complementar, Edward, uma das crianças, é um órfão. Com tanta energia ruim, o espírito maligno que habita o local volta para poder roubar a alma das crianças. O que dizer de um filme de terror onde os sustos se encontram justamente nos sons estridentes que surgem do nada, e em objetos que pulam pro protagonista? Aquela clássica cena silenciosa do personagem olhando pela janela, e do nada, bate um pássaro barulhento. Ou quando a câmera foca em um porta-retratos e do nada, ele estoura? Esses exemplos mostram a pobreza do suspense do filme, que prefere apostar nesses truques batidos do que contar uma boa história. O filme anterior provocava um clima de mistério durante o filme todo, eu o chamei até de montanha-russa de emoções. Mas aqui, infelizmente,é tudo daquele jeito previsível. O menino protagonista, para piorar, não possui nenhum carisma. Recomendo apenas às pessoas que se assustam com qualquer coisa, tipo aquele vídeo do Youtube que você olha um bichinho bonitinho e no final, surge uma bruxa gritando, para te assustar. O que realmente vale a pena e merece crédito é a reconstituição de época e a fotografia. Nota: 5

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Late phases

"Late phases", de Adrián García Bogliano (2014) Filme de lobisomem dirigido pelo espanhol Adrián García Bogliano, especialista em produções B na Espanha. A trama é singela: Ambrose, um ex-veterano da Guerra que ficou cego se muda para um condomínio rodeado por uma floresta. Na noite de lua cheia, o seu cachorro o defende do ataque de um lobisomem é morre. Todos da comunidade, voltada para aposentados, acreditam ser ataque de um animal que mata cachorros. Mas Ambrose espera a próxima lua cheia munido de armas e com a intenção de matar o lobisomem...que na verdade, são vários. Produzido pela produtora "Dark sky", voltada para filmes de terror de baixo orçamento, tem em sua cartela de filmes muita cisa ruim, mas pelo menos 3 títulos consideráveis: "Nos deixe rezar", "Eles" e "Deadgirl". Infelizmente, esse "Late phases" é ruim que dói. Tem alguns momentos de humor involuntário ( alguém consegue imaginar um cego lutando contra 4 lobisomens?" Mas o melhor de tudo fica mesmo pro conta da caracterização do lobisomem: nitidamente, vemos um homem vestindo uma fantasia. Parece aquelas festas infantis onde o ator se veste com fantasia peluda, tipo Coelho ou urso. Vergonhoso, mas muito divertido ao mesmo tempo. Os efeitos são os piores possíveis. Teria sido melhor se o filme se assumisse como trash, mas isso não acontece. Ele quer se levar a sério,e ainda insere um drama entre pai e filho que não se falam por traumas de infância. Nota: 4

domingo, 10 de maio de 2015

Sorria, você está sendo filmado

"Sorria, você está sendo filmado", de Daniel Filho (2015) Comédia popular rodada toda em um único plano sequência ( essa é a proposta narrativa, apesar do filme ter alguns cortes imperceptíveis para o espectador), é livremente inspirado na comédia de humor negra Servia " A morte de um homem nos Bálcãns", de Miroslav Momcilovic. Um roteirista de um seriado de humor da Rede Globo se suicida, mas antes, deixa a webcam do computador ligado. Logo, vários tipos loucos e sem noção surgem no apartamento, entre eles: o porteiro( Lázaro Ramos), sua esposa (Roberta Rodrigues), o síndico (Otavio Augusto), sua esposa, a atriz decadente ( Susana Vieira), o corretor de imóveis (Marcos Caruso), o homem da funerária ( Lucio Mauro Filho), o policial ( Juliano Cazarre) e seu assistente (Thiago Rodrigues), a médica (Déborah Secco) e seu assistente (Thiago Martins), o faxineiro (Aramos Trindade) e outros vizinhos , interpretados por Teresinha Amayo e Cris D'Amato. O filme tem uma proposta muito curiosa de colocar o espectador na boca de cena, como no teatro, onde a cena se desenrola inteira, sem cortes. Atores entram e saem de cena, numa ótima marcação do espaco cênico orquestrada por Daniel Filho. Cheio de ritmo é um humor escrachado que não deixa o filme ficar entediante, é uma opção encontrada para baratear os custos de produção. O elenco deve ter se apaixonado pela proposta do filme, pois diferente da forma tradicional que é filmar por planos, cheios de cortes em cena, aqui Daniel Filho coloca o Ator em primeiro plano. O filme é uma divertida homenagem a Arte da Atuação. Fernando Fernando Ceylão, ri muito com os seus diálogos!

