domingo, 12 de julho de 2015

O fundo do coração

"One from the heart", de Francis Ford Coppola (1981) Filmado em 1981, logo após a megalomania de "Apocalipse now", "O fundo do coração" era obra aguardadíssima pela crítica e público, ainda mais depois de Coppola ter gasto 32 milhões de dólares construindo os cenários de Las Vegas inteiramente em Estúdio. Porém, assim que foi lançado, o filme foi ignorado pelo público e destruído pela crítica. Resultado: o filme foi para o limbo. Décadas depois, o filme foi redescoberto e muitos dizem estar entre as melhores obras de Coppola e mais, colocam na lista dos melhores filmes de todos os tempos. Eu particularmente considero o filme uma obra-prima. O roteiro nem é original, porém a forma como Coppola filma e narra essa história, é magistral. A começar pelo uso da fotografia a cargo de Vittorio Storaro: Valorizando as luzes e neons de Las Vegas, o abuso de azul e vermelho , além de brilhos, realça o drama, a melancolia dos personagens. Contrastando com a luz excessiva da cidade, Hank ( Frederic Forrest) e Fannie ( Teri Gaar) possuem cores distintas. Hank mais pro azul melancólico e triste, Fannie mais pro vermelho paixão e caliente. A edição usa um recurso muito original: sobrepõe as imagens, dando a sensação de que os dois cenários coexistam. A direção de arte é espetacular, requintada em todos os detalhes na construção de Las Vegas, incluindo um imenso aeroporto. Hank e Fannie são casados a 5 anos. Ela, uma vitrinista, quer viajar para a ensolarada Bora Bora. Ele quer economizar dinheiro e comprar a casa própria. No dia 4 de julho, feriado da independência, eles discutem e cada um sai para um canto. Hank conhece uma malabarista de circo, Leila (Nastaja Kinsky, deslumbrante) Fannie conhece um garçon, Ray ( Raul Julia). Assim, criam uma tentativa para esquecer um ao outro. Embalado por uma trilha sonora poderosa de Tom Waits e Crystal Gayle, o filme provoca sensações, tanto pela imagem quanto pelo som. Teri Gaar e Frederic Forrest estão soberbos como o casal de meia idade. Dignos, decadentes, ambos exalam sinceridade e tristeza em seus olhares. Os outros atores, incluindo Harry Dean Stanton no papel de Moe, melhor amigo de Hank, também estão excelente. Um filme que merece estar no panteão das grandes obras e que precisa ser descoberto por toda uma nova geração cinéfila. Nota: 10

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