terça-feira, 29 de novembro de 2016

Amor, palavra prostituta

"Amor, palavra prostituta", de Carlos Reichenbach (1982) Considerado pelos críticos o seu melhor trabalho, o filme foi escrito por Carlão (apelido de Carlos Reichenbach) e Inácio Araújo, que na época também foi assistente de direção ( Inácio hoje em dia é colunista da Folha de São Paulo). Lançado em 1982, "Amor, palavra prostituta" foi mutilado pela censura, pelo seu forte teor erótico e por ter como temas principais a questão do aborto ( um verdadeiro tabu na época), e uma referência às mortes na ditadura. Fernando é um professor desempregado. Sem chances de conseguir emprego, ele é sustentado pela mulher, Rita, que trabalha como operária de uma fábrica de tecidos. O casal passa o final de semana com o amigo Luiz Carlos e sua namorada Lilita. Durante o passeio, eles descobrem um cadáver. Voltando para casa, Luis Carlos descobre que Lilita está grávida e a obriga a fazer um aborto. Rita, por sua vez, está sendo assediada por seu patrão. Bastante controverso, o filme é repleto de cenas de sexo e de nudez, e por conta disso, foi lançado na época como sendo um filme pornográfico, o que é uma pena. Por conta desse marketing errôneo, o roteiro do filme, inteligente e bem construído, ficou em segundo plano. O filme se divide em segmentos, cada um acompanhando um personagem. Essa estrutura era inédita no Brasil ( hoje em dia é um recurso comum dividir o filme em capítulos, vide os filmes de Lars Von Triers). É um filme melancólico, desesperançoso, que já mostrava um Brasil com um futuro distante, quase impossível na busca da felicidade. As reflexões acerca dos 4 personagens, na qual o espectador é convidado a entender a psicologia de cada um deles, o aproxima do existencialismo. Carlão era um cineasta cinéfilo, que venerava todo tipo de cinema: de A a Z. Assim, ele homenageia grandes clássicos durante o filme, como por ex, "Psicose", que está passando na tv. Provavelmente Antonioni também foi uma grande referência, principalmente na cena final, de Lilita e Fernando na cama. O filme tem sim defeitos: os atores são irregulares, tecnicamente é frágil ( fotografia principalmente). Mas esse era o charme de Carlão: seus filmes tinham essa estética "suja", marginal. Para quem não conhece sua obra, vale também assistir a "Os anjos do arrabalde" , "Falsa loira" e "Dois córregos".

domingo, 27 de novembro de 2016

E sua mãe também

"Y su mamam tambien", de Alfonso Cuarón (2001) Escrito e dirigido pelo cineasta mexicano Alfonso Cuarón, um dos mais prestigiados diretores latinos em atividade em Hollywood, "E sua mãe também" é um extraordinário filme que possibilita várias leituras. Temos o filme que narra a história de Tenoch (Diego Luna), Julio ( Gael Garcia Bernal) e Luisa ( Maribel Verdu). Eles, 2 adolescentes sedentos de sexo, filhos da burguesia, alheios a tudo o que acontece em seu País. Ela, uma mulher casada com o primo de Tenoch, mas por conta de traição dele, ela topa passar uns dias com os garotos em uma praia paradisíaca, chamada de "Boca do céu". Temos também um outro filme, que é o apresentado pelo narrador: ele conta histórias do passado e do futuro dos personagens e de anônimos que os cercam, de forma brilhante. E temos o filme que é visto em segundo plano: enquanto acompanhamos os 3 aventureiros por um road movie, vemos como pano de fundo as mazelas de um México que continua pobre e preso a muitas tradições, além de envolvimento com traficantes e policiais. Nada disso altera a rota dos nossos heróis, como se esse lado negro do País não fizesse parte de seu mundo. A direção de Cuaron é brilhante: na marcação em cena, na direção dos atores, nos inúmeros planos-sequências que percorrem o filme em apresentação metódica. A fotografia e a câmera de Emanuel Lubezki, que contribui em todos os projetos de Cuaron, impressiona pelo vistuosismo, e isso não é nenhuma novidade, para quem ja o acompanha nos filmes de Inarritu e de Terrence Malick. Os 3 atores principais estão totalmente entregues aos personagens, fazendo uso dos corpos em cenas de nudez e sexo, quase explícitos. Um filme que quando acaba, continua martelando em nossas mentes, muito mais pela melancolia dos fatos narrados, mesmo que o humor constante do filme nos contagie em sua alegria e informalidade. Obrigatório. O filme ganhou mais de 37 prêmios internacionais.

Departure

"Departure", de Andrew Steggall (2915) Longa de estréia do cineasta inglês Andrew Steggall, também roteirista desse drama ambientado no Sul da França. Tudo no filme remete ao universo de Xavier Dolan: grande apuro visual, conflitos familiares, mãe possessiva e neurótica, um adolescente descobrindo a sua homossexualidade, pai ausente e muitas cenas lúdicas que parecem chupadas do universo de Dolan: em determinada cena, folhas caem magicamente do céu, sobre um protagonista melancólico, filmado em câmera lenta. Elliott e sua mãe Beatrice viajam para a casa de verão da família, localizada no sul da França. Entendemos que eles farão um inventário da casa, que será vendida. A verdade, é que os pais de Elliott estão se separando. Elliott deseja ser poeta e passa seu tempo andando pela floresta em volta da casa. Até que um dia, avista um jovem francês Clemente, e ambos se tornam amigos. No entanto, os sentimentos de Elliott por Clemente vão além da simples amizade. Filmado com delicadeza e sensibilidade, o drama peca ao trazer uma narrativa essencialmente lenta, que se torna cansativa lá pelo meio. Os atores estão bem, mas sinto que o plot do relacionamento de Elliott e Clemente poderia ter sido mais bem elaborada e explorada, acabou ficando bem à parte da narrativa. A fotografia exalta a bela locação, fazendo um contraste entre a maravilha da natureza e a relação atormentada e agonizante da família.

sábado, 26 de novembro de 2016

Romance

"Romance", de Georges Schwizgebel (2011) Vencedor do prêmio de melhor curta de animação no Festival de Nova York 2012, "Romance" é uma abstração sobre o que é real ou fantasia. Em um avião, um homem e uma mulher sentam lado a lado. Quando o avião começa a sentir os efeitos da turbulência, ambos se imaginam criando cada um, uma história de amor com o parceiro sentado ao lado. Abusando do surrealismo, o animador suíço Georges Schwizgebel se apropria da música clássica de Rachmaninov e cria um efeito muito interessante em termos de dinâmica e de edição. Os desenhos parecem ter sido feito em cima de pinturas, é algo muito bonito e incrível de se ver. O filme tem apenas 7 minutos, é uma ótima oportunidade para fazer uma viagem lisérgica ( no bom sentido) e se deixar levar por essa bela experiência sensorial. Link abaixo: https://www.youtube.com/watch?v=h0v7cFOmwYg

Phantom Boy

"Phantom boy", de Jean-Loup Felicioli e Alain Gagnol (2015) Em 2010, os animadores Jean-Loup Felicioli e Alain Gagnol concorreram ao Oscar de animação pelo filme "Um gato em Paris". Agora com "Phantom boy", eles brincam com os gêneros policial noir e o de super heróis, de forma emocionante. A ação acontece em Nova York: Leo, um menino de 11 anos, tem uma irmãzinha. Todo dia, ele narra para ela histórias policiais, onde ele se imagina o herói. Leo, no entanto, está com câncer e é internado pelos seus pais no hospital para fazer quimioterapia. Chegando lá, ele descobre um dom: ele consegue sair de seu corpo, como um fantasma. No hospital, ele conhece o atrapalhado Tenente Tanner, que se feriu e ficou na cadeira de rodas após uma tentativa fracassada de prender um gangster que planeja espalhar vírus em todos os computadores do mundo. Impossibilitado de andar, Tanner aceita a ajuda do "fantasma" Leo para perambular pela cidade e tentar prender o gangster. Audrey Taotou faz a voz de Mary, uma destemida jornalista que também procura incriminar o gangster. O filme é uma deliciosa aventura nostálgica, que fará mais a cabeça dos adultos do que as crianças. O ritmo é lento, o tema da doença talvez seja muito sombria para a criançada. Lembra muito os desenhos dos anos 60, como "Jonnhy Quest". A trilha sonora inclui "Dream a little dream of me", apropriado para o tema do filme, já que Leo quando "sai" de seu corpo, dorme.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Take me to the river

"Take me to the river", de Matt Sobbel. Escrito e dirigido por Matt Sobel, "Take me to the river" foi exibido em Sundance 2015. O filme narra a história de Ryder, um adolescente californiano que viaja com seus pais até Nebraska, para o encontro anual de sua família, na casa de sua avó. Ryder quer revelar para toda a família que ele se assumiu gay, mas a mãe o impede, acreditando que a família é conservadora e não entenderá essa escolha. Durante o almoço, Ryder sai para passear com a sua prima Molly, uma menina de 9 anos. Minutos depois, ela volta ensanguentada na saia, e o pai dela acusa Ryder de abuso sexual. A partir daí, o filme vai se aprofundando em mistérios sobre o passado da família, envolta em segredos que revelam a perversão sexual de alguns dos integrantes. Produção independente, o filme vai se aprofundando no drama e o que parecia apenas um filme sobre a descoberta da sexualidade, acaba se transformando em um filme sobre perversões sexuais em vários níveis. A direção de Matt Sobbel é boa, valorizando o trabalho dos atores. Algumas escolhas no entanto, de interpretação, ficaram estranhas para mim. A mãe de Ryder, a ótima Robin Weigert, passa o filme todo com cara de choro. Josh Hamilton, que interpreta o tio, pai de Molly, faz umas caras meio estranhas, como se estivesse dopado. O personagem de Ryder, interpretado por Logan Miller, parece ingênuo demais para não conseguir enxergar nada do que passa em sua volta. Enfim, é um filme interessante, muitos poderão achar monótono, mas que discute os podres que existem na aparente tranquilidade de uma família tradicional. A cena final, tocando "Under pressure", parece óbvia demais para fechar o filme.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Chevalier