Últimas conversas

"Últimas conversas", de Eduardo Coutinho (2015) Usando o mesmo formato de "As canções" e de certa forma, "Jogo de cena", Eduardo Coutinho convida o espectador dessa vez para ouvir os jovens. Como em "As canções", o entrevistado entra, se senta, faz o seu relato e sai de cena. Os jovens em sua grande maioria são negros, pobres do subúrbio, estudantes de Escolas públicas e acabaram de prestar o Enem. Os entrevistados falam sobre cota racial nas Universidades ( é curioso como 2 entrevistadas negras têm postura totalmente contrária à cota racial: uma defende, outra acha errado e acusa de racista quem criou essa lei). Falam também sobre bullying, depressão, crie existencial, assédio sexual, amor e relação com os pais. O mais emocionante é ouvir dessas pessoas o que elas esperam do futuro, e como a maioria pensa em dar à mãe um futuro melhor. O último entrevistado é uma menina, Luiza, de 6 anos. Coutinho no início do filme diz que adoraria que o filme fosse todo com crianças, e não com jovens adultos, pois as crianças são cruéis e falam a verdade, sem máscaras. Dessa vez entre uma e outra cena o filme mostra um pouco os bastidores, e ouvimos conversas entre Coutinho, o seu fotógrafo Jacques Cheuiche​ e a Assistente de direção. Em um diálogo divertido, Coutinho pergunta ao fotógrafo porquê ele trabalha; e Jacques diz: "Trabalho para comprar roupas.". Coutinho complementa: E também para namorar, não?". E Jacques concorda.: "Comprar roupas e namorar". Simplicidade sempre foi a palavra de ordem de Coutinho, assassinado pelo filho antes de concluir o filme ( foi concluído por João Moreira Salles e Jordana Berg, a editora). Algumas falas proferidas por Coutinho durante o filme sôam proféticas, e por isso mesmo, tristes para o espectador que a acompanha a tanto tempo seus filmes brilhantes.

Maggie: a transformação

"Maggie", de Henry Hobson (2015) Um filme realista de terror com uma pegada cinemática de Terrence Malick. Assim é "Maggie", talvez o filme de gênero mais bonito visualmente que você já viu, com uma excelente fotografia de Lukas Ettlin, que chupou referências em "A árvore da vida". O cineasta Henry Hobson confere aquela mesma atmosfera lúdica e poética ao filme, como se estivéssems todos a caminho do Paraíso. Recentemente outros filmes de terror têm tido essa pegada de fazer releituras nos clichês, trazendo uma forma diferente de narrar a história. Assim foi no excelente "Corrente do mal". Arnold Schwarzenegger é um dos produtores desse filme de baixo orçamento, e deixou para si a difícil tarefa de interpretar um pai que ama a sua filha e quer protegê-la a todo custo. De quem? De um vírus que a acometeu e a está transformando em zumbi. As pessoas infectadas são levadas até a quarentena, onde são confinadas em um quarto para serem mortas. Wade ( Schwarzenegger) a esconde da polícia e d avista de todos, até um inevitável desfecho. Fazer filmes de zumbis depois do mega sucesso de "The walking dead", parece loucura. O que difere "Maggie"de tantos outros filmes com esse tema é a sua pegada realista. O filme quer fazer crer que tudo ali é possível. Abigail Bresling interpreta Maggie em todos os seus dilemas. Um papel difícil levado com emoção pela atriz. Seus olhos trazem a melancolia e o medo de enfrentar o desconhecido, de perder os entes queridos. Joely Richardson, no papel da madrasta, também confere sensibilidade, fazendo o contraponto de Wade e insistindo que o futuro de Maggie está selado. Exibido no Festival de Tribeca 2015, o filme recebeu muitas críticas negativas, o que é uma pena. Muita gente criticou a escolha de Arnold para um papel tão intenso e dramático, Outros também reclamaram do ritmo extremamente lento do filme e a falta de cenas de ação. Eu embarquei na proposta do diretor e do roteirista de enxergar um filme intimista, que discute a mortalidade e o amor da família que se preserva até os momentos mais intensos e conflitantes. É um belo filme triste,melancólico, que merecia uma chance de ser visto por mais gente. Uma pena que muitos fiquem esperando ver tiros e pancadaria, pela simples presença de Arnold no filme. E ele está bem, dentro de seus limites de atuação. Nota: 7

