domingo, 7 de fevereiro de 2016

A montanha dos sete abutres

"Ace in the hole", de Billy Wilder (1951) Clássico filme dirigido e co-escrito por Billy Wilder, tem como tema a ética no jornalismo. Na época do seu lançamento, em 1951, o filme foi um fracasso de crítica e público. É fácil dizer o porquê: o protagonista é um vilão que se aproveita de uma tragédia para fazer seu nome e ganhar popularidade em cima do sofrimento dos outros. A imprensa é desmascarada em sua falsidade e ânsia em querer vender. "Uma tragédia de um homem vende notícia, a de 83 homens ou mil não vendem. As pessoas querem ler a tragédia de um indivíduo". Segundo essa frase, o personagem de Kirk Douglas, Charles Tatum, já se apresenta para o espectador como um homem inescrupuloso. Vindo de cidade grande, de onde foi demitido de todos os importantes jornais, ele vai procurar emprego em um pequeno jornal de uma cidade em Novo México, Albuquerque. Um ano depois, já acostumado a pascameira local, onde nada acontece, ele vai cobrir uma matéria sobre caçadores de serpente. No caminho, ele descobre que um homem ficou preso em uma mina, ao tentar encontrar tesouro indígena. Chegando no local, ele conversa com a esposa e o pai da vítima e fica sabendo sobre a história: A montanha é conhecida como "A dos 7 abutres", e segundo a lenda indígena, ali foram enterrados índios, e os seus espíritos é que provocaram o acidente,, impedindo Leo, a vítima, de sair de lá vivo. Charles desce o túnel e conversa com Leo, que está preso sobre escombros. Percebendo que ali está sua chance de fazer uma grande matéria, Chales faz de tudo para segurar Leo ali no local do acidente. Logo, o local é visitado por milhares de curiosos, um circo é montado, feira, etc. Todo o circo montado do lado de fora do local pode ser visto como uma metáfora da mídia e da população que anseia por histórias sensacionalistas. Incrível como, mais de 50 anos depois, toda essa história se mantém extremamente atual ( basta ver o acidente no deserto de Atacama, no Chile, onde dezenas de mineiros ficaram presos. Pouco tempo depois, a história foi vendida e virou filme). É incrível o trabalho de direção de arte no filme, em uma época onde não havia computação gráfica. Centenas de carros, roda gigante, milhares de figurantes. O valor de produção do filme é enorme. Impressiona. Kirk Douglas está excelente, econômico, e suas feições mudam de uma hora para outra de forma brilhante. Jan Sterling, como Lorraine Mimosa,a esposa da vítima, também cria um personagem complexo, alternando momentos de luxuria com desespero. Um filme soberbo, obrigatório para estudantes de jornalismo e cinéfilos.

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