"Chevalier", de Athina Tsangari (2015) Vencedor de inúmeros prêmios internacionais, entre eles, o de melhor filme no Festival de Londres 2015, esse novo filme da cineasta grega Athina Tsangari, que realizou o ótimo e estranhíssimo "Attemberg", foi uma experiência bem frustrante. A história gira em torno de 6 amigos de classe média e média alta que passam um final de semana em um iate de luxo, percorrendo o mar grego. Eles mergulham, pescam, contam piadas, falam merda, falam da vida, do trabalho...e quando não existe mais nada para se fazer, eles resolvem propôr um jogo, chamado "Chevalier": eles deverão comparar as suas ações, quaisquer que sejam, e o vencedor ganha o anel "Chevalier". Vale tudo: quem canta melhor, quem tem o maior pau, etc... Athina Tsangari é uma cineasta ousada, e aqui ele comandou um time de elenco totalmente masculina. Sob a sua batuta, os personagens agem mais como se fossem todos crianças mimadas e inconsequentes, mesmo que todos tenham mais de 40 anos da idade. Ela brinca com o machismo, com a masculinidade, e expõe as inseguranças de todos. O problema do filme é que ele é extremamente verborrágico, e chega uma hora que cansa bastante. Algumas cenas isoladas são divertidas, como o karaokê do gordinho, ou a sessão de web cam erótico que um deles faz para a namorada podólatra ( tara por pés). Sou um grande fã do cinema grego, mas aqui de fato foi puxado para mim. O que aprecio bastante na filmografia são os filmes polêmicos, e aqui, ficou longe disso. Ponto para as belíssimas locações.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Depois da tempestade

"Umi yori mo mada fukaku", de Hirokazu Koreeda (2016) Vencedor do Prêmio da crítica da Mostra internacional de São Paulo, esse novo filme do cineasta japonês premiado em Cannes por "Pais e filhos" e "Ninguém pode saber" é uma obra prima comovente que com certeza arrebatará corações. Muito se falou das referências a Yasujiro Ozu nesse filme, e e' verdade: além de testemunharmos os pequenos detalhes nas relações familiares, Koreeda repete os "pillow shots", aqueles planos de natureza morta que indicam muito mais que passagem de tempo, e sim, as emoções introspectivas de seus personagens. Ryoka é um escritor fracassado, e para sobreviver ele trabalha como detetive particular. O dinheiro que ganha ele aposta em jogos de azar, e por isso fica em eterna dúvida com a pensão que precisa pagar par sua ex-esposa, Kyoko, mãe de seu filho, Shyoga. A mãe de Ryoka é a viúva Yoshiko( em atuação extraordinária de Kirin Kiki), uma idosa que mora sozinha em um conjunto habitacional e que sonha em reaproximar o seu filho de sua ex-nora. A chance vem com uma tempestade que acontece na cidade, e onde todos precisam passar a noite juntos. A direção de Koreeda é sensível e delicada, tanto nos enquadramentos quanto na direção de atores. O filme tem diálogos inspiradíssimos que alternam momentos de humor e drama, com uma suave trilha sonora que ajuda a trazer um clima de melancolia. A cena do pai e filho dentro do brinquedo durante a tempestade é antológica em sua construção. Exibido na mostra "Um certain regard" em Cannes ( acho inclusive que deveria ter ido pra Mostra principal) , o filme precisa ser visto por todo mundo que aprecia uma obra humanista que eleva a Alma.

Divines

"Divines", de Houda Benyamina (2016) Co-escrito e dirigido pela cineasta Houda Benyamina, "Divines" venceu 2 prêmios em Cannes: O Camera D'or, concedido a cineastas estreantes, e uma menção especial. O filme é um estupendo retrato da juventude marginalizada na França, e não seria errado dizer que é uma versão feminina do clássico "O ódio", de Mathiew Kasosvitz, O roteiro narra a história de 2 amigas que moram em uma comunidade na periferia de Paris: Dounia, rebelde, que mora com a sua mãe em uma favela e cujo pai tem paradeiro desconhecido, e Mamounia, negra, pais muçulmanos. Dounia sonha em ficar rica, e para isso, se envolve com Rebecca, traficante negra local. Paralelo, Dounia se apaixona por um jovem dançarino, e a partir daí o filme faz o contraste entre a busca pela arte e a busca pelo tráfico como meios de obter o sucesso na vida. No entanto, a grande força do filme são as performances irrepreensíveis de todo o elenco, a começar por Oulaya Amamra, no papel de Doiunia ( ela é irmã mais jovem da cineasta). Oulaya é uma força da natureza e a sua interpretação comove pela força com que ela agarra a personagem. Déborah Lukumuena como Manounia, traz humor e simpatia ao filme, e ela é responsável pelos momentos mais divertidos , com exceção do desfecho, emocionante. Jisca Kalvanda é Rebecca, e também me surpreendeu pela força que ela trouxe ao personagem. É um filme de mulheres fortes, destemidas e ambiciosas. A direção de Houda Benyamina é chocante, ainda mais se tratando de sua estréia em longas, ela dirige com o mesmo vigor de Kassovitz em "O ódio". Trilha sonora, fotografia, edição tudo é muito incrível. O filme é repleto de cenas antológicas, onde destaco a da sala de aula, com Dounia discutindo com sua professora sobre as possibilidades de ascenção profissional, e a cena onde as duas amigas se imaginam ludicamente andando em uma moto e discorrendo sobre o futuro delas como mulheres ricas. Excepcional e imperdível.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Animais fantásticos e onde habitam

"Fantastic Beasts and Where to Find Them", de David Yates (2016) Bom, todo mundo já sabe que o filme se baseia nos livros de J.K. Rowlings, mesma autora de Harry Potter, que a ação se passa e Nova York de 1926, ou seja, décadas antes do evento de Harry Potter. O Diretor David Yates é o realizador do melhor filme da franquia de Harry Potter, o último da série, e a ele coube a missão de adaptar a nova franquia para as telas. Eddie Redmayne está ótimo no papel de Newt Scamander, o bruxo que resgata animais fantásticos pelo mundo e os guarda em sua mala mágica, salvando-os da morte, pois os animais estão proibidos pelos bruxos. Do elenco de apoio, o grande destaque vai para o ator comediante Dan Floger, no papel divertidissimo de Jacob Kowalski, um "não maj", ou seja, não bruxo ( homem comum), que se torna o melhor amigo de Nwt. O filme é bem longo, 2:13 minutos, e a primeira parte achei bem cansativa, talvez pela apresentação demorada dos personagens. A ação propriamente dita só acontece no terço final, quando boa parte dos efeitos acontecem. Confesso que o que gostei mesmo foi o desfecho, bem romântico e comovente, que envolve Kowalski. LIndo momento do filme.

Victor

"Victor", de François Ozon (1993) Delicioso curta de humor negro dirigido por François Ozon em 1993, fala sobre sexualidade reprimida que leva todos à loucura. Victor é um adolescente que mora com seus pais em uma casa afastada da cidade. Um dia, no auge da irritação, por conta do controle excessivo de seus pais, ele os mata a tiros. Porém, Victor continua agindo como se estivesse tudo normal, porém ele agora é o dono da situação. Ele dá de comer, bota pra dormir, leva para passear, respirar ar puro. A empregada, ciente do crime, faz de conta que nada acontece e traz seu amante bandido pra casa, e ambos acabam seduzindo Victor. Perverso, fetichista, surreal, "Victor" é um filme de 13 minutos com ótima atuação do ator protagonista. Me diverti bastante, mas o espectador tem que ter mente aberta para apreciar melhor, sem tabus. Link: https://vk.com/video13602706_159445594?list=bc90b52b35b54e3f89

O último virgem

\\ "O último virgem", de Rilson Baco e Felipe Bretas (2016) Homenagem aos filmes americanos que têm os pós-adolescentes como protagonistas, envoltos em muita picardia e situações embaraçosas, como as franquias "American pie" e "Porky's" , "O último virgem" fará a alegria da moçada que está a fim apenas de se divertir nos cinemas. Totalmente descompromissada e repleta de piadas e diálogos infames, o filme provoca risadas por conta do sabor brasileiro em apresentar maliciosamente as aventuras de um garoto virgem e a sua missão de perder o "cabaço". Dudu ( ótimo Guilherme Prates) é um nerd tímido, amigo inseparável do sem noção metido a gostoso Escova ( Lipy Adler), do gordo comilão Borges ( Everley Santos) e do maconheiro Gonzo ( Christian Vilegas). Eles estão no último ano do ensino médio e prestes a entrar na faculdade. JUlia ( Bia Arantes) é a melhor amiga de Dudu, que por sua vez, tem um tesão pela professora Debora ( Fiorella Matheis). Quando Debora pede para Dudu ir até sua casa para aulas de reforço, ele acredita que é um convite para transar. Desesperado, ele consulta os amigos para poder perder a virgindade antes do encontro com a bela professora. O filme é todo calcado em pequenos sketches que envolvem as várias possibilidades de perder a virgindade: tem a Vila Mimosa ( famosa zona de prostituição do Rio de Janeiro), tem a prostituta particular e tem a amiga da escola totalmente despudorada. Mas Lipy Adler se apropria do mote de cults adolescentes como "A garota do Rosa shocking" e logo percebemos que Dudu e Julia nasceram um para o outro. Resta eles saberem disso. A trilha sonora condiz com o filme, repleto de músicas roqueiras e românticas para adolescentes. Frenético e rápido, quando você menos percebe, já acabou,. Até lá, você já saltou várias gargalhadas. Pequenos detalhes técnicos que poderiam ser resolvidos com um orçamento maior, mesmo assim, o filme é honesto e cumpre o que promete.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O ato

"Un lever de rideau", de François Ozon (2006) Curta dirigido por Ozon em 2006, é baseado em uma peça de único ato, de Henry de Montherlant. Com 30 minutos de duração, o curta é protagonizado por Louis Garrel, o ator galã francês mais badalado da última década. Com ele estão Mathieu Amalric, um ótimo ator e diretor francês, no papel de seu melhor amigo Pierre, e Vahina Giocante, no papel de sua namorada Rosette. A premissa do filme é bem simples: Bruno ( Garrel) está em um quarto com seu amigo Pierre. Bruno discorre sobre a falta de pontualidade de Rosette. Em seis meses de relacionamento, ela sempre atrasou pelo menos 45 minutos, o que totalizou 36 horas, tempo o suficiente para Vitor Hugo escrever 6 poemas clássicos. Revoltado, Bruno decide dar um ultimato à Rosette; se ela não chegar em 2 minutos, ele terminará a relação. "O ato" é um ode ao egocentrismo do jovem homem moderno, mais preocupado consigo mesmo e sua aparência. Bruno representa esse homem, que entende que é melhor sacrificar um relacionamento que o deixa feliz, em nome de sua satisfação pessoal. Ele não pode perdoar as falhas dos outros, e os outros que assumam os erros dele. François Ozon é um dos grandes cineastas franceses em atividade, e seus filmes fizeram muito sucesso mundo afora, como "Dentro de casa", "Amor em cinco atos", "8 mulheres". Ele sempre filma de forma elegante e sofisticada, e aqui não é diferente. Mesmo os personagens discutindo em cena, ele mantém sempre uma atuação discreta nas performances de seus atores. A trilha sonora, com um suave piano, reforça essa sensação. No final das contas, um filme de baixo orçamento, com 3 atores em cena em uma única locação: um apartamento. Verborrágico e com diálogos que flertam com poesia e filosofia, vale para fãs de Ozon.

domingo, 20 de novembro de 2016

Minha vida de cachorro

"Mitt liv som hund ", de Lasse Hallstrom (1985) Baseado em livro de Reidar Jonssons, esse filme de 1985 venceu na época vários prêmios, entre eles, o Globo de ouro de melhor filme estrangeiro. Vários críticos do mundo o promoveram como um dos melhores filmes do ano. "Minha vida de cachorro" é o "Amarcord" de Lasse Hallstrom. Narrado em 1a pessoa, é um filme que fala de uma infância acredoce e as várias reminiscências vividas pelo pequeno Ingemar ( o extraordinário Anton Glanzelius, em seu primeiro papel no cinema, e realmente encantador). De 12 anos, ele mora na Suécia com sua mãe tuberculosa e seu irmão mais velho. Quando a mãe entra em um estado terminal, os irmãos são separados: o mais velho foca na cidade, e Ingemar vai pro interior, morar com seus tios. é lá que ele vai descobrir o seu primeiro amor, as primeiras frustrações, o sua primeira paixão platônica, as primeiras perdas. E é lá onde ele sorri, se diverte, joga bola e boxe com a menina Saga, que se dirfarça de menino para poder praticar os esportes masculinos. O filme se passa nos anos 50, antes do homem ir à lua. Usando metáforas e citações, o pequeno Ingemar divaga sobre a morte e a solidão, através da história da cachorra Laika, enviada pelos russos para uma missão espacial e que acabou morrendo de fome. Com uma fotografia que marca bem as duas estações do ano, e consequentemente, o estado de espirito de seus personagens, "Minha vida de cachorro" é uma viagem nostálgica repleta de humor, paixão, melancolia e drama, onde personagens inesquecíveis, dirigidos brilhantemente por Lasse Hallstrom ( que depois desse filme seria cooptado por Hollywood) e que provam que é possível fazer um cinema com alma e sentimentos, e seduzir os espectadores com a sua beleza espiritual e visual. Imperdível!

Antes o tempo não acabava

"Antes o tempo não acabava", de Sergio Andrade e Fabio Baldo (2016) Anderson mora na periferia de Manaus, em uma comunidade indígena. Ele pertence à tribo dos Tikunas, e os mais velhos possuem hábitos ancestrais que sôam anacrônicos hoje em dia, mas não largam mão e querem que os mais jovens entendam e respeitem os rituais. Anderson passa por um conflito: ele não consegue mais fazendo parte daquela tribo, daquela cultura. Ele quer "Sair da tribo" ( uma alusão mais abrangente do termo "Sair do armário"). Ele quer se tornar parte da civilização dos brancos. Quer morar na capital Manaus, quer se misturar nas festas do homem da cidade, nos karaokês, quer transar com alguém do mesmo sexo, quer ficar bêbado, quer virar cabeleireiro, quer mudar o eu nome. Ele quer fazer tudo o que não é permitido dentro dos ditames de sua tribo. O filme, exibido em Berlin na Mostra Panorama, abraça a linguagem do documentário, do realismo fantástico e da ficção para mostrar essa via crucis existencial de um índio aculturado mas que não consegue se encaixar em lugar algum. Ele é brasileiro, mas se vê como um elemento estranho nesse Brasil miscigenado. Ele pode mudar tudo, menos a identidade visual do índio. Os diretores trabalham esse material de forma contundente e visualmente impactante. Em seu prólogo, acompanhamos Anderson criança fazendo parte de um ritual. A cena em si é instigante e mágica. Já adulto, a cena com a sua passagem por um bar karaokê, com outro índio cantando uma música Heavy Metal, é antológica. Mesmo a cena de sexo entre Anderson e um outro homem que ele conhece é filmada de forma pulsante, ambientada na beira do porto de Manaus. É um filme singular, capitaneado por um ator indígena: Anderson Tikuna brilha no papel de seu homônimo Anderson. Os outros índios da tribo já não são tão bons atores, mas a magia de suas cenas meio que ofusca essa falta de talento artístico. Rita Carelli, atriz pernambucana, interpreta a dona de uma Ong voltada para a comunidade indígena, e com quem Anderson terá um flerte. O filme recebeu 3 prêmios no Festival de Vitória 2016: Filme, roteiro e ator. É um filme autoral, com um tema raro de se ver nos filmes atuais, e por isso mesmo, vale a pena ser visto.

Guerra do Paraguay

"Guerra do Paraguay", de Luiz Rosemberg Filho (2016) Assistir a um filme de Luiz Rosemberg Filho é uma volta ao passado, aos melhores tempos do Cinema marginal que permeou a filmografia brasileira dos anos 60 e70, onde saíram obras-primas como "Matou a família e foi ao cinema", de Julio Bressane e "O bandido da luz vermelha", de Rogerio Sganzerla. Nesse resgate político e social de um Cinema que ousa fazer o espectador refletir e pensar tudo o que está vendo e ouvindo (um desafio cada vez maior nos dias de hoje, com uma geração toda voltada à visual clipado e diálogos mínimos), Rosemberg faz uma linda alegoria que promove um encontro entre a Arte X a violência. Violência que pode vir na forma de assassinatos, da ignorância, do egoísmo, das armas de fogo, do capitalismo desenfreado, do estupro físico e moral e do egocentrismo. A direção, premiada no Festival de Vitória 2016, abraça o realismo fantástico e a linguagem do teatro para contar a história de um soldado que comemora o fim da Guerra do Paraguay. Solitário, ele percorre com o seu pequeno tambor uma região bucólica, cercada por árvores frondosas e um lago cintilante. A imagem do soldado batendo o tambor, me lembra bastante Cabíria de Giuletta Masina e o pequeno Oskar de "O Tambor", Todos esses 3 personagens são ingênuos e acreditam na sua causa. Cabíria e Oskar encontram em sua trajetória um conflito enorme que os levou a um outro pensamento sobre tudo o que até então acreditavam. Para esse soldado, que comemora a violência travada pelo seu exército, que dizimou milhares de soldados da outra frente, existe uma chance de redenção: ele encontra em se caminho, 3 mulheres de gerações diferentes, que arrastam uma enorme carroça sem cavalos. Elas são atrizes esfomeadas e cansadas, uma bela metáfora sobre a luta diária do artista para se sustentar. Começa aí um debate ideológico e filosófico, uma verdadeira queda de braços, entre a Arte e a Violência, entre a tradição e a modernidade ( um elemento surreal do filme: o soldado vive no Século passado, e as atrizes, provavelmente, nos anos 70). A cena inicial, um enorme plano sequência com as mulheres carregando a carroça pela estrada, lembra bastante o plano inicial de "O cavalo de Turim", do húngaro Bela Taar. O filme de Luiz Rosemberg Filho é composto de longos planos sequências, milimetricamente enquadrados e com atores bem marcados. O elenco , encabeçado por Patricia Niedemeier, Anna Abbot e Alexandre Dacosta, foi a fundo na proposta promovida pelo Diretor, promovendo um feliz encontro entre a linguagem naturalista do Cinema, com a presença bem marcada em cena do teatro. O filme é um belo exercício de cinema, mas que será melhor apreciado pelo cinéfilo antenado pela busca de novas formas de contar o cinema. Um destaque especial para a linda trilha sonora, para a direção de arte da carroça de Cristiano Requião e para o clip final, uma colagem apocalíptica do mundo que vivemos hoje. O filme ganhou no Cine PF 2016, o prêmio concedido pelos críticos de cinema.