O fio de Ariane

"Au fil d'Ariane". de Robert Guediguian (2014) Cineasta francês que em seus últimos filme,s tem se fixado em 3 obsessões: fazer filmes com sua esposa, Ariane Ascaride, escalar o Ator Jean Pierre Darroussin, geralmente no papel de marido de Ariane, e filmar em Marseille. Os seus dramas invariavelmente falam sobre conflitos existencias da protagonista, às voltas com idade, passividade, tristeza, desamor e outros temas relacionados à mulher de meia idade. Em "O fio de Ariane", Guediguian se utiliza do plot de filmes como "Shirley Valentine" e "Ela vai", com Catherine Deneuve. Mulheres que insatisfeitas com a vida, decidem viajar sem rumo, deixando a vida levá-las para algum lugar. Essa viagem obviamente é uma metáfora para a redescoberta da personagem e a elevação de sua auto-estima. Ariane é casada e tem 2 filhos. No dia de seu casamento, todos ligam para ela dizendo não poder comparecer por motivos pessoais e profissionais. Com a festa pronta, ela pega seu carro e segue até a cidade, atravessando de barca o mar que a levará ate Marseille. Lá, ela conhece tipos estranhos e sem glamour. Ela acaba trabalhando em um restaurante para turistas à beira mar e se redescobre para a vida. Se utilizando de um visual vintage e de músicas antigas, Guediguian traz um tom sessentista ao filme, mais ingênuo. Inclusive, ele se utliza do realismo fantástico e do musical. Ariane conversa com uma tartaruga, que é uma espécie de voz da consciência dela e conselheira. Gosto muito da atriz Ariane Ascaride e é ela a responsável em trazer certo interesse ao filme, que é longo e lento. Nota: 6

A estrada 47

"A estrada 47", de Vicente Ferraz (2014) Em "A ponte do Rio Kwai", de David Lean, clássico de 1957, um pelotão de soldados ingleses feitos prisioneiros pelos japoneses durante a 2a Guerra são obrigados a construiu uma ponte por onde passarão comboios de soldados inimigos. Em "A estrada 47", pracinhas brasileiros, em conflito e crise emocional e física precisam desativar minas da citada Estrada para evitar que soldados aliados sejam explodidos pelas minas escondidas em sua rota. O filme discute a relevância da participação de soldados brasileiros, alguns despreparados para enfrentar uma guerra de tamanho porte. Imparcial, o roteiro mostra que italianos, alemães e brasileiros têm um único ideal: honrar sua Pátria e a sua família, acima de tudo. O maior mérito do filme é sem dúvida a fotografia, de Carlos Arango de Montis. Bela em seu tom cinza, reforça a dramaticidade da história . Figurino, Direção de arte e edição de som são impecáveis. O elenco está correto e dividem seu espaço de forma homogênea, assim como no filme de José Belmonte, "Alemão". Todos têm o seu momento. Nesse elenco 100% masculino, há uma mistura de atores brasileiros, alemães, portugueses e italianos, mostrando a força da globalização e dos apoios dos produtores dos citados países. O filme tem um ritmo lento, e a narração em Off do personagem de Daniel de Oliveira também não contribui muito para a história. Mas definitivamente, é um filme nacional diferente de tudo o que já foi produzido: elegante, glamuroso nas locações, de alto nível técnico e com pinta de filme europeu. Um grande passo para as co-produções futuras com o Brasil.

