sábado, 9 de maio de 2015

O Vendedor de passados

"O vendedor de passados", de Lula Buarque (2014) O mais curioso nesse filme livremente adaptado do livro do escritor angolano José Eduardo Agualusa é a busca por um gênero. Inicialmente lançado como uma trama de suspense, na sequência veio como romance e drama. Porém, na exibição do filme no Festival de Pernambuco de 2015, onde saiu com os prêmios de Melhor Ator para Lazaro Ramos e Melhor edição de som, ele recebeu um carimbo de Comédia dramática. E isso é surpreendente. O filme pode ser visto por várias matizes distintas. Quem quiser pode buscar qualquer um desses gêneros no filme e vai se divertir. Essa é a riqueza de uma história que brinca com vidas, passados e futuros de personagens e fatos históricos. Em uma complexa rede de imagens, sejam elas fotos ou videos, o filme na verdade são dois: acompanhamos a trama principal, que conta a história de Vicente ( Lazaro Ramos) e de uma mulher misteriosa, Clara ( Alinne Moraes), e também nos deixamos seduzir pela trama paralela. Essa segunda história é a revelação de um possível passado que envolve ditadura militar argentina, torturas, assassinatos , narrada exemplarmente através de fotos e vídeos de arquivo. Vicente tem uma profissão sui generis: ele reconstrói passados dos clientes, que desejam ter a chance de terem sido uma outra pessoa no passado. Um dia surge uma mulher encantadora e provavelmente fatal, como nos bons filmes Noir: uma mulher sem nome, que ganhará a alcunha de Clara. Ela encomenda para Vicente um passado criminoso, onde ela tenha assassinado alguém. Seduzido por essa estranha, Vicente se vê preso a um jogo de verdades e mentiras, que acaba trazendo conflitos para o seu próprio passado. É real? É inventado? Visualmente o filme é muito elegante, embalado pela fotografia de Toca Seabra. A trilha sonora, charmosa e que trabalha também sonoridades clássicas com modernas, traz o elemento pop para o filme. A direção de arte também merece louvor. É um filme brasileiro que flerta com a forma de se narrar uma história trazendo o espectador para refletir sobre o que está vendo. Afinal, como na famosa frase do filme de John Ford , "O homem que matou o facínora, "se a lenda é mais interessante do que o fato, publique-se a lenda". E que se foda a verdade.

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