Os incontestáveis

"Os incontestáveis", de Alexandre Serafini (2016) O gênero road movie tem ganho fôlego e força na última leva de filmes brasileiros. Tivemos em 2016 "Reza a lenda", de Homero Olivetto, "Entrando numa roubada", de André Moraes e em breve, "Motorrad", de Vicente Amorim. Enquanto o primeiro aposta em um filme apocalíptico frisando comparações com "Mad Max", o filme de Vicente Amorim vai de frente no gênero terror. O que mais se aproxima do tom e do deboche ultra mega pop de "Os incontestáveis", é o filme de André Moraes. O filme capixaba é de baixíssimo orçamento, e tem no elenco figuras icônicas do meio musical, no caso, os cantores Will Just e Mozine, que nunca atuaram antes. Ambos carregam a responsabilidade de assumirem os protagonistas do filme. Eles são Belmonte e Mauricio, dois irmãos que seguem na Estrada que vai do Espírito Santo até Minas, e depois até Mato Grosso, à bordo de um Opala 73, bem no estilo Tarantino de "A prova de morte". O motivo de pegarem a estrada é bem louco: eles querem recuperar um Maverick vermelho, que pertenceu ao pai deles, e que atualmente está nas mãos de Lobo, um fazendeiro escroque interpretado por Tonico Pereira. Tonico Pereira também é o elo de ligação com "Entrando numa roubada", que se utiliza igualmente de uma trilha roqueira. Muitos palavrões, machismo, piadas infames envolvidos em uma narrativa totalmente independente. Tecnicamente o filme tem problemas: fotografia e alguns atores de apoio são bem amadores. Mas como o filme é escancaradamente free style, acaba que esses elementos que prejudicariam qualquer outro filme, aqui se torna motivos a mais para se divertir. Na segunda parte do filme, o ritmo cai bastante, pois o filme abraça uma narrativa mais voltada ao misticismo do interior do Brasil e vai saindo da insanidade que até então estava presente. Mas logo recupera a trajetória easy rider da primeira parte do filme e termina de forma apoteótica. Claro, dentro do padrão baixo orçamento de ser. Tonico Pereira está hilário como um Big Boss escroto, e os 2 músicos acabam divertindo, mais pelo jeito meio Beavis e Butthead de ser dos personagens. Edição de Natara Ney, foi o filme de encerramento do 23o Festival de cinema de Vitória.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

O duplo

"O duplo", de Juliana Rojas (2012) Curta premiadíssimo de 2012 ( venceu inclusive um prêmio especial em Cannes), "O duplo" tem como tema o mito do Doppelgänger, que é o duplo de uma pessoa que surge como o lado mal. Silvia ( Sabrina Greve) é uma professora de matemática de escola primária em São Paulo. Um dia, durante uma aula, seus alunos vêem pela janela um duplo da professora. Quando a própria Silvia v6e o duplo, ela mesma vai se transformando psicologicamente, se tornando mais introspectiva e deixando aflorar seu lado malévolo, que estava inerte. Com uma ótima direção de Juliana Rojas, que sempre dirigiu em parceria com Marco Dutra e aqui faz seu vôo solo, e um roteiro instigante que deixa em aberto as várias possibilidades de leitura da história, "O duplo" atinge um alto índice de qualidade pelo trabalho magistral das duas protagonistas: Sabrina Greve e Gilda Nomacce, que interpreta a professora de português. A relação entre as duas é o principal foco do filme. A fotografia e a direção de arte foram premiados no Festival de Vitória, além de ter ganho o prêmio de melhor curta ficção no Grande Prêmio do Cinema brasileiro. Para quem gosta de filmes de suspense psicológico, essa é uma grande pedida. Link para o filme: http://canalbrasil.globo.com/programas/curtas/videos/2737553.html

11 minutos

"11 minut", de Jerzy Skolimowski (2015) O cineasta polnês Jerzy Skolimowski é um dos grades expoentes de seu País, mas aqui no Brasil ele é pouco conhecido do grande público. Quem começar ela sua filmografia assistindo a "11 minutos", terá uma impressão errada sobre quem é esse realizador. "11 minutos" tem toda uma estrutura de um filme americano, clássico narrativo. É um trhiller dramático, e a sua sequência final é digno de um Peter Greengrass com a sua franquia "Jason Bourne", ou seja, cheia de adrenalina. O tema e a idéia do filme são batidos e manjados, mas mesmo assim funciona: são 8 histórias entrelaçadas, como em "Short cuts" de Robert Altman ou os vários filmes de Inarritu, como "Amores perros" e "Babel". Algumas dessas histórias são mais detalhadas do que outras, meramente ilustrativas. O fio condutor é um homem, que casou na véspera com uma atriz sedutora. Ela vai se encontrar com um Diretor americano para um teste, no quarto de hotel dele. O marido, ciumento, resolve averiguar o que vai acontecer no quarto. as outras histórias giram em torno desse evento. O mais interessante é a idéia de Jerzy Skolimowski: nas cenas de ação que vemos, quando acontece um grande evento, o espectador sempre deve ter pensado: "coitada das pessoas que estavam ali naquele momento!". Ou seja, o grande mote do filme é: Estar no lugar errado, na hora errada". Com essa premissa fatalista, a direção brinca com o que tiver em mãos. A edição poderia ter sido melhor construída, pena que só mostrou serviço nos 5 minutos finais. Acho que um grande desafio para o filme, seria reeeditá-lo para durar os 11 minutos propostos na história. ( Cada história dura 11 minutos, que é o tempo real da história). Vale como passatempo e como curiosidade, principalmente para quem curte essa estrutura de filme painel. Vencedor de vários prêmios internacionais, entre eles, em Veneza.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O ídolo

"Ya tayr el tayer", de Hany Abu-Assad (2015) Chorei 500 litros nesse emocionante e comovente drama baseado na história real de Mohammed Assaf, palestino que venceu a versão do 'Arab Idol" em 2013 no Egito. O programa é a versão americana do 'American idol", e pela primeira vez, durante toda essa temporada, o povo árabe se uniu, esquecendo por um tempo das guerras e se dedicando à alegria e à União do povo. Mohammed simbolizou essa junção de forças e de solidariedade, e acabou sendo convidado a ser Embaixador da boa vontade na Unesco, recebendo passaporte diplomático para ir a qualquer lugar do mundo, com exceção de Gaza, lugar onde nasceu, precisando de autorização para sair e entrar. O filme começa nos anos 200, com Mohammed criança, e a sua relação com sua irmã Naour. Juntos, eles formam uma banda musical, juntando outros 2 amigos, Naour sofre na pele o machismo da sociedade árabe, pois não aceitam mulheres em eventos musicais. Assim, ela se faz passar por homem. Uma tragédia acontece na família e passam-se 10 anos. Agora, Mohammed, frustrado, é um taxista. Porém, seu sonho de se tornar cantor não morreu. Ele foge para Cairo, para poder se inscrever no concurso do "Arab idol". O mais curioso do filme, que é baseado na história real de Mohhamed, é testemunhar como a vida trouxe o fator sorte para ele. Muitas situações, em uma história fictícia, o espectador com certeza diria: "ah, isso não existe, facilitaram demais pro personagem pra história caminhar.". Basta lembrar do filme polonês "Filhos da guerra", também baseado em história real e a gente ficava dizendo o tempo todo que as situações eram forçadas. Mas era tudo real. A primeira fase do filme, com as crianças, é uma delícia, e o filme lembrou demais "Quem quer ser um milionário", pois tem toda aquela narrativa de superação e fazer o espectador torcer pelos personagens, mesmo que a gente saiba que a história é real e já conhecermos o final da história. As crianças são ótimas e o ator Tawfeek Barhom, que interpreta Mohammed adulto, também é bastante carismático. É muito bom acompanhar a carreira do cineasta Hany Abu-Assad que dirigiu o denso "Paradise now", realizar um filme com elementos de humor e musical, dentro de uma narrativa mais relax, comum à cinematografia americana, que ama esse tema do sucesso. As cenas finais, com as imagens reais do dia do anuncio do vencedor, com a população nas ruas, é de comover corações mais duros. Para quem gosta de filmes de superação, "O ídolo" é imperdível.

Kubo e a espada mágica

"Kubo and the two strings", de Travis Knight (2016) Produto da produtora Laika, que já nos trouxe os desenhos "Coraline"e "Paranorman", ambos com conteúdos bem assustadores para a criançada e que têm o tema da morte bem presente em suas histórias. Em "Kubo", tudo continua igual. A história está até mais assustadora e lida com mortes de parentes, além dos traços e da atmosfera serem mais sombrios. Não é filme para crianças pequenas, mesmo porquê o ritmo é lento e não tem tantas cenas de ação assim. O grande tema do filme é a morte e o luto, e isso justifica o desfecho da história acontecer no cemitério, repleto de espíritos que saem de suas tumbas. O filme usa elementos do fantástico do imaginário da cultura japonesa. Kubo é um menino que mora com a sua mãe, que está em estado de depressão, logo após a morte de sue marido, o samurai Hanzo. Ele foi morto pelas irmãs de sua esposa e pelo Rei Lua, na verdade, avô da esposa. Kubo tem o dom de contar histórias, usando o seu instrumento musical de cordas para dar vida a origamis, e assim, entreter os moradores de um vilarejo. Sua mãe lhe diz que ele deve voltar para casa assim que o sol se pôr, caso contrário o avô e as suas tias virão para lhe arrancar o outro olho ( sim, Kubo não tem um olho, pois seu avô arrancou o outro quando ele era pequeno. Filme infantil?). Kubo acaba desobecendo sua mãe e a profecia se cumpre. Para salvar sua vida, surgem um macaco e um besouro, que o auxiliarão na busca de uma armadura poderosa, dividida em 3 parte, que será a única arma que fará Kubo derrotar os vilões. Em primeiro lugar, acho que tem um erro no título do filme: deveria ser Kubo e a armadura mágica. O desenho é o primeiro realizado pelo diretor Travis Knight, que colaborou em 'Coraline" e "Paranorman". Seus filmes são realizados com uma intenção diferente aos filmes da Disney, da Universal e da Pixar, pois não buscam o sucesso fácil e nem se preocupam muito se a família irá curtir ou não, dada a dificuldade para assimilar vários simbolismos. É um desafio corajoso dos produtores, e por isso mesmo, são filmes que merecem ser vistos. A dramaturgia é mais presente, sem as eventuais piadas e números musicais dos concorrentes. O elenco de dubladores buscou atores sem muita intimidade com desnehos: Charlize Theron ( macaco), Matthew Macnaughney ( besouro), Rooney Mara ( irmãs lua) e Ralph Fiennes ( Rei Lua). É um belo filme, com traços belíssimos e visual encantador. Uma pena que provavelmente não terá o sucesso merecido.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Quando o dia chegar

