segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Borboletas da vida

"Borboletas da vida", de Vagner de Almeida (2004) Documentário vencedor do prêmio de melhor filme no New York Brazilian Film Festival de 2005, pode ser considerado um pré "Favela gay", premiado documentário de Rodrigo Felha realizado em 2014. Apesar da distância de 10 anos entre os 2 projetos, é aterrorizante testemunhar que absolutamente nada mudou: os depoimentos são os mesmos. Preconceito, violência social e familiar, desemprego, depressão e a eterna sensação de não pertencer a esse mundo. Ambos os filmes falam sobre ser homossexual dentro de comunidades pobres do Rio de Janeiro. Mas não o homossexual glamuroso e bombado em festas raves, mas o afeminado, o "bichinha", o que se assume e que tem uma persona feminina muito forte fazendo com que vários deles se trsnsformem em drag queens e travestis. Nenhum dos depoentes ainda pensou em fazer a operação para mudança de sexo. Em "Borboletas da vida", produzido pela Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA), acompanhamos vários depoimentos de gays afeminados no bairro de Austin, em Nova Iguaçu. São pobres, maioria sem grande instrução, porém todos com um discurso muito apropriado e firme sobre o que desejam na vida, baseado em casos de bullying e violência sofridos na infância. Mesmo com tanta tragédia, os gays conseguem se divertir e dar depoimentos hilariantes, o que vai na máxima de que rir é o melhor remédio para curar a tristeza. Todos se consideram "bichas boys": de dia agem como homenzinhos, e de noite, levam bolas e se travestem de mulheres em casas de show, no caso, uma casa de show em Austin dedicado ao público Lgbt. Tem uma frase que um dos entrevistados diz que é genial: "Sou bicha boy : de manhã sou homem e de noite tiro a mulher de dentro da bolsa." O que o filme tem de exemplar é a sua simplicidade: tanto na técnica quanto nos depoentes. são pessoas muito simples, falam errado, mas possuem um poder incrível de emocionar com os seus desabafos. Fiquei com vontade de escrever várias histórias ali. Muito lindo mesmo. De ruim, somente o componente visual das borboletas, que achei brega. Mas talvez tenha sido até mesmo proposital, fazendo parte desse elemento lúdico que o filme traz, como se tudo fosse um grande conto de fadas de terror na era moderna. Muito bom.

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