A própria vida: Roger Ebert

"A própria vida: Roger Ebert", de Steve James (2014) Documentário dirigido por Steve James, do premiado "Hoop dreams", traça o legado e a importância do crítico de cinema Roger Ebert para a Indústria do Cinema. Os produtores passaram a ficar mais cautelosos após as suas críticas, sempre preocupados em agradá-lo. Ebert surgiu no Jornal "Chicago Sun Times e ali permaneceu de 1967 a 2013, sendo que nos últimos anos de sua vida ele escrevia em seu blog. Ele foi o único crítico de cinema a receber uma estrela na Calçada da Fama, além de receber o Prêmio Pulitzer pelas suas críticas. Escrevendo sempre com muita sofisticação e com uma verve de quem entende do assunto, ele ao mesmo tempo seduzia e assustava produtores, cineastas e atores de cinema no mundo inteiro, ganhando a simpatia ou desprezo deles. Junto do seu amigo Gene Siskel, crítico do "Chicago tribune", eles apresentavam um programa de tv com críticas de cinema, onde eles davam status ou simplesmente destruíam a carreira de um filme. Ciúme, rivalidade e outros conflitos fizeram que a dupla tivesse muitas rusgas durante a sobrevida do programa. Quando eles discordavam de algum filme, eles quebravam o maior pau. No filme, tem uma cena hilária onde Ebert fala mal de "Nascidos para matar", de Kubrick, e elogia o filme com o cachorro 'Benji", recebendo o título de louco por seu amigo Siskel, que pensava justamente o contrário. Ambos também foram responsáveis por lançarem filmes obscuros e fazerem a mídia olhar para vários cineastas independentes que jamais seriam mencionados caso eles não tivessem citado seus nomes. Ebert tinham uma predileção especial pelo Festival de Cannes, e dali ele apresentava uma edição especial do programa, sozinho. No filme, vários produtores e cineastas como Scorsese elogiam a importância dele para as suas carreiras. Inclusive Scorsese declara que Ebert foi fundamental para reerguer a sua carreira nos anos 80, afundada em depressão e cocaína. O filme também mostra a luta de Ebert contra o câncer, que acabou vencendo-o. Ele chegou a perder a fala e se comunicar através de um computador, que nem o Stephen Hawkings. Um filme fundamental para cinéfilos, mas que pega pesado no melodrama e na exposição da doença de Ebert. Nota: 7

sábado, 9 de maio de 2015

O Vendedor de passados

"O vendedor de passados", de Lula Buarque (2014) O mais curioso nesse filme livremente adaptado do livro do escritor angolano José Eduardo Agualusa é a busca por um gênero. Inicialmente lançado como uma trama de suspense, na sequência veio como romance e drama. Porém, na exibição do filme no Festival de Pernambuco de 2015, onde saiu com os prêmios de Melhor Ator para Lazaro Ramos e Melhor edição de som, ele recebeu um carimbo de Comédia dramática. E isso é surpreendente. O filme pode ser visto por várias matizes distintas. Quem quiser pode buscar qualquer um desses gêneros no filme e vai se divertir. Essa é a riqueza de uma história que brinca com vidas, passados e futuros de personagens e fatos históricos. Em uma complexa rede de imagens, sejam elas fotos ou videos, o filme na verdade são dois: acompanhamos a trama principal, que conta a história de Vicente ( Lazaro Ramos) e de uma mulher misteriosa, Clara ( Alinne Moraes), e também nos deixamos seduzir pela trama paralela. Essa segunda história é a revelação de um possível passado que envolve ditadura militar argentina, torturas, assassinatos , narrada exemplarmente através de fotos e vídeos de arquivo. Vicente tem uma profissão sui generis: ele reconstrói passados dos clientes, que desejam ter a chance de terem sido uma outra pessoa no passado. Um dia surge uma mulher encantadora e provavelmente fatal, como nos bons filmes Noir: uma mulher sem nome, que ganhará a alcunha de Clara. Ela encomenda para Vicente um passado criminoso, onde ela tenha assassinado alguém. Seduzido por essa estranha, Vicente se vê preso a um jogo de verdades e mentiras, que acaba trazendo conflitos para o seu próprio passado. É real? É inventado? Visualmente o filme é muito elegante, embalado pela fotografia de Toca Seabra. A trilha sonora, charmosa e que trabalha também sonoridades clássicas com modernas, traz o elemento pop para o filme. A direção de arte também merece louvor. É um filme brasileiro que flerta com a forma de se narrar uma história trazendo o espectador para refletir sobre o que está vendo. Afinal, como na famosa frase do filme de John Ford , "O homem que matou o facínora, "se a lenda é mais interessante do que o fato, publique-se a lenda". E que se foda a verdade.

