sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Sangue francês

"Un français", de Diastéme (2015) Bom drama francês, escrito e dirigido por Diastéme, fazendo voz aos filmes humanistas que surgiram na França principalmente na última década: filmes como "Policia", "De cabeça erguida", "Dois dias uma noite". São filmes que falam de uma Europa decadente, onde valores de dignidade e civilização há muito se perdeu. Cineastas como os irmãos Dardenne e Diastéme, querem acreditar que a figura do marginal é totalmente passível de humanização e de correção social, sem que para isso seja necessário medidas drásticas para reabilitá-los socialmente. Baseado em história real, 'Sangue francês" narra a epopéia de um jovem Neo-nazista Marco ( excelente desempenho de Alban Lenoir). Durante mais de duas décadas, acompanhamos o seu envolvimento com o Movimento neo-nazista e subitamente, como o passar dos anos, a sua crescente humanização. até questionamentos que ele levanta sobre ex-companheiros, que continuam no movimento ou aderiram ao partido de extrema direita, contrária à imigração e à presença de negros e árabes na França. É um filme duro e cruel, que não fornece soluções. Como Marco vai mudando o seu comportamento, as pessoas vão se afastando dele, no entanto, tipos mais humanos vão fazendo parte de seu convívio. O mais curioso, e para mim o que dá força ao filme, apesar da estranheza, é a passagem de tempo abrupta, que simplesmente elimina informações teoricamente essenciais para o entendimento da trama. Por ex, não sabemos porquê Marco muda bruscamente de postura. Não sabemos porquê ele se afeiçoa tanto ao personagem do farmacêutico, que vem a se tornar o seu melhor amigo. Acreditar que ele tenha salvado sua vida, talvez seja um pensamento ingênuo demais, para um personagem que costumava bater em homossexuais, árabes, negros, quase levando-os à morte. Por mais que seja baseada em história real, quero acreditar que o filme é uma espécie de parábola do Homem mau que se descobriu ser humano. A primeira parte do filme é brutal e visceral: cenas de porradaria , sangue, tripas. Todas as cenas muito bem coreografadas e dirigidas. Depois, o filme segue um percurso mais convencional, mesmo que com as elipses no tempo. Tivesse continuado na pressão que estava desde o início, o filme poderia ter se tornado um cult como "O ódio", de Kassovitz. Mesmo mediano, e um filme que vale ser visto pelo trabalho do protagonista e pela sua mensagem, ainda mais em tempos de imigração extrema na Europa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário