terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Filmefobia

"Filmefobia", de Kiko Goifman (2008) Assistir ao documentário do Cineasta Kiko Goifman anos depois de ter ganho vários prêmios em Brasília no ano de 2008, me faz pensar em várias coisas. Do Festival, ele saiu com os prêmios de Melhor filme do juri oficial, melhor filme da crítica, melhor montagem, melhor ator e melhor direção de arte. Três questionamentos: 1) Filme vencedor em Festival não garante visibilidade 2) Melhor ator para um cineasta e ensaista, Jean Claude Bernadet 3) Os limites entre ficção e documentário, para o trabalho do Ator Eu me lembro que na época que fiquei sabendo da existência do filme, em 2008, eu queria assisti-lo, mais por curiosidade. O seu tema, sobre fobias, me deixou intrigado. Mas por motivos que nem sei dizer, não o vi. Somente agora, 8 anos depois, tomei a iniciativa de vê-lo. Perguntei para vários amigos cinéfilos, e nenhum sequer havia ouvido falar do filme. Ser premiado em Festival, para boa parte dos filmes, não significa que ele vá seguir uma carreira comercial, nem ser visto pelo público alvo. Talvez a chance seja assistir em dvd ou em tv fechada. O tema de alguns filmes também parece não ser tão atraente assim para o espectador, e acaba ficando relegado a participação em Festivais. Aí fica a questão, que deixo em aberto: Fazer filmes para público ou para Festivais? No quesito Melhor Ator, outra polêmica. Jean Claude Bernadet é um famoso ensaísta e teórico sobre o Cinema, deu aulas em Faculdade de Cinema e dirigiu alguns documentários. Ele não é ator profissional, e aqui no filme, ele interpreta a si mesmo. O seu "Personagem" é um Diretor de um documentário que monta situações onde fóbicos precisam trabalhar os seus medos. Entre uma e outra experiência com as "cobaias", ele conversa em uma mesa redonda com a equipe: O diretor Kiko Goifman, o roteirista Hilton Lacerda ( Diretor do excelente "Tatuagem" ) e da diretora de arte Cris Bierrenbach. Ou seja, Jean Claude interpreta a ele mesmo. Fico imaginando o que os concorrentes da categoria não devem ter pensado. E por último, a questão ética sobre o trabalho do Ator. Li que no filme, temos o trabalho de atores lidando com suas fobias, e de atores contratados para interpretar histórias de fóbicos. Quem é quem? Nessa parte, e a que realmente me seduziu, fica o limite do trabalho do autor. O que é real? O que não é? Me lembro dos filmes de Eduardo Coutinho, principalmente de "Jogo de cena", onde a estrutura narrativa é semelhante: atores famosos e anônimos dando depoimentos emocionados sobre histórias comuns. Mas entre os anônimos, haviam atores decsonhecidos. Como o espectador saberá se está vendo uma encenação ou não? As cenas de torura me pareceram ser reais. Parece até que estamos assistindo a "Jogos mortais", ou "A câmera de horrores do Dr Phibes". Em um estúdio escuro, cenário de filme de terror B, e com excelente direção de arte, vemos pessoas sendo torturadas com cobras, ratos, botões de camisa!, sangue, borboletas e tudo o mais que você imaginar. Das raras cenas externas temos um homem com fobia de anão sendo sadicamente torturado por um deles. Como espectador, não sei se rio das situações estapafúrdias, ou se rio porquê essas pessoas aceitaram ser torturadas. Alguns até questionam o "Diretor" que se soubessem que seria assim, não teriam participado. Mas ai a pergunta: esse questionamento é real ou encenado? E o que dizer de uma cena de uma mulher nua, sendo torturada por carrinhos amarrados a vibradores, por conta de sua fobia a penetração sexual? Mas quem de fato deveria ter recebido um prêmio, é o Zé do Caixão pela sua participação. ele é convidado a assistir a algumas das torturas. Na dos ratos, um jovem totalmente nú fica amarrado a uma cama, e debaixo dele, vários ratos são colocados. Zé do Caixão diz que se o cara de verdade tivesse fobia, o pau dele ficaria mole. Só que não, ele ficou excitado. Como não gargalhar com esse depoimento? Mas atenção: é um filme para quem não se impressiona com imagens fortes: a mais louca de todas, o de uma mulher se cortando com uma gilete. Para nunca mais esquecer.

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