A luneta do tempo

"A luneta do tempo", de Alceu Valença (2014) Fiquei impressionado com a qualidade artística do filme de estréia do Cantor e compositor pernambucano. Bonito, lírico, lúdico. O filme tem um só pecado: querer contar histórias demais, o que causa uma certa confusão no meio do filme. Mas no geral, é um filme ousado pela mistura de gêneros a que se propõe: musical, faroeste e drama ambientado no Cangaço de Lampião e Maria Bonita, interpretados por Irandhir Santos e Hermilla Guedes. O filme narra o confronto dos cangaceiros e a polícia, liderada pelo Tenente Antonio Severo. No segundo ato, acompanhamos o destino do filho de um dos cangaceiros e a sua luta contra um delegado, filho de Antonio Severo. Nessa história cíclica de lutas, opressão e destino, o filme inteligentemente é narrado como se fosse um cordel cantado por um narrador. No caso, as músicas de Alceu Valença. Esse excesso de brasilidade confere ao filme um sabor mágico e místico, emoldurado pela bela locação do sertão. O Circo surge como um ambiente mágico onde sonhos e tragédias podem ser feitas ou desfeitas. Onde os espectadores, sentados na arquibancada, podem opinar sobre o destino de alguns personagens. Alceu Valença, além de dirigir e compôr a trilha, surge como o palhaço do Circo, o narrador dessa história que brinca com o tempo e com o realismo fantástico. Belíssima fotografia de Luis Abramo. Um filme digno de nota, mas que deve atingir um público restrito. Não é um filme comercial, e sim, um projeto 100% autoral de Alceu, que disse publicamente ser um Amante do Cinema da "Nouvelle vague" francesa e das chanchadas da Atlântida. Várias cenas antológicas, entre elas, a do ponto de vista de cabeça para baixo de um homem pendurado, e uma cena no circo, representando a morte de um cangaceiro. Belíssima estréia de um artista apaixonado por imagem e som.

Antes de partir

"Antes de partir", de Courteney Cox (2014) Estréia na direção de longas da atriz Courteney Cox, mais famosa por interpretar a personagem Monica na série "Friends". Exibido no Festival de Tribeca 2014, o filme é um drama acri-doce sobre um looser que tenta se redimir com o seu passado antes de tomar a decisão de se suicidar. Ted (Seann William Scott, famoso pela franquia de humor "American pie"), já tentou de tudo para ser feliz: casar com a mulher ideal, ter uma famiilia ideal. Mas nada deu certo. Esse sentimento de derrota começou desde a sua adolescência quando, após a morte do pai que ele tanto idolatrava, a sua professora lhe humilhou a frente de toda a turma. Decidido a se matar, Ted decide voltar para a sua cidade e fazer as pazes com todos que lhe fizeram mal. Mas acontece que é a sua presença que irá mudar a vida de todo mundo. Delicado e sensível, o filme tem uns sob-plots forçados (por ex, o de seu sobrinho que não se assume gay e sofre por isso). Mas no geral é um bom filme para se passar um domingo de tarde com amigos assistindo. Afinal, esse gênero filmes sessão da tarde são praticamente uma instituição. Da safra dos "fell good movies", a gente se sai revigorado com aquelas mensagens de que "só o amor eleva" e coisa do gênero. Seann Willian Scott se esforça bastante e acaba fazendo uma boa presença em um papel dramático com algumas pitadas de humor. Bem assessorada por uma boa equipe técnica, Courteney Cox não inventa a pólvora, mas também não decepciona. O desfecho no lago é bem bonito. Trilha sonora toda independente, bonita e bem selecionada. O filme me fez lembrar bastante de "A hora de voltar", de Zach Braff, também ator e que estreou na direção, se utilizando do termo "indie" para fazer um filme gostoso e memorável. Nota: 7

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Corrente do mal

"It follows", de David Robert Mitchell (2014) Exibido na Semana da crítica de Cannes 2014, esse sensacional filme de terror é um alento aos fãs de filmes do Gênero que estavam cansados de tanto marasmo. Não que o roteiro seja original, e não é, mas pela forma de contar o filme. Calçado pela estética de filmes independentes, o Cineasta e roteirista David Robert Mitchell faz a maior de todas as homenagens já realizadas ao cult cineasta John Carpenter. Para os jovens de hoje, é muito provável que não reconheçam o nome de Carpenter. Mas ele é simplesmente o autor de obras-primas como "Halloween", "O enigma de outro mundo" e "Assalto ao 13o distrito". Carpenter reinventou os filmes de terror nos anos 70, se fazendo valer de cenas longas, sem falas, onde sempre existe alguém espreitando. A trilha sonora de sua autoria, à base de sintetizadores, é recriada aqui em "Corrente do mal" de forma brilhante e assustadora. "Corrente do mal"é uma homenagem aos filmes de terror dos anos 70 e 80, e tudo nele é retrô, nas mesma onda que "Drive" fez com os filmes de ação. Esse olhar vintage é um grande charme para o filme. O filme se passa nos subúrbios decadentes de Detroit. Um grupo de jovens é ameaçado por uma entidade que é passada de um a um através do ato sexual. A pessoa que teve relações precisa transar com outro para que a entidade siga adiante e saia de si. Dito assim, parece ser tosco. Mas incrível, o filme lida com esse roteiro de forma genial, através de uma Direção indie e voltada aos filmes de arte. Planos e enquadramentos lindos e originais, tempos longos, movimentos de câmera, tudo à serviço de um ótimo exercício de realização. O clima de suspense é constante. O elenco trabalha de forma realista, e foi isso o que mais me surpreendeu. Sem gritos exagerados, sem atuações que brincam com o gênero ( que fez sucesso em "Pânico", uma auto-paródia.). Alguns momentos podem parecer risíveis, mas particularmente me envolvi 100% com o filme. Altamente recomendado para quem curte um filme original, mesmo que se utilizando de um roteiro de fórmula já gasta. Aos nostálgicos, impossível não se lembrar de "A hora do pesadelo", "Halloween"e "Sexta-feira 13". Com uma embalagem cult e cinéfila. Nota: 9

