terça-feira, 3 de outubro de 2017

Boca de Ouro

"Boca de Ouro", de Nelson Pereira dos Santos (1963) Primeira adaptação cinematográfica da obra de Nelson Rodrigues, lançada em 1963 ( a 2a versão data de 1990 e foi dirigida por Walter Avancini). Curioso constatar a semelhança na estrutura narrativa de "Boca de Ouro", escrita em 1959, e a obra prima de Kurosawa, "Rashomon", lançado em 1950. "Rashomon" narra um mesmo fato por pontos de vista diferentes. Em "Boca de Ouro", acompanhamos 3 pontos de vista totalmente diferentes, narrados por uma mesma personagem. O filme é uma das grandes obras-primas do Cinema brasileiro, e embora adaptado de uma obra teatral, é bastante cinematográfica. Poderia se dizer até que Nelson se apropriou da linguagem do Cinema Neo-realista italiano para apresentar o seu filme: filmado em locações reais no bairro de Madureira, subúrbio do Rio de Janeiro, misturando atores profissionais com não atores e dessa forma, trabalhando com o naturalismo nas performances. Boca de Ouro é um temido bicheiro de Madureira, quase um Deus para a população, que todo o dia bate na sua porta pedindo favores. O filme começa com a noticia sobre a sua morte. Um jornalista, Caveirinha (Ivan Candido) , é incumbido de entrevistar Guiomar, vulgo Guigui (Odete Lara) e procurar saber mais a fundo quem foi Boca de Ouro (Jece Valadão). Guigui é casada com Agenor (Adriano Lisboa), e tem 2 filhas. Ao ser entrevistada, Guigui acaba narrando 3 pontos de vista sobre Boca, sua grande paixão: em cada uma das versões, ela apresenta a relação do casal Celeste ( Maria Lúcia Monteiro) e Leleco (Daniel Filho) com Boca de Ouro de foram distinta. A direção de Nelson Pereira trabalha bem as locações exteriores com os cenários interiores, evitando totalmente a teatralidade. Os atores estão todos antológicos ( cada um interpreta 3 versões diferentes do mesmo personagem, muito foda!!), favorecidos por um texto forte, apresentando personagens femininas imponderadas e que brigam por um espaço no mundo, fazendo dos homens meros joguetes de suas investidas ambiciosas. Trilha sonora de Remo Usai e fotografia de Amleto Daissé, que fotografou clássicos da Atlantida e também a obra-prima "Assalto ao trem pagador". Obrigatório.

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