segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

O anjo exterminador

“El angel exterminador”, de Luis Bunuel (1962) O filme da fase mexicana de Bunuel, “O anjo exterminador”, concorreu em Cannes 1962, mas perdeu para o brasileiro “ O pagador de promessas”, de Anselmo Duarte. Quando foi lançado, “ O anjo exterminou” provocou uma grande polemica, pois foi acusado de ser um filme contra a Igreja e contra os princípios burgueses. Revendo o filme, vê-se que é clara essa mensagem, apesar de revestida pelo mais puro simbolismo e metáforas que Bunuel colocou nas situações e diálogos. E’ difícil reduzir o filme a uma sinopse. O filme é muito rico em informações, e provavelmente, cada espectador entenderá de uma forma diferente. Rodado em preto e branco, e composto de um excelente grupo de atores mexicanos, “O anjo exterminador” narra uma história surreal e instigante: um grupo de amigos milionários, todos amigos, saem de uma ópera e aceitam o convite de um casal para jantarem em sua mansão. Chegando lá, eles passam a noite, porém, na madrugada, compelidos para irem embora, acabam não fazendo, e todos dormem ali. Dai em diante, por algum motivo que ninguém sabe explicar, esses “exilados” não conseguem sair lá de dentro, mesmo que não exista nenhuma barreira física que os prendam ali. Não conseguem simplesmente sair da sala de jantar, como se houvesse uma parede invisível, ou um “ anjo exterminador”, que lhes obrigasse a ficar ali dentro. Mesma coisa acontece do lado de fora: Policiais, familiares, padres e crianças também não conseguem passar do portão principal. Logo no inicio do filme, misteriosamente, os empregados da mansão vão embora da casa, abandonando seus patrões. Ai já temos uma das critica que Bunuel, simpatizante do comunismo, faz: o conflito entre classes sociais, e na relação PatraoXempregado. Logo depois, a óbvia pontada que ele faz aos burgueses decadentes, que com o passar dos dias, revelam sua verdadeira faceta: sujos, infiéis, violentos, assassinos, impiedosos, individualistas e desalmados. Um dos convidados morre, e ninguém lhe dá a mínima. Quando falta comida e estão todos desesperados, subitamente, surgem ovelhas que entram no salão e servem de alimento ( outro tema comum: o ataque a religião crista. Ovelhas representam os servos de Deus, e esses “cristãos” serão os alimentos dos burgueses. Poderia focar aqui citando inúmeras metáforas que o filme propõe ( claro, opinião pessoal). Como falei, é um filme que merece constante revisão, pela riqueza de detalhes que ele propõe. O brilhante trabalho do elenco como um todo, que se comprometeu a abraçar uma história tão louca e ao mesmo tempo, tão instigante para o trabalho do ator, merece aplausos, ainda mais se considerarmos que esse filme tem mais de 50 anos. Vanguardista, Bunuel sempre foi um artista muito além de seu tempo. Li em uma entrevista, que ele se arrepende de não ter filmado em Paris e ter radicalizado ainda mais em sua proposta: ele queria que os convidados começassem a se devorar, praticando canibalismo. Seria, de fato, um filme chocante. O filme foi tão influente na cultura, que o termo “ O anjo exterminador” acabou virando jargão para situações onde alguém não consegue sair de um lugar.

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