"Der kommer en dag", de Jesper W. Nielsen (2016) Baseado em história real, "Quando chegar o dia" , ambientado nos anos 60, narra a história de irmãos, Erik e Elmer ( os jovens atores Albert Rudbeck Lindhardt e Harald Kaiser Hermann, extraordinários), que são enviados para um Orfanato chamado Godhavn, logo após a mãe deles ser diagnosticada com câncer terminal. Chegando lá, eles são constantemente espancados tanto pelo Diretor ( Lars Mikkelsen, irmão de Mads Mikkelsen), pelos professores e pelos garotos mais velhos. Um dos professores inclusive abusa sexualmente dos meninos. Diante de uma realidade tão cruel, os irmãos tentam escapar. enquanto esse dia não chega, o consolo de Elmer, o mais novo, é sonhar com o homem na lua, já que seu sonho é se tornar astronauta. Um drama intenso e brutal, o filme desagradou a alguns críticos por encontrarem nele um filme expiativo que explora o sadismo contra crianças. Sim, é um filme violento, mas necessário para expôr as mazelas de Instituições onde teoricamente as crianças devem ser internadas para poderem aprender a trabalhar, estudar e respeitar o conceito de socialização. Poderíamos dizer que o filme é uma espécie de "Pixote" europeu, dado a semelhança de algumas situações. O filme usa ainda recursos de fantasia para poder amenizar o conteúdo brutal, mesmo recurso usado em filmes como "O labirinto do fauno". Muito da força e do vigor do filme acontece por conta da performance impressionante de todo o elenco juvenil, principalmente dos 2 meninos citados. Eles são de fato impressionantes na construção do drama de seus personagens. O desfecho é comovente. A fotografia também é um elemento funcional na história, construindo através de cores o lamento das emoções dos meninos. Um filme para ser visto, mas para as pessoas impressionáveis com violência, melhor evitar. O filme foi produzido pela Zentropa de Lars Von Triers.

Rocky e Hudson, os cowboys gays

"Rocky e Hudson, os cowboys gays", de Otto Guerra (1994) Deliciosa animação em longa-metragem, baseado nos personagens criados por Adão Iturrusgarai em 1987. O longa foi lançado em 1994 e participou de vários Festivais, entre eles, de Gramado e Guarnicê, de onde saiu com o prêmio do juri popular de melhor filme. No longa, são apresentados 2 curtas com o casal de cowboys gays: "A pistola automática do Dr. Brain, onde um cientista maluco inventa uma arma monitorada por controle remoto e pratica assaltos, até que Rocky e Hudson são chamados para combater o vilão; e "Pé na estrada", que fala do encontro de Rocky e Hudson com a avó de Hudson. Vó Beti se tornou uma mulher cheia de vitalidade e sensualidade, e juntos, seguem pela estrada em busca de aventuras. O filme é curto, tem 56 minutos, e é repleto de gags que brincam com o universo lgbts. A dublagem dos personagens é o que o filme tem de mais divertido, além do linguajar gay dos personagens. Otto e adão brincam com o universo dos quadrinhos e dos desenhos americanos, sacaneando Mickey, Simpsons e muito mais. Para quem não curte o politicamente incorreto, melhor ficar muito longe desse filme. Os traços são singelos e quase toscos, mas esse é o charme do filme. Link para assistir: https://www.youtube.com/watch?v=OHNCm-qM8T8

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Sob a sombra

"Under the shadow", de Babak Anvari (2016) Considerado o primeiro filme de terror iraniano, "Sob as sombras" ganhou vários prêmios em Festivais internacionais, incluindo o Fantasporto, e também foi exibido em Sundance 2016, com muito sucesso. Em Teerã dos anos 80, em plena guerra Irã e Iraque, um casal e a filha pequena moram em um prédio no centro. A esposa, Shideh, foi uma jovem idealista no passado e por ter lutado contra os princípios do Governo, está impossibilitada de retornar à faculdade e terminar o curso de medicina. Frustrada, ela se torna uma dona de casa. Seu marido, médico, é enviado até uma linha de guerra. Sozinha com sua filha Dorsa, Shideh logo descobre que o prédio está assombrado pelos Djins, espíritos malígnos que querem levar a sua filha com eles. Não fosse um filme iraniano, seria fácil dizer que o filme é uma refilmagem de Sobrenatural, que tem uma história muito parecida. O que o diferencia de centenas de outros filmes com temas sobre espíritos em apartamentos, é o fato do filme usar a assombração como metáfora de um sistema político violento e ditatorial. Impossibilitada de estudar e de trabalhar, Shideh se vê "prisioneira" em seu próprio apartamento, único lugar aonde ela pode ser uma pessoa comum, sem se deixar ser vítima do governo machista e castrador. Ela usa roupas casuais e faz ginástica usando malha e assistindo a um Vhs da Jane Fonda ( o filme diz que aparelhos de Vhs eram proibidos pelo governo). Por ex, em uma cena , Shideh foge com Dorsa desesperadamente, até ser presa por policiais. Motivo: estava sem o lenço que cobre a sua cabeça. O policial diz que ela escapou por sorte de ser chicoteada em público. Com esse viés que procura delatar a sociedade machista e repressora, e a constante ameaça de morte dos bombardeios Iraquianos, "Sob as sombras" faz uso do gênero terror, se uma forma bastante light e quase inocente, se comparado a outros filmes do Gênero. Por isso, a sugestão é que evite assistir ao filme como se fosse um filme de terror e quisesse levar sustos, pois isso não acontecerá. Se assistir como um drama fantástico, aí o aproveitamento será muito maior. As duas atrizes que interpretam mãe e filha, estão ótimas.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

King Cobra

"King Cobra", de Justin Kelly (2016) Cinebiografia sobre o assassinato do produtor de filmes pornôs gays Bryan Kocis ( Christian Slater), morto em 2007 em San Diego. O filme narra a história de Brent Corrigan (Garrett Clayton), astro pornô gay que entrou na pornografia aos 17 anos de idade, agenciado por Bryan Kocis. Bryan enganou Brent por muito tempo, ficando rico às suas custas. Quando Brent resolve romper o contrato, Bryan o ameaça. Brent vai tentar trabalho com outras produtoras, mas todas se negam, até que ele chega em Joe ( James Franco), produtor de filmes gays que pensa em ficar rico com Brent. Mas Bryan impede de Joe usar o nome artístico de Brent Corrigan, o que seria um desastre financeiro. Joe e seu namorado Harlow, também ator pornô, resolvem assassinar Bryan. O que mais me chamou a atenção nesse filme produzido por James Franco, é o seu casting. Boa parte do elenco é formado por atores que acabaram surpreendendo o público ao interpretar personagens controversos, diferente de quase tudo que fizeram na sua carreira. Christian Slater e James Franco interpretam cenas de sexo com outro homens, beijam. Garrett Clayton é um ex-astro de filmes da Disney, que aqui rompe totalmente com o seu passado teen, protagonizando cenas quentíssimas. Alicia Silverstone e Molly Ringwald, musas do cinema teen dos anos 80 e 90, aqui interpretam respectivamente a mãe de Brent e a irmã de Bryan, em papéis totalmente distante de tudo que fizeram. Filmes que falam sobre astros pornôs tendem a ser bem pudicos em relação ao seu material original. Quando "Linda Lovelace" foi lançado, muitos criticaram a caretice do filme. Aqui em "King Cobra"não fica diferente. Tudo foi pensado para não chocar demais os espectadores e fãs dos astros, mesmo que em uma cena James Franco queira simular um sexo anal, talvez em sua cena mais visceral até hoje. O filme tem um ritmo arrastado, o roteiro não empolga tanto quanto deveria, caminhando por uma narrativa bem didática. Faltou um elemento importante para esse filme, que tem um público alvo: tesão. Tudo é filmado de uma forma fria, distante. A trilha sonora eletrônica tenta ajudar a criar uma dinâmica, mas mesmo assim não cria expectativas o suficiente para tornar o filme mais interessante. Fica somente a curiosidade de saber a história perversa de pessoas que buscaram o estrelato e a fama, mas acabaram se perdendo em meio a tantos tabus e ciúmes, profissionais e pessoais. O filme foi exibido no Festival de Tribeca 2016.

domingo, 13 de novembro de 2016

Isto é Spinal tap

"This is Spinal tap", de Rob Reiner (1984) Dirigido por Rob Reiner, dos cultuados "Conta comigo" e "Harry e Sally feitos um para o outro", "Isto é Spinal tap" é uma divertida comédia musical com uma singularidade: ele foi filmado como um Mockumentary, ou seja, um falso documentário. Na época de seu lançamento, em 1984, muitos espectadores não gostaram do filme, pois não entenderam que seria um "documentário", enquanto outros reclamavam achando que o diretor deveria ter entrevistado uma banda mais famosa ( não sabiam que Spinal Tap era uma banda fake). O filme acompanha o "come back" de uma famosa banda de heavy metal inglesa, chamada "Spinal Tap", com integrantes masculinos. A banda fez muito sucesso nos anos 70, mas agora, ao lançarem um novo disco, perceberam que a fama parece estar lhes escapando. Acompanhamos reuniões com produtores. discussão com o agente, intriga entre os membros da banda, shows cancelados, conflito por conta de uma capa do disco considerada machista e por aí vai. O filme é considerado por várias revistas e sites especializados em cinema, como uma das melhores comédias de todos os tempos. é de fato um filme divertido e bem dirigido, os atores estão ótimos, bem espontâneos, mas não o considero um filme para constar dessas listas de melhores da história. Esse culto ao filme ( até hoje essa banda fictícia se apresenta, para alegria dos fãs) existe mais entre os americanos. Vale assistir como referência a um ótimo mockumentary, gênero que celebrou "Borat", de Sacha Cohen. Algumas cenas do filem sao clássicas, como a do aeroporto, o concerto com as pedras de Stonehangen e os anões, além do show com os integrantes dentro de um casulo. Para rir bastante.

