sábado, 6 de fevereiro de 2016

Retorno à Itaca

"Rethour à Ithaque", de Laurent Cantet (2014) Pegue um Cineasta premiado em Cannes ( Laurent Cantet, vencedor da Palma de Ouro de melhor filme em 2008 por "Entre os muros da escola'"), uma locação deslumbrante ( um terraço em Havana, de onde se vê toda a Ilha em seu esplendor) e 5 Atores cubanos extraordinários, e acrescente aquela pitada nostálgica de obras-primas como"Nós que nos amávamos tanto", de Ettore Scola. O Resultado é um filme melancólico, que nos faz reavaliar a nossa vida e as decisões que tomamos, principalmente quando, como os personagens, você está na meia idade. É um filme sobre derrotas, sem nenhuma vitória, nem nenhum momento de alegria ( sorrisos se escondem sob falsas promessas e debaixo de muita hipocrisia). Amadeo, escritor e integrante de um grupo de teatro, retorna à Havana, após 16 anos de exílio em Madri. Seus melhores amigos se reencontra e juntos, os 5 passam uma tarde juntos. No entanto, o que era para ser um reencontro feliz, acaba se tornando uma verdadeira lavação de roupa suja, onde o que parecia ser amizade, era na verdade, um jogo de mentiras. Laurent Cantet já havia filmado em Cuba, ele foi o autor de um dos episódios de "7 dias em Havana", filme em episódios ambientados em Havana. Cantet escreveu essa história sobre a desilusão. Através de 5 personagens na faixa dos 50 anos: Tania ( Isabel Santos), oftamologista que mal consegue sobreviver com o seu salário, e que vive de doação de comida de seus pacientes, e cujo marido e filhos figuram para Miami e nunca mais se comunicaram com ela; Aldo (Pedro Julio Diaz), mec&anico que conserta baterias roubadas; Eddie (Jorge Perugorria), dono de uma empresa que vende produtos no mercado negro e prestes a ser preso; Amadeo ( Nestor Jimenes), escritor que retorna para Havana após 16 anos em Madri, e cuja esposa faleceu de câncer sozinha em Cuba; e Rafa ( Fernando Hachaverria), pintor de sucesso que teve que ceder a pressões do governo e deixar de ser um artista para pintar qualquer coisa. Todos eles, possuem dentro de si um fracasso pessoal e profissional. A metáfora de uma Cuba que talvez não tenha dado certo na sua revolução socialista, perpassa pela vida desses anti-heróis, que acreditaram nos ideais revolucionários. A direção de Cantet tenta, mas é difícil não ter a sensação de estarmos vendo teatro filmado, afinal, o filme é totalmente dialogado. Mas as imagens belíssimas do terraço, com vida própria ( acompanhamos os moradores que vivem ao redor) e uma fotografia exuberante constantemente nos fazem lembrar que estamos vendo cinema. O trabalho excepcional dos atores, todos cubanos e portanto, trazendo na memória dos personagens a memória pessoal de cada um, faz com que olhares e sorrisos amargos se tornem tristemente reais. Para quem gosta de um filme apreciando um ótimo texto e atores talentosos, não podem deixar de assistir a esse belo filme. Que com certeza, os fará pensar muitas das decisões de sua vida.

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