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Saint Laurent

"Saint Laurent", de Bertrand Bonello (2014) Exibido na Mostra competitiva de Cannes 2014, essa biografia do famoso estilista francês é muito diferente da versão lançada no mesmo ano de 2014, 'Yves Saint Laurent", de Jalil Lespert. O Ator Gaspard Ulliel, que interpreta Saint Laurent , venceu O César de Melhor Ator em 2014. A versão de Jalil Lespert aposta na biografia mais convencional do estilista, enquanto que a versão de Bertrand Bonello ( de "Tiresia" e "O pornógrafo") vai de cara com um experimentalismo e uma visão mais fragmentada. De comum, ambos possuem uma qualidade técnica exemplar: fotografia, figurinos, maquiagem, direção de arte. Glamour não falta, pelo contrário, é abundante e ver o filme já nos deixa extasiado com tanta beleza. Porém, "Saint Laurent" é um filme de ritmo lento e pasmem, tem 2:30 horas de duração. Muito difícil não se sentir cansado assistindo ao filme. Ainda bem que o talento dos atores nos deixa curiosos em querer atravessar o filme inteiro. Juntando o que há de melhor entre os jovens atores franceses, o Cineasta convocou Lea Sedoux, Louis Garrel, Jérémie Renier e outros menos conhecidos, mas igualmente talentosos. Algumas cenas ousadas de nudez frontal masculina e feminina trazem uma carga erótica e sensual ao filme. Nota: 6

terça-feira, 5 de maio de 2015

Um dia, um gato

"Az pridje cocour", de Vojtech Jasny (1963) Era uma vez em 1963, em um País longínquo do leste europeu chamado Tchekoslovaquia, um cineasta ousou realizar uma fábula para as crianças que falava de um gato mágico que usa um óculos e que, ao tê-los retirados, enxergava a verdadeira essência do ser humano. O Governo comunista, que financiou o filme, não conseguiu entender as metáforas e simbologias do filme e ele passou despercebido para o mundo todo. Hoje em dia, é completamente impossível não enxergar as críticas ao sistema comunista no filme. Genial e ousado, essa bela narrativa fantástica foi uma experiência radical dentro do gênero cinema fantástico. Em um vilarejo moram o arquétipo de uma sociedade feliz: adultos e crianças convivem harmoniosamente. Mas o que eles não conseguem entender e' a influência maléfica do Diretor da escola, que reprime a liberdade a a criatividade das pessoas. Os animais devem ser mortos e empalhados, e o professor de artes deve ser repreendido ao motivar as crianças a sonhar. Um dia, um circo surge na cidade. O mágico faz uma apresentação e entre as suas estrelas, estão uma bela trapezista e o tal do gato mágico. A simples presença dele, que delata a verdade das pessoas, cria um tumulto na cidade e o diretor exige a sua morte. Cabe às crianças salvar o bichano. Felinni e Woody Allen sempre reverenciaram o universo do circo e do mágico, que, substituindo a tela do cinema, traz sonhos e magia para os espectadores. Brilhante direção e roteiro, que ousa falar do regime político nas entrelinhas. Talvez para as crianças de hoje em dia lhe falte ritmo, mas essas mesmas crianças, ao crescerem, deveriam se orgulhar de um dia poder apreciar essa obra prima. Um filme à frente de seu tempo, vencedor do Prêmio do Júri em Cannes 1963. Com certeza ele foi uma influência para o movimento da Primavera de Praga em 68. A trilha sonora é um primor e entre tantas cenas antológicas, destaco a da sala de aula com as crianças. Genial. Nota: 8

