terça-feira, 11 de outubro de 2016

O que seria desse mundo sem paixão?

"O que seria desse mundo sem paixão?", de Luiz Carlos Lacerda (2016) O cineasta Luiz Carlos Lacerda, o Bigode, abraçou o cinema independente do super produtor Cavi Borges e juntos, conceberam esse filme/ensaio poético, que faz uma alusão fantasiosa sobre a seguinte hipótese: e se os amigos Lucio Cardoso, roteirista, e Murilo Mendes ( poeta surrealista), se encontrassem depois de mortos, no Rio de Janeiro de hoje? E mais: e se os personagens dos livros de Lucio Cardoso surgissem em carne e osso, "assombrando" o criador? Esse tema curiosíssimo me lembrou bastante do filme de Alain Resnais, "Providence", onde um escritor se utiliza de entes próximos para criar seus personagens. Aqui em "O que seria desse mundo sem paixão?", além da homenagem que Bigode faz aos 2 expoentes da literatura brasileira (Bigode já adaptou obras de Lucio Cardoso, como "Introdução à música do sangue" e "Mãos vazias"), o Cinema é o grande personagem do filme. O título pode muito bem ser encaixado metaforicamente sobre a sobrevivência do cinema de autor: como existir em uma indústria de entretenimento que cada vez menos absorve filmes autorais? A resposta que Bigode dá é simples e contundente: com paixão à Arte do Cinema. Convidando atores amigos , vemos um grande desfile de talentos, que vão de Erom Cordeiro, Tonico Pereira, Armando Babaioff, Saulo Arcoverde ( excelente), Eriberto Leão, entre outros. A participação de Carla Daniel é divertida: ela interpreta Jandira, personagem de uma das obras de Cardoso, exalando sensualidade, beleza e muita alegria e melancolia, tudo mesclado em um clip muito bonito. Não é um cinema convencional, e tem uma narrativa ousada, quase experimental. É um filme de sensações, valorizadas pela bela trilha e pela fotografia de Alisson Prodlik. A destacar também a bela locação da Cinemateca do Mam, e as participações do crítico Rodrigo Fonseca e do curador Ricardo Cota, que dão conta do recado como atores em suas participações afetivas. E finalmente, senão não seria um filme do Bigode, a exaltação da beleza da nudez masculina, representada por belos enquadramentos e luz que fazem os planos parecerem pinturas.

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