quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A criada

"Ah ga ssi", de Park Chan-wook (2016) Festejado em Cannes 2016, de onde saiu com o Prêmio de contribuição artística, "A criada" é desde já um filme que nasceu clássico, e com certeza dos melhores do ano. Um filme essencialmente adulto, perverso, erótico e muito fetichista, o diretor de "Oldboy"conseguiu se superar, realizando aqui o seu trabalho mais apurado tecnicamente, em todos os sentidos. A fotografia escandalosa, de seu parceiro Chung-hoon Chung, aliado ao trabalho de câmera e enquadramentos, fazem cada fotograma se tornar uma pintura. Fora isso, a trilha sonora, a direção de arte e o figurino esbanjam primor. "A criada" é uma fábula mais sexualmente explícita do que "Azul é a cor mais quente", com as cenas mais quentes de sexo entre duas mulheres que você já viu em um filme de arte. Ambientado nos anos 30, com a Coréia dominada pelo Japão, acompanhamos um triângulo amoroso: Um conde arma um plano com uma jovem camponesa, Sook-Hee, para que essa trabalhe para uma nobre japonesa, Lady Hideko, que está adoentada desde que sua tia se suicidou. Sook Hee passa a cuidar de Hideko, acompanhada de perto pelo vigarista Conde Fujiwara, que planeja se casar com Hideko e se apropriar de sua fortuna. No entanto, a trama toma um rumo inesperado. O filme, poderoso por si só, deve muito de seu sucesso e vigor ao trabalho do trio principal, essencialmente as duas atrizes, Kim Tae-ri e Kim Mi Hee, Sook Hee e Hideko respectivamente. As duas se entregam de corpo e alma, e não economizam nas cenas eróticas. O filme é repleto de cenas antológicas, como a leitura para os aristocratas ou a segunda cena do enforcamento. Espere um filme complexo, adulto, proibido. Longo, com quase 2:40 horas, é para ser absorvido aos poucos, em uma trama que muitos críticos compararam a Hitchcock e sua "Rebecca". O filme está mais para 'Rashomon", de Kurosawa, ao surpreender na sua trama e mostrar o ponto de vista de uma mesma ação em diferentes olhares dos personagens. Obrigatório.

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