domingo, 3 de setembro de 2017

A rainha Diaba

"A Rainha Diaba", de Antonio Carlos de Fontoura (1974) Roteirizado por Plinio Marcos e Antonio Carlos de Fontoura, esse clássico do Cinema brasileiro, é, pelas palavras do próprio realizador, um Policial Pop. Pensando que o filme foi rodado em 1973 e lançado no ano seguinte ( Concorreu em Cannes na "Quinzena dos realizadores"), para quem assiste o filme nos dias de hoje, fica praticamente impossível não acreditar que Pedro Almodovar e Tarantino não o tenham assistido em algum Festival ou em dvd e trouxeram muito de sua narrativa, visual e universo cinematográfico para os seus filmes. Não é exagero: esse filme continua muito atual, moderno e com certeza, a ousadia temática e visual na época deve ter sido um verdadeiro escândalo. Inclusive "Cidade de Deus" deve muito a esse filme, tanto pela caracterização de alguns personagens quanto pela linguagem crua e realista da marginalidade da Cidade do Rio de Janeiro. Traficantes, prostitutas, travestis e gigolôs são os personagens desse filme inquietante. Diaba ( que muitos dizem ter se inspirado na figura mítica da Madame Satã, já visto posteriormente no filme homônimo de Karin Ainouz), interpretado magistralmente por um Milton Gonçalves absolutamente diabólico, domina as bocas de fumo de varias áreas da cidade. Quando um de seus "meninos" corre o risco de ser preso, ela pede para um de seus capangas para "criar" um marginal para que seja preso no lugar do seu protegido. Assim surge Bereco (Stepan Nercessian, na flor da juventude, perfeito para o personagem), um cafetão adotado pela cantora de boate Isa (Odete Lara, poderosa e visceral). Todos os caminhos se cruzam para o domínio de pontos de venda, onde não se pode confiar em ninguém. Com fotografia magistral de José Medeiros, em cópia restaurada por Walter Carvalho, e direção de arte e figurino visionários de Angelo de Auqino, é um filme que certamente suscitaria muita discussão, muito por conta dos sub-plots polêmicos: o grupo das travestis, a mulher de malandro, o traficante homossexual. Importante avaliar e pensar o quanto o Cinema dos anos 70 e 80 eram livres e viscerais. O elenco em peso, tanto os protagonistas quanto os coadjuvantes reunindo a fina flor (Wilson Grey, Nelson Xavier, Yara Cortes, Lutero Luiz, Zezé Motta) merecem aplausos, pela entrega fabulosa aos seus personagens. Duas cenas antológicas: a do salão de beleza, com Isa e os travestis, e a cena final de Bereco com Diaba. Trilha sonora suingada, repleta de funk e clássicos da época. A abertura, com créditos iniciais escritos e pintados `a mao ao som de "India", de Paulo Sergio, é fantástica. Um filme obrigatório!

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