quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

O abraço da serpente

"El abrazo de la serpiente", de Ciro Guerra (2015) Vencedor da Quinzena dos realizadores em cannes, "O abraço da serpente"são pelo menos uns 10 filmes ali embutidos. Não que isso seja um demérito, mesmo porquê não existem mais filmes originais. Mas mostra um apuro cinematográfico e cinéfilo de um Cineasta que trabalha em um País onde a produção de cinema ainda é bem escassa, e mesmo assim, consegue realizar um filme a um passo de ser uma obra-prima. "A árvore da vida", "A missão", "Apocalipse now", "2001", "Tio Bonmee", "Fitzcarraldo", "Viagens alucinantes", enfim, vale tudo nesse "Boat movie" em preto e branco e que se passa em duas épocas distintas: Início do Séx XX e depois por volta da 2a Guerra, 1940. A costura das duas épocas vem através da figura do índio Karamakate. Solitário, ele mora na floresta após o seu povo ser dizimado pelos colombianos. Um dia, surge um índio civilizado que lhe traz um alemão, pedindo para que Karamakate o cure com a planta rara Yakruna, que dizem, cura tudo. O alemão é o biólogo Theodor Grunberg, que está doente. Juntos, o trio segue em busca da planta secreta. Paralelo, o filme avança 40 anos, e o mesmo Karamakate é visitado pelo americano Richard Schultes, que é um botânico que possui o manuscrito de Theodor e que pretende seguir o caminho que ele fez para obter a Yakruna. Para isso, ele pede ajuda a Karamakate, dizendo que apenas a planta pode fazê-lo sonhar. Baseado nos relatos reais dos 2 expedicionários, o roteiro trabalha de forma extraordinária o real e o metafórico. Fala-se de muita coisa: missão cristã e a influência sobre os índios, a perda da identidade cultural, a colonização, a morte dos índios pelos colombianos. a crença na religião, espiritismo e falsos Messias. É um filme muito rico, complexo, cheio de simbolismos. Talvez seja necessário se assistir pelo menos duas vezes ao filme para poder absorver tanta informação. Visualmente, é um escândalo, filmado em preto e branco e em locações na Amazônia totalmente inóspita. Muitas cenas antológicas, entre elas, a da pregação do falso Messias, e claro, o desfecho, que com certeza irá me tirar o sono por vários dias. Trabalho incrível do elenco, misturando profissionais e amadores. Obrigatóriio.

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