A garota desconhecida

"La fille inconnue", de Jean Pierre e Luc Dardenne (2016) Quem me conhece sabe que sou um grande fã dos cineastas belgas Jean Pierre e Luc Dardenne, que trouxeram para o seu cinema, um olhar documental. O meu pensamento em relação a seus filmes, é o mesmo de Woody Allen: um filme menor dos Dardenne, é melhor que muito filme por aí. "A garota desconhecida" é um desses filmes menores. Sem grandes surpresas, quem acompanha os filmes dos irmãos sabe que irá encontrar uma protagonista altruísta, humanista e que fará de tudo para reparar os seus erros. A médica Jenny Davin (Adèle Haenel, vencedora de vários prêmios de melhor atriz em 2014 por "Amor à primeira briga") é essa pessoa altruísta. Ela atende seus pacientes de forma amorosa, vai visitá-los em casa, sem hora para acabar. Uma noite, ao discutir com seu estagiário, ela acaba não atendendo a porta. No dia seguinte, ela descobre que quem tocou a sua porta foi uma mulher africano, que logo mais foi encontrada morta no cais. A dra Jenny sente-se culpada pela morta da mulher, e resolve descobrir quem era ela, já que ela acabou sendo enterrada como indigente. Para isso, ela terá que adentar um universo que ela jamais conheceu, e colocar a sua vida em risco. A atriz Adèle Haenel está excelente no papel principal. O problema do filme e a sua longa duração e a repetição de situações. Os Dardenne querem discutir vários temas no filme: imigração, polícia corrupta, famílias desajustadas, violência contra a mulher, medicina falida e principalmente, a solidão. É um filme forte, que poderia render bem mais com um roteiro mais enxuto e resolução mais surpreendente.

O apartamento

"Forushande", de Asghar Farhadi (2016) Diretor e roteirista dos excelentes "À procura de Elly", "A separação" e "O passado", o iraniano Asghar Farhadi surpreende novamente com o excepcional "O apartamento", premiado em Cannes com as Palmas de melhor Ator e melhor roteiro em 2016. Um casal de atpres está prestes a estrear a peça "A morte do caixeiro viajante", de Arthur Miller. O prédio onde moram está prestes a desabar. Um dos atores da peça avisa ao casal, Rana e Emad, que tem um apartamento para alugar. O casal se muda, mas logo descobrem que a antiga moradora era uma prostituta. Uma noite, Rana abre a porta de casa achando que é seu marido, e é estuprada. A partir dái, o casal tenta seguir seu rumo, mas Emad busca vingança. Roteiro brilhante que brinda o espectador com uma pergunta instigante: o que você faria no lugar de Emad? Sabemos que sue personagem é machista, e gosta de humilhar as pessoas. Quanto à esposa, Rana, ela se sente humilhada e quer abafar o caso. Mas a sensação de desonra do marido o impede de aceitar o perdão. O filme discute bravamente temas como machismo e intolerância, além de ainda discorrer sobre a beleza da arte e da cultura na vida de jovens estudantes ( Emad além de ator, também dá aula para uma turma só de rapazes). O filme é repleto de reviravoltas na história, e é defendido bravamente por um elenco impecável. Impossível sair do filme sem ficar questionando as atitudes de seus personagens. Brilhante e absolutamente imperdível. Taraneh Alidoosti, no papel de Rana, e Shahab Hosseini, no papel de Emad, estão antológicos.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Canção da volta

"Canção da volta", de Gustavo Rosa de Moura (2016) Uma mulher de classe média alta, casada com um homem bem sucedido e mãe de 2 filhos, entra em profunda depressão e tenta o suicídio. Não, não estamos falando da obra prima de John Cassavetes " Uma mulher sobe influência", com atuação arrebatadora de Gena Rowlands. Eduardo (Joao Miguel), apresentador de programa de tevê, é casado com Júlia (Marina Person). Após tentativa de suicídio, o marido a vigia constantemente. O filho adolescente esta cada vez mais irritado com a atitude egoísta da mãe. Curiosamente, o filme vai se encaminhando para uma trajetória diferente, onde o ciúme vai assolando Eduardo. O filme é filmado de uma forma claustrofóbica, para que o espectador consiga entender o profundo buraco negro existencial dia personagens. Bem atuado, porém os personagens são tão frios e distantes que eu não consegui me aproximar emocionalmente deles. A abrupta mudança do roteiro na metade final levou a história a um caminho totalmente diferente de sua primeira metade. Preferia que tivesse continuado a acompanhar a história de depressão de Júlia do que do que os ataques de ciúme de Eduardo, um personagem muito polêmico.

O nascimento de uma nação

"The birth of a nation", de Nate Parker (2016) Vencedor de 2 prêmios em Sundance 2016 ( Melhor filme e Grande prêmio do Juri), "O nascimento de uma nação" certamente se beneficiou da polêmica envolvendo a premiação do Oscar desse ano, quando um movimento de artistas negros se rebelou contra a política "branca" da academia, que não indiciou atores negros para as categorias. Nate Parker, um ator até então desconhecido, resolveu levar a história de Nat Turner às telas: em 1830, na Virginia, Sul dos Estados Unidos, Nat Turner, escravo e pastor fervoroso, criou uma rebelião onde ele juntou outros escravos para lutarem contra os seus senhores brancos, provocando verdadeira chacina que durou 48 horas, até terem sido mortos pelo exército. Nat foi enforcado e o seu corpo esquartejado, para que não se tornasse um mártir. O resultado da rebelião foi a morte de centenas de escravos como retaliação. O filme é considerado o mais controverso do ano, e isso é verdade. Acompanhar uma história literalmente sobre uma vingança, no estilo olho por olho, dente por dente, provoca uma estranha sensação de que as coisas só se resolvem através da violência extrema. Infelizmente, essa é a realidade que paira por vários conflitos existentes mundo afora nos dias de hoje. Uma pena que as palavras já não funcionem mais. O filme, estréia de Nate Parker na direção ( que além de tudo, protagoniza, escreveu o roteiro e produziu) tem uma boa direção de atores, e algumas escolhas estéticas podem soar estranhas ( o milho que sangra, o anjo negro que surge). Mas é inegável a sua força. É um filme que exala potência. Uma pena que a triste história real da acusação de Nate Parker e seu co-roteirista, de terem estuprado uma colega de faculdade que posteriormente se suicidou, tenha acontecido e ofuscado o filme. Um crime deplorável, e que acaba se misturando com uma das passagens do filme, quando a esposa de Nate é estuprada. Péssima ironia do destino.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Maresia

"Maresia", de Marcos Guttman (2016) Drama baseado no livro “Barco a Seco”, de Rubens Figueiredo, é o longa de estréia do cineasta Marcos Guttman, que consumiu 12 anos de sua vida para levar a obra às telas. Com grande determinação, Guttman buscou a parceria da roteirista Melanie Dimantas para esculpir uma narrativa poética e cheia de proezas, onde a imaginação e o real andam lado a lado. Até onde vai o fascínio de um artista pelo seu muso? O ator Julio Andrade interpreta 2 personagens : o pintor Emilio Vegas, espanhol, que viveu na região litorânea do Rio de Janeiro até os anos 50 e foi dado como morto por afogamento. Pobre, ele pintava quadros e os trocava por comida. Nos dias atuais, o merchand e escritor Gaspar Dias ( também Julio Andrade) é fascinado pela obra pictórica de Emílio Vegas, cuja obra agora é muito valorizada. Ele passa seus dias autenticando a veracidade da autoria das obras trazidas por colecionadores, até que um dia, um senhor já idoso, Inacio ( Pietro Mario), diz que a obra de Emilio que Gaspar considerava como falsa, é verdadeira. Com um grande apuro visual, o filme, pelas palavras do diretor, é bastante sensorial. E isso é verdade: as imagens falam por si, muitas cenas são silenciosas, poéticas. O mar está sempre presente, e talvez ele seja o grande protagonista do filme, pois todos os personagens circulam em sua função ( Emilio pinta o mar, Gaspar nada todos os dias para espairecer). Os atores estão ótimos, em especial, Julio Andrade e Pietro Mario, esse último comovente no papel de Inacio. Os super closes que Marcos Guttman dá em seus atores chega a causar desconforto, tamanha é a aproximação que ele os coloca com o espectador. Um belo filme, instigante, que merece ser visto. Venceu no Festival do Ceará os prêmios de ator para Julio Andrade, e de Diretor.

Quando se tem 17 anos

"Quand on a 17 ans", de Andre Techiné (2016) Vencedor do prêmio do Juri no Festival Outfest, destinado a filmes Lgbts, e concorrendo em Berlin 2016, "Quando se tem 17 anos" foi dirigido e co-escrito pelo veterano cineasta francês Andre Techiné. O filme narra a história de uma família feliz que mora em uma cidade que beira as montanhas geladas em algum lugar da França. Marianne ( a excelente Sandrine Kimberlain) é a única médica local, e mãe de Damien, um jovem de 17 anos. Seu marido está em outro país lutando na Guerra, e constantemente mantêm contato via skype. Um dia, na escola, Damien sofre Bullying de Thomas, também 17 anos, argelino, adotado por uma família. Damien não entende o porquê do bullying. Sua mãe acaba indo atender um chamado na casa de Thomas e descobre que a mãe dele está grávida e precisa ser hospitalizada. Por isso, ela convida Thomas para morar em sua casa até que sua mãe dê à luz. A convivência entre Thomas e Damien, de início violenta, acaba cedendo ao real motivo de tanta discórdia: os 2 se descobrem apaixonados um pelo outro, mas com medo de assumir a sua identidade sexual. Techiné costuma em seus filmes falar sobre a juventude e a descoberta da homossexualidade. Aqui não é diferente. O tema em si já foi bastante visto no cinema. A sua duração é bem longa, quase 2 horas, mas pelo ritmo lento e repetição de cenas, parece ter bem mais. O que o torna digno é a ótima atuação de todo o elenco, principalmente Sandrinne Kimberlain, que alterna momentos de alegria, depressão e alcoolismo. Um belíssimo trabalho, além dos 2 jovens atores. A cena de sexo é ousada, e o filme não tem pudor em mostrar a nudez dos meninos. Bela fotografia e trilha sonora.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

"Ninguém entra ninguém sai", fev 2017 estréia!