Deus branco

"Fehér isten", de Kornél Mundruczó (2014) Imagine uma versão hardcore live action do clássico da animação "A dama e o vagabundo", de Walt Disney. Ou uma versão sem computação gráfica, se utilizando 100% de animais de verdade, de "O planeta dos ...cachorros" !!!!. Uma história de vingança, típica de centenas de filmes B americanos, onde os animais, subjulgados pelo homem, que os maltratam, se rebelam e começam a caça-los. Pois então, esse mesmo filme venceu o Prêmio "Camera de D'or" na Mostra "Un certain regard" em Cannes 2014. O filme é dirigido pelo húngaro Kornél Mundruczó, o mesmo do premiado " Filho terno, Projeto Frankestein", EM ambos os filmes, o cineasta toca no tema do choque de gerações entre pais e filhos, que não se comunicam. Em "Deus branco", acompanhamos a história de Lily, uma menina de 13 anos que é deixada pela mãe aos cuidados do ex-marido. Porém, Lily vem acompanhada do seu cachorro Hagen. Lily vai estudar música em um conservatório, mas o pai a proibe de manter o cachorro e o acaa abandonando na rua. O filme então passa a acompanhar paralelamente as histórias de Lily e de Hagen ( e ambos descem ao inferno. Lily se droga, se deprime e se torna rebelde. Hagen é treinado por um apostador de lutas de cachorros e se torna extremamente violento.) Não preciso dizer como o filme termina, em total carnificina. Mas o que chama a atenção no filme é a originalidade do Diretor em fazer um filme de ação pelo ponto de vista de um filme de arte. Ritmo lento, olhar estilizado sobre as situações. A performance da menina Zsófia Psotta impressiona. Ela trabalha muito bem as diversas nuances da personagem, que vai da alegria à tristeza, do ódio ao medo. Mesma coisa o trabalho dos cães do filme, treinadíssimos e capazes de "interpretar". Os animais ganharam o Prêmio que Cannes distribui para animais, e com louvor. é um filme curioso, muito bem filmado e fico imaginando o trabalhão que não deva ter dado. Porém, o roteiro fica devendo em originalidade. Nota: 7

sábado, 2 de maio de 2015

Via Appia

"Via Appia", de Jochen Hick (1989) Realizado em 1989 por uma produção alemã , é com certeza um dos únicos registros filmados no Rio de Janeiro que mostra a cidade por uma outra faceta. Um olhar maldito e underground sobre os pontos de prostituição masculina (saunas gays, Galeria Alaska, Via Appia) no auge do temor da Aids. Mendigos, travestis, miches, pivetes, gringos em busca de sexo, o misticismo religioso. Você jamais viu uma mistura tão explosiva, um filme que mostra a cidade carioca da forma mais apavorante e feia possível: escura, perigosa, cenário de filme de terror. Nessa terra de ninguém, se desenrola a história de Frank, comissário da Lufthansa que retorna ao Rio para encontrar o garoto de programa que o contaminou com o vírus. Ele vem junto de uma equipe documental de uma televisão alemã para fazer um registro do submundo carioca. Ele é ajudado por Jose (Guilherme de Pádua), um garoto de programa que o auxilia na busca do cara que o contaminou. O filme é realizado através do olhar documental. Usando uma câmera de 16 mm, Hick faz da câmera subjetiva a testemunha de uma época que assustava pela sua libertinagem. Tudo era permissivo, sem medo, sem culpa. Hoje em dia essa câmera subjetiva virou clichê, mas aqui, era novidade. O filme, por ser de baixo orçamento tem uma realização muito tosca. Mas dai reside o seu charme. Maldito, perverso, fetichista, proibido para menores e pessoas sensíveis. O Guilherme de Pádua anos depois se envolveu em um caso de assassinato que enterrou de vez suas pretensões de ser artista. Muita nudez, muito sexo e a prova de que o cinema nos anos 80 era muito livre. A trilha sonora é recheada de sons eletrônicos e sintetizadores. Nota: 4

Marcados pela guerra

"Camp X Ray", de Peter Sattler (2014) Filme de estréia do cineasta Peter Sattler, também autor do roteiro. O filme narra a sensível história de uma amizade improvável entre um acusado de terrorismo, Ali ( o ator iraniano Peyman Moaadi , dos filmes "A separação" e "À procura de Elly", de Asghar Farhadi) e da soldado Cole ( Kristen Stewart). Cole se alista no exército para poder sair de sua vida entediada na Flórida. Logo após o atentado de 11 de setembro, ela é enviada até a base de Guantanamo, em Cuba, e na sua rotina, ela deve vigiar os acusados de terrorismo. Entre eles, está Ali. Em princípio arredia, Cole vai se deixando seduzir pela inteligência e amor à vida e as artes por parte de Ali. Ele se diz inocente, mas ninguém lhe dá atenção. Ao mesmo tempo, Cole precisa lidar com os maus tratos dados aos detentos (deve-se chamá-los de detentos, pois se chamar de prisioneiros, eles terão direito à Convenção de Genebra, que os protege). e também com o machismo existente entre os oficiais de alta patente que fazem pouco caso de Cole. O filme abusa de clichês ao falar de relacionamentos entre pessoas tão distintas ( como em "A vida dos outros'), mas o embate entre Kristen e Peyman é o que segura o filme. Bem dirigido e belamente fotografado, o filme tem como ponto contra a sua longa duração. Poderia ter facilmente meia hora a menos e diminuir os sub-plots. ( as histórias de outros oficiais). Kristen trilha o seu caminho para provar que é uma ótima atriz, já provado em filmes distintos como "Para sempre Alice", "Na estrada" e "Acima das nuvens", filme que lhe proporcionou o prêmio de melhor atriz coadjuvante no Bafta 2015, um prêmio ainda inédito para um Ator americano. É um drama correto, sensível e realizado com muita garra. Me lembrou o recente "118 dias" com Gael Garcia Bernal, pois ambos os filmes se passam quase que em sua totalidade nas dependências de uma prisão. Para quem busca um filme adulto e de forte carga dramática, essa é a pedida. O título do filme se refere a uma das instalações de Guantânamo, chamada de "Camp X Ray". O filme teve sua estréia em Sundance 2014. Nota: 7

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Zazie no metrô

"Zazie dans le metro", de Louis Malle (1959) Baseado no clássico juvenil escrito por Raymond Queneau, "Zazie no metrô" foi a primeira experiência do Cineasta francês com a comédia. Buscando uma forma de narrar uma história contada através de fantasia e tom de fabula, Malle buscou referências no Cinema mudo e no desenho animado, principalmente "Pernalonga" e "Tom e Jerry". Resulltado: um dos filmes mais alucinados, trangressores, inquietantes e loucos que já assisti. O filme é tão inovador em sua linguagem, que com certeza inspirou Peter Bogdanovich em sua comédia "Essa pequena é uma parada" , "Um convidado bem trapalhão" de Blake Edwards e Jean Pierre Jeunet em "Amelie Poulain". Esse último inclusive se inspira nas lentes ( grande angular), na variação de velocidade e nos personagens bizarros, além do colorido e do visual Vintage. Zazie é uma menina desbocada e rebelde de 12 anos, que vem a Paris junto de sua mãe. A mãe a deixa com seu tio ( Philip Noiret) e vai se encontrar com o amante. Por 2 dias, Zazie vai botar Paris abaixo, destruindo tudo e tocando o terror. Tudo isso porquê ela quer conhecer o metrô,que por azar, está fechado por conta da grave dos funcionários. Pedofilia, homossexualismo, ninfomania e tantas outras taras e fetiches são mostrados de forma politicamente incorreta nesse filme muito além de seu tempo. Em uma cena tecnicamente exemplar, em plano-sequência ( os 2 personagens descendo as escadarias da Torre Eiffel e a câmera fazendo movimento descendente), Zazie pergunta a um adulto se ele é gay e porquê ele não se sente atraído por ela, que tem 12 anos!!!! Os diálogos são quase sempre de duplo sentido, mostrando que de infantil o filme não tem nada. O elenco é um primor, lembrando muito a levada de Jacques Tati e a caricatura e trabalho de corpo que ele fez ficar famoso no mundo todo. Repleto de gags visuais, o filme esbanja vitalidade e modernidade, espantoso para um cineasta que depois ficou famoso pelos seus filmes densos ( "Adeus, meninos", "Atlantic City", "Os amantes", "O sopro do coração". etc) O filme é um verdadeiro compêndio de como fazer comédia inteligente se utilizando de gas e poucos diálogos. Uma pequena obra-prima do cinema, que deve muito ao talento de uma menina espevitada e sagaz, a atriz Catherine Demongeot, que infelizmente não conseguiu seguir carreira. Nota: 9