sábado, 18 de março de 2017

Lua em sagitário

“Lua em sagitário”, de Marcia Paraiso (2016) Dirigido e escrito pela documentarista Marcia Paraiso, e fotografado e co-produzido pelo seu sócio Ralph Tambke, “Lua em sagitário” é um filme direcionado ao público adolescente, e assim como outros do gênero, fala do primeiro amor, da internet, do rock, das drogas e da descoberta de um mundo muito diferente daquele contado pelos pais e professores. Esse mundo, o dos MST, dos assentados, é o que move a protagonista Ana, que se apaixona por Murilo. Ana, filha de descendentes de europeus que lutaram pela suas terras e hoje, comerciantes de classe média com casa própria. Murilo, filho de mãe solteira, assentados em um terreno invadido pelos MST. O que os une é a paixão pela musica e o ponto de encontro deles, A caverna, um misto de bar, lan house, comandado por LP ( o francês Jean Pierre Noher). Ana esconde de seus pais que Murilo é assentado, temendo que eles o rejeitem. Ousada, Marcia Paraiso aposta em um filme sem nomes conhecidos. Mais: são todos regionais, com sotaque forte, de Santa Catarina. Conhecidos, apenas Noher e uma breve participação de Serguei e Elke Maravilha ( em sua última aparição artística, antes de vir a falecer), numa estranha e muito louca cena onde os jovens irão bater na porta deles pedindo ajuda quando estão indo em direção a um show de rock. A cineasta Marcia não larga mão de seu olhar documental, e mescla a parte ficcional com o registro rotineiro do assentamento de Murilo, focando nas famílias e como vivem nas condições precárias. Engajado sem ser totalmente panfletário, o filme faz parte daquele tipo de filme que os americanos chamam de “Coming of age”. Ana desabrocha em todos os sentidos. E ao final do filme, ela se liberta e se torna uma mulher independente e repleta de anseios e desejos. Uma pena que o filme não tenha encontrado espaço para permanecer mais tempo no circuito comercial. Mas sendo reprisado no Canal Brasil, é uma boa chance de descobrir o que é produzido fora do eixo tradicional Rio/SP/Pernambuco, com temática e olhar bem distinto. Manuela Campagna e Fagundes Emanuel possuem carisma o suficiente para sustentar os seus personagens, apesar de soarem naturalistas demais. Talvez tenha sido a pedido da diretora, de querer aproximar os personagens ficcionais dos retratados em documentário. O que destoa mesmo, é o casal Serguei/Elke, mas acredito que ali seja uma brincadeira com a casa de “ Joao e Maria’, onde os “doces” (drogas) ofertados, sejam a abertura para uma nova frente sensorial e de descoberta por parte do casal principal. O filme tem uma atmosfera bem anos 80, daqueles filmes realizados no sul do Pais e que somente surgiam aqui nos Cineclubes. Simples, sem grandes pretensões. Em vários momentos, me remeteu a “Casa Grande”, de Felipe Barbosa, pelo questionamento levantado sobre o engajamento dos jovens em relação `a classe pobre ( no filme, um jovem classe media alta se apaixonava por uma estudante que mora em comunidade, e ao visitá-la na favela, ele se encanta com o lugar).

Nenhum comentário:

Postar um comentário