Assista o trailer aqui: https://www.youtube.com/watch?v=uDbGTOTc-N4&feature=youtu.be

Dr Strange

"Dr Strange", de Scott Derrickson (2016) Que estranhos caminhos levam os produtores da Marvel de convidarem o cineasta Scott Derrickson , mais famoso por filmes de terror de 2a linha, como "O exorcismo de Emily Rose" e "Sinistro", para a missão de lidar com milhões de dólares de orçamento e comandar essa refilmagem de "Dr Estranho"? A decisão foi sábia, pois Derrickson transformou o filme não somente em um petardo de efeitos especiais e ação, como também pesando no lado dramático do protagonista. Todo mundo já conhece a história do Neurocirurgião mais famoso de Nova York que perde o controle de suas mãos em um acidente de carro, e que depois de achar que o sue mundo acabou, vai até o Nepal conhecer a 'Anciã", uma monja que lida com os poderes da mente para criar universos paralelos. Além da bela direção, o filme conta com um elenco excepcional: Benedict Cumberbatch, Tilda Swinton, Rachel Macadams e Chiwetel Ejiofor. Efeitos especiais de deixar queixo caído e que lembram bastante o filme "A origem", de Christopher Nolan. No mais, é aquela sessão pipoca que agrada a todos. Algumas questões de roteiro me incomodaram, mas como o propósito do filme é só divertir, ignorei.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

O mar mais silencioso daquele verão

"Ano natsu, ichiban shizukana umi", de Takeshi Kitano (1991) Bela fábula dirigida e escrita por Takeshi Kitano, famoso mundialmente pelos seus violentos filmes sobre a Máfia. Aqui, ironicamente, ele faz um filme totalmente diferente: lúdico, lírico, poético e metafórico. Esse filme é uma beleza de se ver, parece um filme mudo dirigido por Kitano, com uma trilha sonora extraordinária composta pelo Mestre Joe Hisaishi, que compôs quase todas as trilhas para Hayao Myasaki. O filme se passa em uma cidade litorânea, famosa por sua praia repleta de surfistas durante o verão. Shigeru é um jovem coletor de lixo. Ele é surdo mudo, e vive sua vida de rotina, ao lado da namorada também surda muda Takako. Shigeru é pobre e tem paixão pela praia e fetiche pelo surf. Um dia, no meio do lixo, ele encontra uma prancha quebrada. Shigeru leva para casa e a conserta. A partir desse momento, ele faz do surf um ideal para dar sentido à sua vida, ignorando totalmente o amor de Takako, que o segue para todos os lugares. Com uma direção extremamente sensível de Kitano ( quem diria que um dos cineastas mas violentos do mundo, seria capaz de realizar algo tão belo), o filme prima pelo seu silêncio. Quase não tem diálogos. As cenas são quase sempre contemplativas, assim como a calmaria do mar. O desfecho, em aberto, permite interpretar como sendo uma metáfora sobre as realizações dos nossos sonhos. Belo trabalho dos atores, alternando momentos de doçura e fragilidade. A cena do ônibus, com Takako em pé e Shigeru correndo nas ruas, é um primor. O filme venceu inúmeros prêmios no Japão.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A luz entre oceanos

"The light between the oceans", de Derek Cianfrance (2016) Dirigido e escrito pelo cineasta Derek Cianfrance ( do excelente "Namorados para sempre"), em cima do best seller de M.L. Stedman, "A luz entre oceanos" é um filme que fala sobre religiosidade, perdão, culpa e mentiras. esteticamente, me lembrou um pouco o visual de Terrence Malick, com seus planos grandiloquentes e ao mesmo tempo, super closes nos rostos de seus protagonistas. É um filme sensorial, com bela trilha sonora ( do craque Alexandre Desplat) e fotografia estonteante ( de Adam Arkapaw, de "Reino animal" e "Macbeth") . Michael Fassbender e Alicia Vikander, que começaram a namorar durante as filmagens, interpretam Tom e Isabel. Ambientado em 1918, pós 1a guerra mundial, Tom é um ex-combatente que viu a morte de perto. Ele aceita trabalhar como faroleiro e permanecer sozinho na ilha justamente para não ter que enfrentar as maldades do mundo. Porém, ele conhece Isabel, filha de moradores ilustres da cidade, que se interessa por ele e se propõe a casar com Tom. Grávida, ela acaba perdendo seu filho, Na segunda tentativa de gravidez, Isabel se desespera e entra em depressão. Um dia, inesperadamente, um barco trazendo um alemão morto e um bebê para na Ilha. Isabel propõe a Tom ficarem com o bebê, contra a vontade dele. Essa decisão tomará rumo inesperado na vida de ambos. Fanssbender e Vikander oferecem lindas performances, alternando momentos de alegria e de depressão. Rachel weiz vem com um registro mais de tristeza, por conta de seu sofrido personagem. Com uma direção sensível, Derek Cianfrance prova ser um esteta na linguagem visual ( ele também dirigiu o velo "O lugar onde tudo termina"). Derek não acredita em happy end em nenhum de seus filmes, e a sua visão de mundo é sempre trágica e desencantada. O filme é longo, 133 minutos, e tem toda a estrutura de um novelão. Mas dos bons. O filme competiu em Veneza 2016.

domingo, 6 de novembro de 2016

Changing batteries

"Changing batteries", de Casandra N.G. (2015) Comovente curta de animação de apenas 5 minutos, realizado por 4 alunos do curso de animação de uma Faculdade na Malásia. Provavelmente, o filme foi inspirado por "Wall.e", o robozinho com sentimentos que foi um dos maiores sucessos da Pixar. Em "Changing batteries", a mensagem que os realizadores quiseram passar para espectador, é o crescente número de idosos abandonados por seus parentes na Ásia. Em cima desse mote, o filme narra a história de uma idosa que mora sozinha em uma fazenda. Um dia, ela recebe uma caixa grande com um bilhete do filho, dizendo que não poderá visitá-la, mas que o presente a fará se sentir menos sozinha. Quando a idosa abre, se surpreende ao ver que é um robô. Imediatamente, o robô se torna um companheiro para a idosa, realizando tarefas do lar. Porém, de súbito, o robô passa a criar sentimentos pela idosa. Melancólico, com uma bela trilha sonora, o desenho foi realizado com muito carinho e sensibilidade. O desfecho pode ser piegas, mas vai fundo no coração. Principalmente para quem perdeu entes queridos. Segue o link: https://www.youtube.com/watch?v=O_yVo3YOfqQ

sábado, 5 de novembro de 2016

Laura

"Laura", de Fellipe Barbosa (2013) Documentário dirigido pelo cineasta e roteirista Fellipe Barbosa ( que também realizou o longa "Casa Grande"), é um produto dos novos tempos. Numa época onde as sub-celebridades ganham foco e glamour, "Laura" celebra a cultura do anonimato. Vencedor do prêmio de melhor documentário no Festival Hamptons 2011, o filme acompanha Laura, quase 60 anos, no ano de 2009 em Nova York. Nascida na Argentina mas criada no Brasil, Laura mora a 25 anos em Nova York, Separada, ela mora sozinha em um pequeno quarto em um Hotel decadente. O quarto é repleto de quinquilharias que ela cumula a décadas, resquícios de uma época de glamour e souvenirs das festas e pré-estréias que ela frequenta. Laura é uma figura misteriosa: não sabemos como vem o dinheiro para ela bancar o seu dia a dia. Ela tem um ciclo de amigos que vivem correndo atrás de convites para as pre'-estréias de filmes, e também de festas badaladas. Laura quer estar no meio do glamour, tirar foto com artistas famosos e tomar todas as champagnes possíveis nas coberturas chiques de Nova York. Como se vê, Laura é uma pessoa comum e provavelmente igual a milhões de pessoas que gostariam de fazer o mesmo que ela. Mas o grande tema do filme, e que me deixa bastante triste , é entender como nos grandes centros, muitas pessoas se entregaram a um mundo de desilusão e de melancolia, reclusos em um mundo de fantasia e alheios a tudo o que acontece a sua volta. Laura provavelmente se utiliza do Glamour para esconder a sua verdadeira faceta. A dicotomia luxo e decadência é algo avassalador. Um belo filme que nos fa pensar sobre a nossa trajetória e nossos sonhos, e o que podemos fazer para nos fazer ficar alerta para a vida

13 câmeras

"13 cameras", de Victor Zarcoff (2016) Thriller de suspense independente, escrito e dirigido por Victor Zarcoff, seu filme de estréia. O longa acompanha a história de Ryan e Claire, um jovem casal feliz que se muda para uma casa. O dono da casa é um senhor muito estranho e introspectivo, que na verdade, instala câmeras nas casas de seus inquilinos para observar suas vidas, 24 horas por dia. Ele acaba descobrindo que Ryan trai a sua esposa, que está grávida, com a sua assistente. E resolve se aproveitar dessa situação para mudar a vida do casal. Pela milésima vez, um filme mostra a tensão entre um casal que se muda para uma casa, e ela grávida, e o dono do imóvel. Tudo é muito óbvio aqui, a começar pelo personagem do dono da casa. Qualquer ser humano da face da terra se visse alguém com aquele perfil, teria o bom senso de pedir desculpar e deixar de alugar a casa. O cara faz cara de mal, não responde as perguntas e sempre grunhe. Pior: o casal vive falando do jeito dele. Ficaram porquê quiseram, bem feito! Hhahaa No mais, o filme vira uma espécie de "Atração fatal", com a amante ameaçando o marido. Daí as duas histórias e embolam e mesmo assim não há cristão que dê jeito. Pra quem não tiver nada a mais para ver, esse aqui serve para passatempo. Mesmo que irritante pela conduta dos personagens.

