domingo, 5 de março de 2017

Além da paixão

“Além da paixão”, de Bruno Barreto (1986) O que chama mais atenção nesse filme de 1986 de Bruno Barreto não é o fato da protagonista Regina Duarte estar nua em cenas de sexo (feito inédito até então em sua carreira), nem ela interpretar uma arquiteta que tem sonhos eróticos fazendo sexo com travestis, nem ela se relacionar com um garoto de programa traficante, muito menos sentir prazer com a dor de uma tatuagem. O que chama mais atenção, era que no Brasil daquele época, uma família classe média alta que morava em uma Mansão deixava os portões de entrada da casa abertos , sem segurança alguma. Bons tempos aqueles. “Além da paixão” foi escrito por Bruno Barreto e Antonio Calmon. Naquela época, Calmon já havia feito muito sucesso com os filmes “Menino do Rio” e “Garota dourada”, ambos da mesma produtora, Lc Barreto. O tema do filme, uma mulher classe media alta, vida confortável mas entediante que se deixa seduzir pelo garoto de programa traficante e se encanta com a marginalidade, não era novidade nem na época. No mesmo ano, Jonathan Demme ( de “O silencio dos inocentes” lançou “ Totalmente selvagem”, com um tema muito parecido, com Jeff Daniels fazendo o papel de Regina Duarte. Sim, a grande novidade e marketing de “Além da paixão” era isso mesmo: assistam Regina Duarte em cenas tórridas de sexo!!!! De fato, as cenas que ela protagoniza foram únicas, e acredito que Regina somente tenha feito algo tão visceral assim em “Gata velha ainda mia”, belo suspense psicológico de Rafael Primot onde ela interpreta uma escritora psicopata. Mas a grande delicia desse filme, é se divertir com o visual decadente da Boca do lixo, onde foram filmadas as cenas do cabaret, e principalmente, se divertir bastante com o performer argentino Patricio Bisso no papel de Bombom, uma transformista amante do garoto de programa interpretado por Paulo Castelli, galã da época. Patricio está de verdade antológico em cena, divertido e ultrajante ao mesmo tempo. Pena que Almodovar não o tenha conhecido, com certeza teria feito parte de algum de seus filmes. Amo filmes nacionais dos anos 80, porque sempre tem essa atmosfera cafona, decadente, underground, e com elenco global fazendo cenas que hoje em dia eles não fariam. Naqueles idos, a permissividade era plena ( não se esqueçam que “Rio Babilônia”, um dos filmes mais permissivos da historia mundial, foi realizado em 1982!!!) Assistir ao filme hoje em dia me foi motivo de muitas risadas, principalmente por conta da cena de sexo entre Regina e Castelli: ele vem com tudo, querendo enfiar a língua varias vezes na boca de Regina e ela mantendo sempre fechada. Ri, mas ri demais!!!! Outra delicia é assistir a ficha técnica e ver super profissionais de cinema que já com nomes nos créditos: Ana Muylaert ( operadora de Vt), Toca Seabra ( fotografia adicional), Ricardo Pinto e Silva (Ass de Calmon). Gilberto Otero (câmera), Ze Bob operador de câmera, Pedro Farkas assistente de câmera. E a fotografia, do Mestre Affonso Beato, que viria a trabalhar anos depois com Almodovar em “Carne tremula”.

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