quinta-feira, 6 de abril de 2017

Por trás do céu

"Por trás do céu", de Caio Sóh (2016) Nos anos 80 e 90, um cineasta holandês, Jos Sterlling, se transformou em um dos grandes nomes cults internacional. Seus filmes lidavam com o realismo fantástico, o lúdico, personagens ingénuos que observavam a violência do mundo de forma inocente e condescendente. O roteiro tinha poucos diálogos, eram personagens quase silenciosos. Os figurinos eram estilizados, a fotografia saturada, a trilha sonora em tom de melancolia. "O ilusionista" e " O holandês voador" ganharam muitos prêmios, merecidamente. Durante todo o tempo que eu assistia ao filme "Por trás do céu", eu só conseguia pensar nos filmes de Sterling. Me reportei imediatamente aos anos 90, a um tempo aonde o cinema comovia pela estética. Mas os tempos eram outros, e hoje em dia, o politicamente correto varreu o mundo. Não tem como não pensar em um elenco onde são todos brancos morando em uma caatinga que castiga quem mora ali. Sotaques? Vários, e o único legitimo me pareceu ser o do pernambucano Renato Goes. Mas eu não sou ligado no politicamente correto. Mas uma espectadora do meu lado só falava nisso. Que na caatinga não existiam casas assim. Que a pele da atriz estava mais suave do que modelo de comercial. Que a atriz que interpretava a prostituta tinha botox. Tentei ignorar tudo o que era dito e foquei no filme. Na sua beleza, na sua estética, na sua proposta narrativa. O roteiro ficou confuso. Os vai e vens na trama, me desnorteou. O dono da fazenda ficou mal construído, unidimensional, só estava ali para fazer o papel do malvado. Humanismo? hum...faltou. Em algum momento também me lembrei de " Minha vida de cachorro", de Lasse Hallstrom, por conta do desejo da protagonista querer montar um foguete e ir embora daquela vidinha mais ou menos. A melhor cena do filme, de uma beleza impar, ´no final, com o "lançamento" do foguete. poesia pura. A trama: 4 personagens se encontram no deserto da Paraíba, entre sonhos e frustrações de um passado violento. Nathalia Dill, Emilio Orciollo Netto, Paula Burlamaqui e Renato Goes alternam momentos de drama e humor. Mas o que mais se destaca mesmo no filme, é o visual, que em muitas vezes, suplanta a dramaturgia. Renato Góes é uma ótima revelação, lembrando um pouco o tipo de humor do Edmilson Filho, de "O Shaolin do sertão". Trilha sonora sensacional de Plinio Profeta, que traz uma carga magica `a trama.

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