Cinema novo

"Cinema novo", de Eryk Rocha (2016) Premiado com o até então inédito prêmio para o Brasil, o "Olho de Ouro" de Melhor Documentário do Festival de Cannes 2016, "Cinema novo" faz uma aposta ousada para a sua forma. Provavelmente muita gente irá assistir ao filme esperando um documentário didático, apresentando entrevistas com gente famosa, trechos de filmes, enfim, o trivial. Mas Eryk Rocha fez diferente: realizou um documentário poético e lírico, usando o vocabulário narrativo e dos dogmas do Movimento que sacudiu o Brasil dos anos 60. Assim, o filme segue uma edição sem um roteiro pré-determinado, deixando-se seguir pelas sensações e emoções, "viagem" onde provavelmente o espectador mais conhecedor das obras do Cinema novo irá embarcar em primeira classe. Para os que forem assistir ao filme buscando informações para leigos, provavelmente ficará frustrado pelo fato dos trechos dos filmes virem sem créditos. Não se sabe a qual filme a cena representa. Os depoimentos são em sua grande maioria de época. O que me enche os olhos, é poder entender o quanto os cineastas que criaram o Cinema Novo eram amigos e se ajudavam. Era quase que uma cooperativa cultural, um batalhão de choque de cineastas, produtores e fotógrafos que se uniam para dar ao Brasil e ao Mundo o seu olhar sobre a estética verdadeiramente brasileira, que falasse da cultura do povo brasileiro, e não um modelo importado do exterior. Nelson Pereira dos Santos, Joaquim Pedro de Andrade, Cacá Diegues, Arnaldo Jabor, Glauber Rocha, Geraldo Sarno, Paulo Cezar Saraceni, Ruy Guerra, Leon Hirzman, Gustavo Dahl foram alguns desses desbravadores, que fizeram da câmera na mão a sua arma. Os filmes eram em sua maioria rodados em locação. Um depoimento interessante é quando é dito que um cineasta abraçava a estética de Eisenstein. outro do neo-realismo, outro da nouvelle vague e por aí vai. O grande e maior mérito, a meu ver, deve ir para o editor do filme, Renato Valone, um herói, considerando a enorme quantidade de material que ele teve em mãos para poder realizar esse filme 100% realizado com material de arquivo.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

We can't live without Cosmos

"We can't live without Cosmos", de Konstantin Bronzit (2014) Animação russa escrita e dirigida por Konstantin Bronzit, concorreu ao Oscar de curta de animação em 2016. Vencedor de inúmeros prêmios internacionais, é um filme de 15 minutos, sem diálogos, e foi todo desenhado à mão. O filme é uma fábula que narra a amizade entre 2 aspirantes a astronautas. Eles são amigos desde criança e treinam obsessivamente no centro de treinamento para astronautas. Os 2 acabam se tornando finalistas, e um deles, o 1203, é o Vencedor, enquanto o 1204 vira o reserva. Separados pela primeira vez, eles precisarão lidar com a distância entre eles. O desenho é muito emocionante, e é dedicado à amizade. Em determinado momento, ficamos até na dúvida se os 2 amigos seriam namorados, tal a afinidade entre os 2. Independente do que for, o Diretor Konstantin Bronzit realizou um trabalho de grande impacto, inclusive visual, pela sua simplicidade nos traços, porém de grande criatividade. Bela trilha sonora e o desfecho é de cortar o coração.

Walter

"Walter", de Anna Mastro (2015) Dramédia fantasiosa, que narra a história de um jovem, Walter, anti-social e tímido, que mora com sua mãe ( Virginia Madsen). Quando Walter era criança, seu pai faleceu de câncer. Desde então, a sua vida e a de sua mãe ficaram cinzas, depressivos. Walter trabalha como bilheteiro em um Cinema ( seu pai era viciado em filmes). Walter acredita ser filho de Deus e sentencia todo mundo que vê pela frente para ir ao Inferno ou para o céu. Até que um dia, um fantasma de um homem surge e faz com que Walter repense a sua vida e a sua forma de encarar o mundo. Delicioso e simpático, "Walter" é um digno representante dos "Feels good movies", um gênero cinematográfico que tem um ar de melancolia e humor, com protagonistas às voltas com timidez ou se sentindo marginalizados. O elenco é todo cult: Além de Virginia Madsen, tem Willian H. Macy , Neve Campbell ( da série "Pânico") e o protagonista, é o ator Andrew J West, que interpretou o vilão Gareth em 'The walking dead". O roteiro é daqueles que trazem uma mensagem de redenção e que transforma a todos no final. Vale assistir e se encantar com a música "Hero", de Family of the year., mesma música usada em "Boyhood".

Aloys

"Aloys", de Tobias Nölle (2016) Escrito e dirigido pelo Suíço Tobias Nölle, é o seu filme de estréia, que remete bastante ao Islandês "Desajustados"e ao filme de Spike Jonze, "Her". Vencedor do Prêmio Fipresci em Berlin 2016, "Aloys" é uma fábula sobre a depressão e a solidão nos grandes centros. Tobias Nölle disse que quiz fazer esse filme para fazer uma crítica à sociedade moderna, voltada para o egocentrismo e a cultura do Self, fazendo com que as pessoas se tornem cada vez mais egoístas e solitárias. Aloys e seu pai são detetives particulares. Ambos gravam vídeos para os seus clientes, registrando o cotidiano de pessoas comuns. Quando o pai de Aloys morre, ele se sente solitário e sem vontade de sair de casa, intensificando a sua extrema timidez e aversão à sociedade. Ele passa o dia todo assistindo às fitas gravadas para seus clientes, e com imagens também de seu pai em sua rotina. Um dia, ao retornar de ônibus, ele acaba dormindo, e quando acorda, percebe que suas fitas e filmadora foram roubadas. Uma mulher misteriosa liga para ele e faz uma chantagem: para que ela possa devolver as fitas, ele propõe um jogo apelidado de "Telefone andante". Nesse jogo, a pessoa tem que narrar uma situação, e a pessoa do outro lado precisa imaginar estando fisicamente ali na situação narrada. "Aloys" encanta e comove pela sua melancolia e seu senso de fantasia. As imagens fictícias, recriadas tanto por Aloys quanto pela mulher, intensificam a sensação de depressão, e nos deixa atônitos e torcendo por ambos os personagens. A cena da festinha na casa de Aloys é antológica, quando ele se imagina feliz com a "voz" materializada em uma vizinha depressiva, e com todas as poucas pessoas que ele conhece na vida ali presentes. Ótima perfomance de todo o elenco, e uma fotografia deslumbrante que intensifica essa tristeza sem fim dos personagens. Direção sublime e criativa de Tobias Nölle.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Trolls

"Trolls", de Mike Mitchel (2016) O cineasta Mike Mitchel realizou a última parte de " Shrek" e a continuação de " Bob esponja" , ou seja, ele já é mega escolado em animações politicamente incorretas. Em " Trolls", ele resolveu aposentar as safadezas e apostou em um filme repleto de fofura para todos os lados. Personagens carismáticos, história de redenção e muita, muita cor, como você jamais havia visto em um desenho. Talvez com medo de perder o público adulto diante de história tão ingênua, encheu o filme com canções pop clássicas, convidou astros bombados para dublar e incluiu referencia a eterna história de Cinderela. O resultado é o filme mais gay da história do cinema, saltitante, brilhoso e repleto de glitter. O visual totalmente espalhafatoso combina com a proposta da história: são seres felizes, que se abraçam, cantam, dançam e vivem das cores. Imposssivel não se apaixonar pelos Trolls e no meu caso, de Bridget, da tribo dos Bergens, devoradores dos Trolls no intuito de também serem felizes. Uma pena que aqui no Brasil somente foram lançadas versões dubladas do filme. A única versão legendado nem durou no circuito. Esperar sair em DVD e rever esse filme que me fez ficar muito feliz, e com vontade de dançar e cantar.

Clarisse ou alguma coisa entre nós dois

"Clarisse ou alguma coisa entre nós dois", de Petrus Cariry (2015) Vencedor de vários prêmios em Festivais independentes, entre eles o de Melhor Filme no Festicini e no Cine Fantasy 2016, esse terceiro longa do cineasta cearense Petrus Cariry é um filme repleto de simbolismos. Clarisse (Sabrina Greve, totalmente entregue a uma performance visceral) é casada com um empresário estrangeiro e mãe de uma filha. O marido trabalha para o pai de Clarisse, dono de uma empreiteira. Frígida e depressiva, Clarisse vai passar um tempo com o seu pai ( Everaldo Pontes), que mora no interior do Ceará, em um sitio dentro de uma floresta densa. Chegando lá, ela descobre segredos do passado tenebroso da família, que envolve a morte de seu irmão e a de sua mãe, que morreu com grave doença. Seu pai está moribundo, e Clarisse entende que está na hora de agir. O filme tem um excelente trabalho técnico: fotografia claustrofóbica e uma edição de som que provoca sensações de estranheza e de tensão. Fiquei tentando achar sentidos lógicos para a história, mas em determinado momento desisti e resolvi me entregar às sensações que o filme provoca, tanto em cenas simbólicas e metafóricas, quanto nas imagens belamente construídas. A cena do vagalume destôa pelo seu lirismo e fantasia, enquanto o restante do filme se entrega a um jogo de sexo violento e ao terror psicológico. Com certeza, "Repulsa ao sexo"deve ter sido uma grande fonte de inspiração, com Sabrina Greve fazendo uma referência ao personagem de Catherine Deneuve, igualmente frígida e assustada com o universo masculino. O desfecho me remeteu a uma fantasia feminista sobre poder, mas não tenho certeza se a visão foi essa mesma. Mas como é um filme livre de interpretações, me apeguei a ele.